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Retaliações diplomáticas marcam os primeiros dias após o impeachment de Fernando Lugo, que disse ter sofrido um golpe de estado | Jorge Adorno/ Reuters
Retaliações diplomáticas marcam os primeiros dias após o impeachment de Fernando Lugo, que disse ter sofrido um golpe de estado| Foto: Jorge Adorno/ Reuters

Cenário

Impeachment agita partidos políticos do Paraguai

A destituição do ex-bispo Fernando Lugo movimenta os bastidores políticos do Paraguai para as próximas eleições presidenciais, marcadas para abril de 2013. Anúncios com nomes de pré-candidatos já fazem parte do cenário de Assunção.

Um deles é o ex-general Lino Cesar Oviedo, derrotado nas eleições de 2008. Candidato pela União Nacional dos Cidadãos Éticos (Unace), partido que fundou, Oviedo diz que Lugo foi derrubado do poder porque não soube lidar com o parlamento. "Uma das primeiras coisas que Lugo fez foi brigar com o vice-presidente e os liberais. Na democracia é difícil governar sem apoio do congresso", afirma.

Oviedo já confirmou sua participação na disputa para eleições de 2013, e atualmente percorre o país para se aproximar dos eleitores. Ainda concorrem o Partido Colorado, que quer voltar ao poder depois de uma hegemonia de 61 anos quebrada por Fernando Lugo nas eleições de 2008, e o Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), do atual presidente Franco. Os partidos de esquerda devem fazer uma aliança para lançar um nome.

Lugo diz que sofreu golpe e vai concorrer ao Senado

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  • Lino Oviedo já confirmou participação nas eleições de 2013

Além da negativa repercussão internacional, o Paraguai começa a sentir diretamente as consequências do histórico – e rapidíssimo – impeachment do ex-presidente Fernando Lugo.

Os primeiro revés foi a suspensão do país do Mercosul (Mercado Comum do Sul) e da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) até as eleições presidenciais previstas para abril do ano que vem.

O encontro que decidirá o destino imediato do Paraguai está marcado para a próxima sexta, durante reunião do Mercosul, na Argentina. O Paraguai deve ficar de fora, embora seu novo chanceler já tenha dito que quer ir e explicar a crise em seu país. Enquanto isso, o presidente destituído do Paraguai, Fernando Lugo, anunciou que vai à reunião.

Outro golpe foi o anúncio feito pelo governo da Venezuela. O presidente Hugo Chávez disse que irá interromper o envio de petróleo ao Paraguai. Chávez ordenou ainda a retirada do embaixador venezuelano em Assunção – Brasil, Argentina e Uruguai também convocaram seus diplomatas instalados na capital.

"Vamos suspender o envio de petróleo, porque não vamos apoiar de forma alguma esse golpe de Estado. A partir deste instante, o ministro (Rafael) Ramírez tem ordens para cessar o envio de petróleo para o Paraguai – afirmou Chávez durante comemoração do Dia do Exército em seu país".

O governo paraguaio, entretanto, afirma que não há motivo para alarme. Sergio Escobar, presidente da Petropar – a petroleira estatal do Paraguai –, disse que o país conta com 130 mil metros cúbicos de combustível em estoque, o que garantiria uma provisão por dois meses. Ao jornal paraguaio ABC, Escobar afirmou que o petróleo comprado da PDVSA, a estatal venezuela, representa cerca de 30% do mercado paraguaio.

Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e Cuba já disseram não reconhecer o novo governo paraguaio. Peru e México questionaram a rapidez do processo de destituição de Lugo, mas o México reconheceu a legalidade do processo. Um pouco mais distante, o Canadá se limitou a dizer que Lugo aceitou a sua saída e pediu calma no Paraguai, enquanto a Espanha afirmou que todos os procedimentos democráticos devem ser respeitados.

"Rito sumário"

Após a reunião ontem à noite no Palácio da Alvorada, o Itamaraty divulgou uma nota condenando o "rito sumário" que culminou com o impeachment e convocou, para consultas, o embaixador do Brasil em Assunção, Eduardo dos Santos.

Não foi usada a palavra "golpe" no comunicado do Ministério de Relações Exteriores porque o processo ocorreu dentro da lei.

Ruralistas defendem novo presidente

Denise Paro e Christian Rizzi, enviados especiais

Embora não tenha agradado o governo brasileiro, a troca de comando no Paraguai foi bem recebida pelo setor ruralista e os chamados brasiguaios – imigrantes brasileiros que residem no Paraguai. Uma das primeiras medidas dos produtores foi suspender um tratoraço que seria realizado a partir de hoje em todo país.

Outra iniciativa do setor é apoiar oficialmente o novo presidente. Ex-prefeito do município de San Alberto, a 80 quilômetros da fronteira de Foz do Iguaçu, o brasiguaio Romildo Maia estará hoje no Consulado Brasileiro em Ciudad del Este para convesar com o cônsul Flavio Roberto Bonzanini. Ele irá solicitar que o Brasil reconheça o governo de Federico Franco. São cerca de 600 mil brasiguaios no Paraguai, que representam 90% da produção e exportação de soja do país.

Os empresários e produtores brasileiros esperam do novo presidente segurança no campo e garantias jurídicas. Eles dizem que a justiça no país não é imparcial. "Os produtores precisam de confiança e segurança jurídica por parte do governo", diz o empresário e produtor rural Jair Frasson, de Assunção.

Há 33 anos no Paraguai, Frasson destaca o potencial do país. Com 6,5 milhões de habitantes, o Paraguai é o 5o maior exportador de graõs do mundo, o 6o. maior exportador de carne e sócio de duas das hidrelétricas que estão entre as 10 maiores, a Itaipu Binacional e Yacyretá. No entanto, os produtores não entendem porque ainda há disparidade e miséria, diante de índices considerados positivos.

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