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O candidato presidencial Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, cumprimenta eleitores durante votação em escola eleitoral de Assunção, no Paraguai | JORGE SAENZESTADÃO CONTEÚDO
O candidato presidencial Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, cumprimenta eleitores durante votação em escola eleitoral de Assunção, no Paraguai| Foto: JORGE SAENZESTADÃO CONTEÚDO

O ex-senador Mario Abdo Benítez, 46, do Partido Colorado (direita), foi eleito presidente do Paraguai neste domingo (22).

Homônimo de seu pai, braço direito do ditador Alfredo Stroessner (1912-2006), ele tinha 46,6% dos votos com 90% das urnas apuradas (até as 21h30 de Brasília), contra 42,7% de Efraín Alegre, do Partido Liberal (centro), que fez aliança com a Frente Guasú (esquerda), do ex-presidente Fernando Lugo. 

Por volta das 22h10, o Tribunal Superior da Justiça Eleitoral paraguaio declarou a disputa presidencial irreversível. 

Marito, como é conhecido, também conseguiu menos da metade dos eleitores -no Paraguai não há segundo turno. 

O candidato defendeu a continuidade das políticas econômicas do presidente Horacio Cartes, junto com uma agenda conservadora alinhada com seu movimento, o Colorado Añetete (verdadeiro, em guarani). 

Propôs o serviço militar obrigatório para filhos de mães solteiras como forma de diminuir a insegurança e o consumo de drogas e se colocou contra a legalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em um país com 96% da população cristã. 

Porém, amenizou o discurso sobre corrupção para não atingir Cartes e outros colorados envolvidos em processos. No campo da campanha, priorizou os discursos em vídeos sociais em vez de entrevistas e debates, para as críticas de Alegre, que se expunha mais aos jornalistas. 

O liberal também teve propostas mais concretas, como a redução da tarifa de energia e a construção de infraestrutura para usar a parte vendida a Brasil e Argentina das usinas hidrelétricas de Itaipu e Yacyretá; a saúde pública gratuita e o imposto sobre o tabaco. 

Salvo as propostas mais polêmicas, o colorado teve um programa de governo menos detalhado em todas as áreas. Sobre política externa, só pronunciou-se neste domingo, com as perguntas dos jornalistas internacionais no café da manhã antes da votação. 

Ele disse que priorizará a abertura do Mercosul a outros países do mundo. “O Mercosul tem um potencial ainda não desenvolvido à profundidade que eu gostaria. Nós vamos continuar aprofundando os laços com os países do bloco e abrirmos ao mundo.” 

Também prestou solidariedade aos venezuelanos pela crise e disse que continuará com o tom crítico da administração de Cartes contra o regime de Nicolás Maduro. 

“Sempre fui crítico à condução política da Venezuela. Minha solidariedade com esse grande povo, que em um momento foi o farol democrático da América Latina e que tem que recuperar seu caminho democrático.” 

Marito tinha a seu favor a capacidade de mobilização do Partido Colorado, que lhe rendeu comícios com milhares de pessoas, e o apoio do empresariado, a começar pela família do presidente, maior produtora de tabaco do país. 

Também contou a seu favor a ligação de Efraín com a Frente Guasú, embora o liberal tenha tentado diminuir a influência dos esquerdistas em temas como as políticas econômica e externa, o que aproximou as propostas dos dois lados. 

Segundo a Justiça Eleitoral, o comparecimento na eleição foi de 64%, quatro pontos superior ao registrado em 2013, quando Cartes venceu Alegre. Cerca de 4,2 milhões de paraguaios estavam aptos a votar, incluindo cerca de 300 mil cadastrados em EUA, Espanha, Argentina e Brasil. 

Marito nasceu em 10 de novembro de 1971, na época em que o pai trabalhava para Stroessner. Estudou a infância e a adolescência no Colégio San Andrés, um dos melhores de Assunção. Em 1999, último ano da ditadura, uniu-se às Forças Armadas, tornando-se paraquedista. 

Empresário do setor asfáltico, aderiu à política em 2005. Tornou-se vice-presidente do Partido Colorado e, sete anos depois, elegeu-se senador. Foi presidente do Congresso entre 2015 e 2016, ao mesmo tempo em que fomentava seu projeto de buscar a Presidência. 

Na campanha, preferiu omitir a defesa aberta da ditadura que marcou sua carreira. Reiterava que defendia um regime democrático e se irritava com menções ao assunto, como a feita por um jornalista antes de votar. “Crítica ridícula”, disse, cortando a pergunta. 

Apesar da mudança de posição, ele manteve um ritual. Logo depois de votar foi com a família visitar o mausoléu do pai, como fez em todas suas campanhas por diferentes cargos. 

Desafios

O próximo presidente do Paraguai assumirá em 15 de agosto um país com a economia crescendo cerca de 4% por ano, mas sem reduzir a pobreza e a desigualdade, e um tenso ambiente político. 

Em quase cinco anos de governo, Horacio Cartes usou o lado negociante para atrair investimentos e compradores para a soja e a carne, principais produtos agropecuários paraguaios. 

O resultado foi a manutenção do crescimento econômico apesar da crise financeira na Argentina e no Brasil, dos quais se tornou menos dependente. Com as chegadas de Mauricio Macri e Michel Temer ao poder, pôde retomar as negociações de acordos no âmbito do Mercosul. 

O país aumentou as importações e incentivou o consumo ao facilitar o crédito para a compra de veículos, eletrônicos e eletrodomésticos. 

O boom econômico, porém, evidenciou os problemas da infraestrutura. As construções de vias rurais e urbanas e linhas de transmissão e energia não foram suficientes para evitar os engarrafamentos nas estradas, em sua maioria de pista simples, e os apagões. 

Outra dívida que Cartes deixa é em relação a sua maior promessa em 2013, a redução da pobreza. Apesar da facilidade de crédito e da redução do deficit habitacional, a parcela de pessoas abaixo da linha caiu 1,6 ponto percentual de 2013 a 2017, passando de 28% para 26,4% da população. 

Ele mesmo reconheceu o descumprimento da promessa ao votar neste domingo em Assunção. 

“Não pudemos reduzir a pobreza, apesar da riqueza que temos no país. Sempre há dívidas sociais.” 

Cartes renunciará ao cargo em 1º de julho para assumir uma vaga no Senado.

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