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Pandemia poderia ter sido evitada, diz relatório que aponta falhas dos países e da OMS
| Foto: Pixabay

A catástrofe global da pandemia de Covid-19 poderia ter sido evitada, concluiu a primeira revisão detalhada sobre a resposta do mundo ao surgimento do novo coronavírus, publicada nesta quarta-feira (12). O documento aponta uma série de falhas iniciais dos países - e também da Organização Mundial da Saúde (OMS) - no combate à nova doença.

O relatório foi elaborado pelo Painel Independente para Resposta e Prontidão à Pandemia (IPPPR), criado no ano passado e composto por 13 membros. O grupo foi instalado pela OMS em resposta ao pedido dos países-membros de uma revisão imparcial sobre as ações iniciais de combate à disseminação do vírus. O documento, chamado "Covid-19: Que essa seja a última pandemia", também teve o objetivo de informar como o mundo pode evitar a próxima crise global de saúde.

Segundo o relatório, os sistemas existentes foram muito lentos para responder aos alertas de um novo vírus respiratório, e muitos países adotaram uma postura de "esperar para ver", no início de 2020, que os deixou incapazes de controlar os surtos em seus territórios.

A falta de preparo deixou os países sem estoque suficiente de itens essenciais, com seus sistemas de saúde sobrecarregados e com populações com poucas opções para se proteger dos contágios, diz o relatório.

Até esta data, o Sars-CoV-2 já causou a morte de mais de 3,3 milhões de pessoas em todo o mundo.

"É gritantemente óbvio que fevereiro de 2020 foi um mês perdido, quando passos podiam e deveriam ter sido dados para limitar a epidemia e impedir a pandemia", afirma o painel independente, que diz ainda que, em muitos casos, as ações de enfrentamento só foram tomadas tarde demais, quando as UTIs já estavam lotadas.

O relatório diz que médicos na cidade chinesa de Wuhan detectaram o novo vírus que estava causando uma doença similar à pneumonia e fizeram alertas no final de 2019, que chegaram rapidamente até a imprensa, países vizinhos e a OMS; mas os sistemas que existem para validar e responder a esses alertas foram muito lentos.

No entanto, o documento não fala sobre as tentativas do governo da China de encobrir e minimizar os riscos do novo vírus, como a censura em redes sociais, a perseguição e punição a médicos que alertavam sobre os riscos da nova doença e a prisão de jornalistas por coberturas que ameaçavam a narrativa oficial sobre a resposta de Pequim.

Falhas da OMS

Houve falhas também da OMS, que demorou para declarar que o surto era uma "emergência de saúde pública de âmbito internacional". Segundo o painel independente, o surto em Wuhan já reunia os critérios para ser declarado uma emergência internacional na primeira reunião do Comitê de Emergência da OMS, em 22 de janeiro de 2020. Mas essa declaração seria feita pelo organismo apenas em 30 de janeiro.

Porém, mesmo depois que a emergência de saúde internacional foi declarada, os países não responderam com agilidade. "Na ausência de certeza sobre a seriedade das consequências desse novo patógeno, a abordagem de 'esperar para ver' pareceu uma escolha menos custosa do que a ação de saúde pública articulada".

Além disso, a OMS poderia ter alertado o mundo mais cedo sobre a transmissão do novo coronavírus entre humanos, segundo os especialistas. "Embora a OMS tenha aconselhado sobre a possibilidade de transmissão entre humanos no período até que ela fosse confirmada, [...] na visão do painel, a OMS poderia também ter dito aos países que eles deveriam ter a precaução de presumir que a transmissão de humano para humano estava ocorrendo".

As Regulações Internacionais de Saúde (IHR), que determinam as ações da OMS, atrasaram a resposta à crise. Para os especialistas, essas normas são um instrumento que servem mais para restringir do que facilitar ações rápidas da entidade.

Embora o relatório tenha apontado falhas na resposta à pandemia em todos os níveis, da OMS a cada país, ele perdeu a oportunidade de confrontar a má administração da China no início da pandemia, disse Lawrence Gostin, diretor do Instituto de Direito de Saúde Nacional e Global da Georgetown University. "O painel independente tinha a oportunidade de dar à OMS cobertura política para apontar nomes, para identificar as falhas honestamente onde elas ocorreram, e ele não fez isso", disse Gostin à Science.

Como evitar a próxima pandemia

Entre as recomendações do painel de especialistas para que o mundo se saia melhor na próxima crise sanitária está a proposta de uma reforma completa no sistema de prevenção de pandemias, incluindo a criação de um conselho de saúde global, semelhante ao Conselho Nacional de Segurança, da ONU. O grupo propõe também mais recursos e poder à Organização Mundial da Saúde.

O painel propôs também que a OMS tenha poder para investigar novos patógenos em todos os países, com acesso sem entraves aos locais relevantes. Para que isso aconteça sem que a soberania dos países seja violada, será preciso um acordo internacional. Um pacto semelhante existe para a Agência Internacional de Energia Atômica, disse o panelista Mark Dybul, da Georgetown University. "Nós pensamos que o mundo deveria reconhecer que uma ameaça pandêmica é tão grande quanto uma ameaça nuclear", disse o especialista à Science.

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