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O presidente da França, Emmanuel Macron, em coletiva de imprensa em Pequim ao fim de sua visita de três dias à China, 6 de novembro de 2019
O presidente da França, Emmanuel Macron, em coletiva de imprensa em Pequim ao fim de sua visita de três dias à China, 6 de novembro de 2019| Foto: Ludovic MARIN / AFP

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) sofreu "morte encefálica", afirmou o presidente francês Emmanuel Macron em entrevista publicada quinta-feira (7), alertando que a aliança de 29 membros não pode mais coordenar estrategicamente e que a promessa de defesa mútua agora é incerta.

"O que o Artigo Cinco significará amanhã?" o líder francês disse em entrevista à revista The Economist, referindo-se ao artigo do Tratado do Atlântico Norte sobre defesa mútua. "Se o regime de Bashar al-Assad [na Síria] decidir retaliar contra a Turquia, nos comprometeremos com isso? É uma questão crucial".

Os comentários de Macron estão entre os mais pessimistas feitos pelo líder de uma potência europeia da Otan nos últimos anos. Eles seguem anos de críticas do presidente Trump, que adotou o estilo de diplomacia "America First" e condenou publicamente a organização como ultrapassada.

Alguns analistas alertaram que, embora Macron esteja tentando reunir aliados europeus com suas observações, sua declaração pode sair pela culatra. "Isso realmente prejudicará a Otan e poderá ser usado pelos oponentes de Macron, incluindo Trump", escreveu Tom Wright, membro sênior da Brookings Institution, no Twitter.

"Macron está falando como um especialista em política", escreveu Francois Heisbourg, consultor sênior do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. Heisbourg, que assessorou a campanha presidencial de Macron em questões de política de defesa, alertou que tal postura era "bizarra" e "perigosa" para um chefe de Estado.

Os líderes da Otan, incluindo Macron e Trump, devem se reunir em Londres no início do próximo mês para uma cúpula que também marcará o 70º aniversário da fundação da aliança. A cúpula ocorrerá após uma tensão entre a Turquia e outros membros da aliança devido à intervenção de Ankara no nordeste da Síria, em outubro.

Macron também disse que a diplomacia unilateral de Trump com o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan havia minado a aliança da Otan. A intervenção turca no nordeste da Síria começou em outubro, depois que Trump prometeu remover as tropas americanas da área.

A falta de regulamentação central na Otan permitiu esse tipo de movimento unilateral que contraria os interesses de outros membros, disse o presidente francês. "Assim que você tem um membro que sente que tem o direito, concedido pelos Estados Unidos da América, de sair por conta própria, eles o fazem", disse Macron. "E foi o que aconteceu".

Futuro incerto

A Otan foi fundada em 1949 no início da Guerra Fria e, durante grande parte de sua história, foi principalmente um contrapeso ao Pacto de Varsóvia, um tratado de defesa coletivo entre a União Soviética e os países do Bloco Oriental.

No entanto, a aliança sobreviveu à Guerra Fria e descobriu novas razões: em 12 de setembro de 2001, a Otan invocou o Artigo Cinco pela primeira e até agora única vez em sua história depois que os Estados Unidos foram atacados por terroristas da al-Qaeda.

Mas Macron disse que o futuro da organização está mais incerto. "A instabilidade do nosso parceiro americano e o aumento das tensões fizeram com que a ideia de defesa europeia gradualmente se instalasse", disse ele à The Economist.

O presidente francês sugeriu anteriormente uma maior coordenação militar em nível europeu - uma proposta que Trump criticou. Nesta semana, o ministro da Defesa da Alemanha anunciou que seu país alcançaria a meta de investimentos em defesa, estipulada pela Otan, de 2% do PIB até 2031, possivelmente atenuando as críticas de longa data dos EUA de que a Alemanha não contribui o suficiente para a aliança.

"A Otan é e continuará a ser a âncora da segurança europeia. Mas também está claro que a Europa deve aumentar sua própria capacidade complementar de agir", disse Annegret Kramp-Karrenbauer na noite de quarta-feira à agência de notícias Reuters. Ela é a provável sucessora da chanceler alemã Angela Merkel, que deve deixar o cargo em 2021.

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