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E-mails revelam "segredos" de Assad

Com cada um de seus gestos e declarações públicos sob o olhar atento da comunidade internacional há cerca de um ano, o presidente da Síria, Bashar Al-Assad, aparentemente teve agora parte de sua intimidade, e de sua forma de governar, revelada. Isolado, buscou conselhos com membros do governo do Irã, assistiu uma reencenação da tomada de Homs feita com bonecos e biscoitos, conseguiu um laranja para baixar músicas no iTunes e foi convidado pela filha do emir do Qatar a se exilar em Dubai.

É o retrato que resulta de milhares de e-mails obtidos pelo jornal britânico The Guardian junto a membros da oposição sírias. Segundo a reportagem, publicada ontem, a autenticidade foi checada com dez pessoas identificadas nas correspondências, mas não foi possível confirmá-la para todas as mensagens.

Os rebeldes, segundo a reportagem, teriam conseguido invadir as caixas de email de Assad e de diversas pessoas do seu círculo próximo. Assim, soube-se que sua mulher gastou 10 mil libras (o equivalente a R$ 28,3 mil na cotação de hoje) em lustres, candelabros e mesas adquiridas da França — além de encomendar um serviço de fondue à Amazon.

Medo e lealdade. Essa é a fórmula que, segundo analistas, tem permitido ao ditador Bashar As­­sad se manter no poder, mesmo após um ano de manifestações contra seu governo e mais de 8 mil mortes.

Medo das minorias sírias, que não aderiram ao movimento contra o regime – também de minoria alauita – por se sentirem protegidas, e da comunidade internacional de trazer mais instabilidade ao tabuleiro que inclui Israel, Iraque, Irã e Líbano.

"Muitos dos grupos minoritários – cristãos, drusos, curdos – se preocupam com o que poderia acontecer se a maioria sunita assumisse. Então eles não se uniram à oposição", observa o especialista Robert Danin, do Council on Foreign Relations. Esses grupos representam um quarto da população do país.

A lealdade do Exército e das forças de segurança, que evitaram uma deserção em massa, co­­mo ocorreu na Líbia, também tiveram um peso fundamental.

"Ao contrário dos que caíram, Assad tem forças de segurança muito fortes, formadas para proteger o regime e não o país", diz Abdel Bari Atwan, editor do jornal árabe Al-Quds Al-Arabi, em Lon­­dres.

O sírio Amr al-Azm, professor da Shawnee State University, em Ohio, que se declara ativista da oposição, acredita que a falta de uma forte liderança contra Assad e do que chama "fator Benghazi" – um território onde a oposição se organize – também foram determinantes para a permanência do ditador.

"A oposição não será capaz de construir uma força militar para derrubar o regime, mas pode se armar para afetar a capacidade das forças de segurança", avalia.

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