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O presidente russo, Vladimir Putin, e o ditador chinês, Xi Jinping, em encontro pouco antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, no início de fevereiro
O presidente russo, Vladimir Putin, e o ditador chinês, Xi Jinping, em encontro pouco antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, no início de fevereiro| Foto: EFE/EPA/ALEXEI DRUZHININ/KREMLIN/SPUTNIK

Os anúncios de sanções econômicas do Ocidente contra a Rússia, iniciados após o reconhecimento de Moscou das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk e intensificados depois da invasão à Ucrânia, gera dúvidas sobre a capacidade do país sobreviver economicamente a essas restrições.

Desde as sanções de 2014, a última vez em que a Rússia havia atentado contra a soberania ucraniana, ao anexar a Crimeia e apoiar os separatistas em Donbass, o presidente Vladimir Putin criou estratégias para diminuir o impacto dessas medidas sobre o país, mas a China, segunda maior economia do mundo e sua parceira estratégica, é considerada por alguns a grande carta na manga. Mas o gigante asiático seria capaz de compensar o fechamento de mercados no Ocidente?

Segundo reportagem do New York Times, a China já compra da Rússia mais petróleo do que adquire da Arábia Saudita e acertou recentemente a importação de 100 milhões de toneladas de carvão russo (no valor de mais de US$ 20 bilhões) e a compra de trigo produzida no país com o qual faz fronteira no leste asiático.

No início de fevereiro, pouco antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, o ditador do país asiático, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, anunciaram que vão intensificar a cooperação entre os dois países. Xi afirmou na ocasião que ambos enfrentarão juntos as “ingerências externas e as ameaças à segurança regional”, enquanto o russo destacou que a China é o parceiro estratégico “mais importante e um amigo próximo” de Moscou.

Porém, embora o comércio bilateral entre os dois países tenha atingido em 2021 um recorde de mais de US$ 146 bilhões, as transações da Rússia com a União Europeia totalizaram bem mais, quase US$ 220 bilhões no ano passado.

Fala-se muito da dependência da União Europeia do gás natural russo, que representa 40% das suas importações do produto, mas é uma dependência de mão dupla, já que a China não compra a mesma quantidade e paga mais barato.

“A China ainda não está em condições de substituir inteiramente a União Europeia como parceiro (russo)”, apontou Eugene Chausovsky, pesquisador do think tank Newlines Institute, em artigo publicado no site Foreign Policy.

Ele destacou que o aumento das exportações de energia para a China exigiria um investimento de dezenas de bilhões de dólares em infraestrutura. Além disso, “a Europa atualmente paga preços muito mais altos pelo gás natural russo por meio de mercados spot do que a China por meio de seu contrato de 30 anos com a [estatal russa] Gazprom, assinado em 2014, pouco antes do conflito original na Ucrânia”, acrescentou Chausovsky.

Na questão da invasão à Ucrânia, embora tenha criticado as sanções, a China não tem apoiado diretamente a ofensiva da Rússia – na sexta-feira, Pequim se absteve numa votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas em que uma resolução para condenar a operação foi vetada pela própria Rússia.

“[O apoio econômico e financeiro chinês à Rússia] não significa que a China apoie diretamente em qualquer grau o expansionismo russo – significa apenas que Pequim sente fortemente a necessidade de manter e impulsionar a parceria estratégica com Moscou”, disse Shi Yinhong, professor de relações internacionais da Universidade Renmin, em Pequim, ao New York Times.

Nessa linha, é importante destacar que o comércio da China com os Estados Unidos e a União Europeia somou cerca de US$ 1,6 trilhão no ano passado, mais de dez vezes mais do que entre chineses e russos. Ou seja: Pequim pode estar receosa de que as sanções contra Moscou respinguem nela se apoiar claramente o grande pária da geopolítica do momento.

“A China não quer se envolver tanto a ponto de ser prejudicada como resultado de seu apoio à Rússia”, afirmou Mark Williams, economista-chefe da Capital Economics para a Ásia, à Associated Press. “Tudo depende de se eles estão dispostos a arriscar seu acesso aos mercados ocidentais para ajudar a Rússia, e não acho que estejam. Não é um mercado tão grande.”

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