• Carregando...
O presidente argentino, Alberto Fernández, em discurso.
O presidente argentino, Alberto Fernández, em discurso.| Foto: EFE/Esteban Collazo/Presidência da Argentina

A taxa de pobreza na Argentina caiu no segundo semestre de 2021, em um contexto de recuperação econômica e geração de empregos, mas continua à mercê da alta inflação que impacta fortemente o custo da cesta básica de alimentos e serviços.

De acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (30) pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), a taxa de pobreza ficou em 37,3% da população urbana no segundo semestre do ano passado, 3,3 pontos percentuais abaixo do nível registrado no primeiro semestre de 2021 e 4,7 pontos a menos do que no mesmo período de 2020.

Já a taxa de indigência ficou em 8,2% no segundo semestre, 2,5 pontos abaixo do primeiro semestre de 2021 e 2,3 pontos abaixo do mesmo período de 2020.

Essa melhora ocorreu no quadro da recuperação que a economia argentina experimentou em 2021, com uma expansão de 10,3% que pôs fim a três anos de forte recessão e que permitiu a criação de 1,8 milhão de empregos e uma queda na taxa de desemprego, que no quarto trimestre do ano passado caiu para 7%, seu nível mais baixo desde 2016.

O impacto positivo da recuperação econômica não foi suficiente, no entanto, para trazer as taxas de pobreza e indigência de volta aos níveis anteriores à eclosão da pandemia de covid-19 devido à inflação persistentemente alta na Argentina, que em 2021 acelerou para 50,9% ao ano.

"Conseguimos fazer crescer a produção e o emprego, mas ainda não conseguimos tornar a distribuição mais justa. E, em grande medida, a distribuição não é mais justa porque a inflação está na nossa cola. Temos que trabalhar nisso", disse o presidente argentino, Alberto Fernández.

Pobreza e inflação

Para o economista Leopoldo Tornarolli, a queda da taxa de pobreza é explicada pelo crescimento do emprego no último semestre de 2021 e pela desaceleração do aumento do custo da cesta básica de alimentos e serviços - indicador que marca a linha da pobreza -, que foi de 14,5% no segundo semestre, frente a um aumento do índice geral de preços ao consumidor de 21,3% no mesmo período.

Tornarolli, pesquisador sênior do Centro de Estudos Distributivos, Laborais e Sociais (CEDLAS) da Universidade Nacional de La Plata, também disse à Agência Efe que, embora as receitas tenham crescido menos do que o índice geral de preços, elas o fizeram acima da evolução do custo da cesta básica de alimentos e serviços, contribuindo assim também para a redução da pobreza no segundo semestre.

O relatório oficial divulgado nesta quarta-feira especifica que a renda das famílias indigentes ficou no segundo semestre de 2021 em média 35,2% abaixo do custo da cesta básica, enquanto a renda das famílias pobres ficou em média 36,9% abaixo do total da cesta básica.

Horizonte sombrio

Para este ano, as perspectivas quanto à evolução dos indicadores sociais não são muito positivas.

"Não temos muitas certezas, mas o que vimos até agora nos deixa pessimistas e parece improvável que a pobreza seja reduzida novamente durante o primeiro semestre de 2022", afirmou Tornarolli.

Segundo o pesquisador, é "improvável" que o emprego volte a crescer "fortemente" como no semestre passado e que se registre uma melhoria dos salários reais dada a aceleração da inflação desde dezembro do ano passado.

"Nos dois primeiros meses de 2022, o valor da cesta básica total cresceu mais de 10,1% e é certo que, quando soubermos os dados de março, teremos um aumento acumulado de mais de 15% em três meses, contra 14,5% dos últimos seis meses de 2021", acrescentou.

Economistas projetam que a inflação acelere em 2022 para pelo menos 55% ao ano, em um contexto em que, além disso, a Argentina será obrigada a fazer um ajuste fiscal como parte dos compromissos assumidos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no recentemente selado acordo de refinanciamento da dívida.

O governo argentino assegura que o acordo não implicará em cortes na despesa social, embora a redirecione para programas de formação e emprego.

As organizações sociais, por sua vez, aumentaram a pressão nas ruas - com protestos nesta quarta-feira em Buenos Aires e outras partes do país - exigindo mais planos de assistência social e assistência alimentar.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]