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O presidente dos EUA, Donald Trump, em cerimônia em Fort Myer, Virginia, 30 de setembro de 2019
O presidente dos EUA, Donald Trump, em cerimônia em Fort Myer, Virginia, 30 de setembro de 2019| Foto: Brendan Smialowski / AFP

A Câmara dos Deputados dos EUA está conduzindo uma investigação para um processo de impeachment do presidente Donald Trump, após uma denúncia de que Trump teria pressionado um líder estrangeiro para ganhos políticos pessoais.

A denúncia cita uma conversa telefônica de 25 de julho na qual Trump pediu ao presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, para investigar Joe Biden, um dos pré-candidatos democratas favoritos para desafiá-lo em 2020, e seu filho, Hunter, que fez parte do conselho de uma empresa de gás da Ucrânia.

Democratas acusaram Trump de pressionar um aliado vulnerável dos EUA para obter informações comprometedoras sobre um adversário político e obter uma vantagem pessoal. O telefonema de 25 de julho ocorreu depois de Trump congelar quase US$ 400 milhões em ajuda concebida para auxiliar a Ucrânia a lidar com uma insurgência de separatistas apoiados pela Rússia no leste do país. A ajuda foi concedida mais tarde.

A Comissão de Inteligência da Câmara, de maioria democrata, está comandando o inquérito de impeachment, que pode levar à aprovação de "artigos de impeachment" contra o presidente republicano e a um julgamento subsequente no Senado, de maioria republicana, para se decidir se Trump deve ser retirado do cargo.

Saiba quem são algumas das principais figuras relacionadas ao caso:

Volodimir Zelensky

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (esq.), e o presidente dos EUA, Donald Trump, em encontro em Nova York, 25 de setembro de 2019, às margens da Assembleia Geral da ONU
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (esq.), e o presidente dos EUA, Donald Trump, em encontro em Nova York, 25 de setembro de 2019, às margens da Assembleia Geral da ONU| SAUL LOEB / AFP

Presidente da Ucrânia, eleito em abril de 2019. Famoso por suas imitações de políticos, o comediante era considerado um azarão na corrida presidencial, mas a onda antissistema que percorre todo o globo fez com que ele conquistasse não só a presidência, mas também um legislativo a seu favor.

Foi o telefonema de Trump a Zelensky o motivo pelo qual os democratas decidiram abrir um processo de impeachment contra o presidente americano. Trump ligou para o mandatário ucraniano em 25 de julho para cumprimentá-lo pela eleição parlamentar e, segundo a transcrição divulgada pela Casa Branca, aproveitou para pedir a Zelensky que investigasse a atuação do democrata Joe Biden, um dos favoritos para ser adversário de Trump na disputa presidencial de 2020, na demissão do procurador-geral da Ucrânia em 2016.

Zelenzky garantiu a Trump que o próximo procurador-geral do país seria uma pessoa indicada por ele e que daria uma atenção ao caso da família Biden. Ele negou que tenha sido pressionado por Trump.

"Não podemos receber ordens para fazer nada. Somos um país independente”, disse Zelensky a jornalistas na segunda-feira (30). “Estamos abertos, estamos prontos para investigar (mas) isso não tem nada a ver comigo. Nossas agências de aplicação da lei independentes estão prontas para investigar qualquer caso em que a lei tenha sido violada”.

O Denunciante

Em uma denuncia anônima, um funcionário - ou uma funcionária - da inteligência americana afirmou que o presidente usou seu cargo para obter ganhos pessoais e que funcionários não identificados da Casa Branca tentaram esconder esse fato. Ele cita o telefonema de Trump com Zelensky como uma das provas que sustentariam sua alegação.

Sua identidade continua anônima, mas Trump está pressionando para saber quem ele (ou ela) é. Confira a denúncia aqui.

O denunciante deve prestar depoimento em breve à Câmara dos Deputados dos EUA. O presidente da Comissão de Inteligência da Câmara, o democrata Adam Schiff, disse no domingo que o autor da denúncia contra o presidente deverá ser ouvido "muito em breve" pelo comitê, sem especificar quando.

Joe Biden

Joe Biden, pré-candidato à presidência dos EUA pelo partido Democrata nas eleições de 2020, discursa em Wilmington, Delaware, 24 de setembro de 2019
Joe Biden, pré-candidato à presidência dos EUA pelo partido Democrata nas eleições de 2020, discursa em Wilmington, Delaware, 24 de setembro de 2019| Olivier Douliery / AFP

Ex-vice-presidente dos Estados Unidos, na administração de Barack Obama. É o candidato democrata com mais chances de enfrentar Trump nas eleições presidenciais de 2020.

