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"Aqui também tem pobreza", diz brasileira

Chêne Bourg – Sem carro oficial, segurança ou qualquer outra regalia. Assim é a vida da prefeita da cidade de Chêne-Bourg, Beatriz de Candolle, uma carioca de 57 anos e que concorre a um lugar no Parlamento Federal nas eleições gerais da Suíça neste domingo. "A Suíça não é mais o país do chocolate, dos milionários e do ouro. Aqui também há problemas sociais e, eu diria, até pobreza", diz a prefeita, do Partido Liberal. Beatriz chegou à Suíça com apenas 16 anos para estudar. Acabou ficando, se casou com um suíço e teve três filhos. Desde 1995 participa da política local e, agora, quer passar para a esfera federal. Sua plataforma: a garantia de proteção à educação, família e meio ambiente.

Ela faz questão, porém, de mostrar que ser político na Suíça não é uma profissão. "A carreira política no país não tem qualquer comparação com a atividade no Brasil. Não ganhamos salários. Apenas uma compensação por dedicar nosso tempo aos assuntos públicos. Além disso, o valor da compensação é baixo para não criar nenhum incentivo financeiro para que alguém queira ser político profissional", explica.

Beatriz prefere evitar entrar na polêmica causada pelas acusações de racismo na campanha do partido de extrema direita, o UDC. O partido gerou uma indignação até da ONU ao colocar pelas cidades suíças um cartaz com ovelhas brancas expulsando do país uma ovelha negra.

Chêne-Bourg – No website do partido mais popular da Suíça – União Democrática do Centro (UDC), um videogame é oferecido aos cidadãos que queiram conhecer a campanha para as eleições gerais no país que ocorrem neste fim de semana. O jogador assume o papel de uma cabra – símbolo do partido – que precisa proteger um cenário alpino paradisíaco contra ovelhas negras que tentam entrar no local. Com golpes de chifres, a cabra consegue expulsar algumas ovelhas negras e proteger as brancas. Mas com a chegada de ônibus inteiros com ovelhas negras não há como controlar a entrada.

O partido também estampou pôsters e distribuiu panfletos nas caixas de correio dos moradores mostrando três carneiros brancos sob uma bandeira suíça, dando um pontapé num carneiro negro. Ao lado, a inscrição: "Por mais segurança".

Será em meio a esse clima que os suíços vão neste fim de semana às urnas, em uma eleição geral marcada pelo debate sobre a imigração e a segurança. Para muitos, o que ocorre é uma verdadeira crise de identidade em um país conhecido por sua estabilidade, neutralidade e ainda por valores democráticos.

O SVP, com suas mensagens nacionalistas e propostas para restringir a entrada aos imigrantes, acabou impondo os temas na agenda política do país e deve ganhar as eleições com 27% dos votos. A campanha não está mexendo apenas com os suíços. No exterior, jornais e políticos não escondem a surpresa com a nova política suíça. Para o jornal The Independent, a Suíça se transforma no "coração tenebroso da Europa" e é apenas um sinal do caminho que seguirá o continente nos próximos anos diante do fortalecimento dos movimentos xenófobos.

Seja qual for o resultado, porém, a realidade é que o debate nas últimas semanas criou um mal-estar na até então pacata Suíça, com enfrentamentos nas ruas, violência e mesmo críticas da ONU. O partido de ultradireita, liderado pelo bilionário Cristoph Blocher, acabou forçando que entidades e cidadãos declarassem explicitamente sua posição sobre temas como racismo, algo que nem todos estavam preparados para enfrentar.

A Organização Internacional de Migração (OIM) nega que a Suíça não precise de imigrantes. Prova disso é que um dos candidatos do SVP acabou se tornando o centro de uma polêmica há poucos meses ao se descobrir que ele estava empregando poloneses ilegais na colheita de sua fazenda.

"A economia suíça precisa de mão-de-obra. Hoje, há uma falta tanto de trabalhadores especializados como de gente para coletar lixo, limpar casas e atuar na construção civil", afirmou Jean Phillip Chauzy, porta-voz da entidade ligada à ONU.

Quase 22% dos 7,5 milhões de habitantes da Suíça são estrangeiros. Já o SVP faz questão de relacionar esses dados também com o fato de 70% das prisões serem ocupadas no país por estrangeiros. "O racismo está em alta", constata o senegalês Gorgui Wade Ndoye Elhadj, que chegou há oito anos do Senegal para fazer seu mestrado e acabou ficando no país.

Se vencer e ampliar o número de lugares no Parlamento Federal, o SVP pretende adotar algumas das leis mais duras contra imigrantes em toda Europa, o que vem assustando a ONU e gerando críticas sobre o racismo existente no país pelos relatores da entidade.

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