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Aviões suecos parados: caos começa a prejudicar a economia europeia | Johan Nilsson/AFP
Aviões suecos parados: caos começa a prejudicar a economia europeia| Foto: Johan Nilsson/AFP

Pé-frio

Empresário de Irati que viveu terremoto no Chile enfrenta segundo caos aéreo em dois meses

Osny Tavares

O empresário Avonir Funes começa a desconfiar que, tal qual um Forrest Gump de Irati, está destinado a sair da cidade pequena para testemunhar os grandes acontecimentos da história.

O empresário do setor moveleiro é "veterano" do terremoto que atingiu o Chile em 27 de fevereiro, e ficou vários dias preso em Santiago por causa da interrupção no tráfego aéreo provocada pelo tremor. Menos de dois meses depois, Avanir enfrenta situação semelhante na Itália, cujo tráfego aéreo sofreu restrições após a erupção de um vulcão na Islândia.

Avonir foi para Milão participar do Salão Internacional do Móvel.

Ao tentar retornar, no sábado, descobriu-se mais uma vez preso em terra estrangeira. "O clima aqui na Itália, em relação ao Chile, é praticamente de férias", compara. "O medo que passei durante o terremoto chileno, sem comida, transporte ou informação, foi terrível", relembra.

Tentando retornar ao Brasil, o empresário fechou a conta do hotel em Milão e tomou um trem em direção a Roma. A capital italiana, localizada no sul do país, não foi afetada pela nuvem de cinzas. "A parte mais emocionante foi esta. Após o trem ficar parado dentro de um túnel, quase se chocou com outro que vinha na contramão", diverte-se.

Avonir perdeu o voo que partia de Roma, e ontem passaria a noite no aeroporto. "Estão todos tentando faturar em cima. A passagem para o Brasil passou a custar 2 mil euros (o dobro do normal)", reclama.

  • Aviões da Lufthansa no aeroporto de Frankfurt: Alemanha é um dos países mais afetados pela nuvem de cinzas

O prejuízo conjunto de mais de US$ 200 milhões que as companhias europeias estão enfrentando por dia desde o início do caos aéreo, estimado pela Associação Internacional de Transporte Aé­­reo (Iata, na sigla em inglês), se re­­fere mais à interrupção da atividade do que à acomodação de passageiros, de acordo com analistas do setor.

Isso porque, apesar de muitas empresas estarem atendendo seus clientes que já estavam em trânsito com o pagamento de diárias de hotel e alimentação, a maioria dos contratos de venda de bilhete aéreo prevê que a responsabilidade por problemas de causa meteorológica e ambiental é do próprio passageiro.

As companhias insistiam on­­tem com as autoridades aeronáuticas para voltar a operar, já que aquilo que estão desembolsando a mais, somado ao que estão deixando de ganhar, em geral não é coberto por apólices de seguro.

"As seguradoras (em geral) não cobrem a paralisação da atividade. Cobririam no caso de um acidente" em decorrência da nuvem de cinzas, disse o especialista do transporte aéreo Mauro Martins à Gazeta do Povo.

Este é mais um problema en­­frentado por um setor já em crise. "O impacto financeiro (da paralisação) é grande porque as empresas operam com margens muito pequenas. Este é um setor que tem prejuízo há muitos anos", disse o sócio da Bain & Company André Castellini à reportagem.

Ainda que os voos sejam retomados na quinta-feira, conforme previsto ontem, a semana de pa­­ralisação deve trazer um impacto importante inclusive à economia do bloco europeu. "Se isso for demorar, significaria de fato um transtorno muito sério à vida econômica da Euro­­pa", disse o co­­­missário Karel De Gucht.

"Atrasa a recuperação da crise no mundo todo", prevê ainda o diretor da Multiplan Consultores Aeronáuticos, Paulo Sampaio, em entrevista à Gazeta. "É uma interrupção de operação muito grande, que corresponde a uma greve parcial", diz.

A quebra de empresas aéreas, no entanto, está fora de questão. "Os governos estão muito paternalistas após a crise de 2008. Qual­­quer aérea com problema de caixa receberá ajuda com certeza", diz o consultor Mauro Martins.

Um indicativo disso foi dado pela equipe executiva da União Europeia, que afirmou ontem que avalia a possibilidade de abrandar as regras de ajuda estatal para auxiliar as companhias aéreas atingidas por prejuízos na casa dos milhões de euros.

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