Trump alega que Biden, em 2015, pressionou o governo ucraniano a demitir Viktor Shokin, o procurador-geral da Ucrânia, porque ele estava investigando a maior empresa privada de gás da Ucrânia, a Burisma, que havia adicionado o filho de Biden, Hunter, ao seu conselho em 2014. Por isso Trump pediu que a Ucrânia investigasse os casos envolvendo a família.

Biden, de fato, pressionou pela saída de Shokin, assim como muitas autoridades ocidentais, já que o procurador-geral foi amplamente criticado por não investigar esse e outros casos de corrupção no país.

Em uma aparição em 2018 no Conselho de Relações Exteriores, Biden se gabou de seu papel na remoção de Shokin, dizendo que havia retido US$ 1 bilhão em garantias de empréstimos à Ucrânia como alavanca para forçar a demissão. Mas Biden estava falando sobre uma política desenvolvida no Departamento de Estado e coordenada com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.

Hunter Biden

Filho de Joe Biden. Ocupou uma cadeira no conselho da Burisma de 2014 a 2019, ganhando US$ 50 mil por mês.

Ele nunca foi investigado na Ucrânia, mas pode-se levantar questões sobre a decisão dele de ingressar no conselho de Burisma em uma época em que seu pai teve um papel de destaque na diplomacia com o governo da Ucrânia.

Yoshiko M. Herrera, professora de ciência política da Universidade de Wisconsin em Madison e especialista em Rússia e Eurásia, defende que há um conflito de interesses, mesmo que nenhuma lei tenha sido violada. “É um grande negócio. É o vice-presidente, que é a pessoa principal da política do governo Obama na Ucrânia, e seu filho é subitamente contratado para ser diretor do conselho do maior produtor privado de gás da Ucrânia".

Burisma

A maior empresa privada de gás da Ucrânia. Começou a ser investigada por corrupção em 2014, depois da queda do então presidente ucraniano, Viktor Yanukovych (pró-Rússia). As suspeitas recaíam sobre um dos fundadores da Burisma, Mykola Zlochevsky, que também já havia sido ministro da Ecologia entre 2010 e 2012. Mas essa investigação fazia parte de um inquérito de corrupção muito mais abrangente, centrado em outro empresário ligado ao governo de Yanukovych: Serhiy Kurchenko, que possuía um grupo de empresas do setor de gás. Kurchenko foi acusado de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e roubo de bens do Estado. Os processos se referem a casos de corrupção anteriores à chegada de Hunter Biden no conselho da empresa.

Viktor Shokin

Foi nomeado procurador-geral da Ucrânia em fevereiro de 2015, cargo que ocupou até abril de 2016. Assumiu os processos da Burisma e outros casos de corrupção, mas foi amplamente criticado por potências ocidentais e ONGs por não levá-los adiante durante o tempo que esteve no cargo.

"Shokin não estava investigando. Ele não queria investigar a Burisma", disse Daria Kaleniuk, do Centro de Ação Anticorrupção da Ucrânia, ao Washington Post em julho. "E Shokin foi demitido não porque ele queria fazer essa investigação, mas pelo contrário, porque ele falhou nessa investigação”.

Shokin foi afastado do cargo três meses depois que Biden viajou para Kiev para pressionar pela demissão do procurador-geral.

Marie Yovano­vitch

Ex-embaixadora dos EUA na Ucrânia, Marie Yovanovitch (centro), em foto de junho de 2018
Ex-embaixadora dos EUA na Ucrânia, Marie Yovanovitch (centro), em foto de junho de 2018| Genya SAVILOV / AFP

Ex-embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Marie Yovanovitch foi nomeada ao cargo pelo governo anterior dos EUA, de Obama. Ela foi acusada pelo ex-procurador Yuriy Lutsenko de entregar uma lista de pessoas "intocáveis" que não poderiam ser investigadas. Lutsenko não forneceu evidências para essas alegações, no entanto.

Antes da divulgação da transcrição da conversa entre Trump e Zelensky, o governo Trump já havia dado ordens para que Yovanovitch deixasse o cargo. A ex-embaixadora sofreu críticas públicas de aliados de Trump, incluindo Rudy Giuliani, que pressionou pela sua remoção. Ela deveria permanecer no cargo até julho deste ano, após três anos de serviço, mas foi chamada de volta a Washington em maio.

Embora ela fosse repeitada na comunidade de segurança nacional dos EUA pelos seu trabalho de incentivar a Ucrânia a combater a corrupção, Giuliani acusou a ex-embaixadora de fazer parte de uma conspiração orquestrada pelo bilionário George Soros contra Trump.

Em sua ligação ao presidente ucraniano em 25 de julho, Trump disse que Yovanovitch era "má notícia, e as pessoas com quem ela estava lidando na Ucrânia também".

Yuriy Lutsenko

Foi procurador-geral da Ucrânia entre 2016 agosto de 2019, quando renunciou. Lutsenko ajudou a disseminar os rumores de que a Ucrânia estaria interferindo nas eleições americanas e teve um papel central em promover o escândalo da Ucrânia da gestão Trump.

Em março, Lutsenko disse em entrevista ao site de notícias The Hill que Joe Biden havia pressionado o governo da Ucrânia para demitir o seu antecessor da procuradoria-geral, Viktor Shokin, para proteger a Burisma. Ele foi a primeira autoridade a fazer essa alegação publicamente, segundo o jornal Kyiv Post.

Na quinta-feira (26), Lutsenko disse que acreditava que Hunter Biden não tinha violado nenhuma lei da Ucrânia. "Sob a perspectiva da legislação ucraniana, ele não violou nada", disse o ex-procurador ao Washington Post. "Hunter Biden não pode ser responsabilizado por violações da gerência da Burisma que aconteceram anos antes de sua chegada", completou.

Nancy Pelosi

A líder da Câmara dos Representantes dos EUA, a democrata Nancy Pelosi
A líder da Câmara dos Representantes dos EUA, a democrata Nancy Pelosi| Alex Wong/Getty Images/AFP

Presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Pelosi anunciou em 24 de setembro a abertura formal do inquérito de impeachment contra o presidente Donald Trump. "As ações da presidência de Trump revelaram o fato desonroso da traição do presidente ao seu juramento, traição à nossa segurança nacional e traição à integridade de nossas eleições", disse Pelosi ao anunciar a abertura do processo.

Por meses, os democratas estavam divididos em relação a seguir com um processo de impeachment. A estratégia de Pelosi até então indicava que ela e outros temiam que um processo de impeachment traria riscos para o partido nas próximas eleições e poderia ameaçar a maioria democrata na Câmara. O processo de destituição do presidente precisa passar pelo Senado, que tem maioria republicana.

"Use a metáfora que quiser: 'atravessar o Rubicão', 'alea jacta est', 'um novo território', 'um novo dia raiou'", declarou Pelosi, evocando a frase em latim normalmente traduzida por "a sorte está lançada", que teria sido proferida por Júlio César em 49 a.C.

Rudy Giuliani

Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump, saiu em defesa de seu cliente
Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump| Angela Weiss/AFP

Muitos lembram de Rudy Giuliani como o prefeito de Nova York na época dos ataques de 11 de setembro de 2001 contra os EUA. Atualmente, como advogado pessoal de Donald Trump, ele é uma figura central da crise sobre a Ucrânia.

Rudy Giuliani foi intimado na segunda-feira (30) pelos deputados para fornecer documentos relacionados à pressão contra a Ucrânia para investigar Biden.

Giuliani é considerado o operador do esquema e frequentemente é mencionado na denúncia anônima do funcionário da Casa Branca. Ele admitiu em entrevistas que tomou uma série de ações para avançar as investigações na Ucrânia contra Biden.

Adam Schiff

Presidente da Comissão de Inteligência da Câmara de Deputados dos EUA, Adam Schiff, 26 de setembro de 2019
Presidente da Comissão de Inteligência da Câmara de Deputados dos EUA, Adam Schiff, 26 de setembro de 2019| Nicholas Kamm / AFP

Presidente da Comissão de Inteligência da Câmara dos Deputados dos EUA, uma das três comissões encarregadas da investigação do impeachment.

Muitos legisladores democratas veem Schiff como a escolha natural para liderar o inquérito. Alguns defendem o seu nome para ser a face pública da investigação, segundo a imprensa americana.

Trump sugeriu que Schiff deveria ser "preso por traição", em um post publicado em sua conta no Twitter na segunda-feira (30) em que acusou Schiff de ter inventado uma declaração de Trump.

Com informações de Washington Post, Bloomberg e Estadão Conteúdo.

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