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A polícia iraniana prendeu algumas pessoas que se reuniram em um cemitério de Teerã para homenagear as vítimas dos conflitos que ocorreram após a contestada eleição presidencial do país em junho, disseram testemunhas nesta quinta-feira.

A polícia forçou Mirhossein Mousavi, candidato moderado derrotado no pleito que deu a reeleição ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, a deixar o cemitério.

"Centenas de pessoas se reuniram ao redor do túmulo de Neda Agha-Soltan para homenageá-la... a polícia prendeu algumas pessoas... dezenas de policiais antimotim também chegaram e estão tentando dispersar a multidão", disse uma testemunha à Reuters.

Depois a testemunha afirmou: "A polícia obrigou Mousavi a voltar para seu carro e deixar o cemitério. A polícia também está avisando as pessoas para deixarem o local ou sofrerão consequências."

Líderes da oposição iraniana disseram que pretendiam comparecer a uma cerimônia em homenagem a manifestantes mortos, apesar da ameaça da Guarda Revolucionária de dissolver o evento.

"Mirhossein Mousavi e Mehdi Karoubi (candidatos derrotados à Presidência) irão hoje ao cemitério Behesht-e Zahra, em Teerã, para celebrar Neda Agha-Soltan e outras vítimas dos conflitos", disse o site de Mousavi, chamado Ghalamnews.

O convite a eles partiu da mãe de Neda, que pretende marcar o 40o dia da morte da filha e homenagear os outros manifestantes mortos nos protestos.

Neda, de 26 anos, estudante de música, foi baleada em 20 de junho, quando seguidores de Mousavi entraram em confronto com a tropa de choque e com membros da milícia Basij em Teerã. Milhares de pessoas viram na Internet vídeos que mostram a morte dela.

As autoridades dizem que a bala que matou Neda não pertence a uma arma usada pelas forças de segurança, e sugerem que o incidente foi armado para abalar a imagem do regime clerical.

A imprensa iraniana noticiou várias outras mortes desde a eleição, e entidades de direitos humanos afirmam que houve centenas de prisões, inclusive de políticos reformistas, jornalistas, ativistas e advogados.

O general de brigada Abdollah Araghi, comandante da Guarda Revolucionária em Teerã, alertou para o risco de confrontos caso os reformistas insistam em realizar qualquer concentração.

"Não estamos brincando. Vamos confrontar os que quiserem lutar contra a instituição clerical", disse Araghi na quarta-feira, segundo a agência semioficial de notícias Fars.

As autoridades rejeitaram um pedido da oposição para realizar uma cerimônia nesta quinta-feira na Grande Mosala, um local de orações que comporta dezenas de milhares de pessoas.

Mousavi, Karoubi e outros reformistas dizem que a eleição de 12 de junho foi fraudada para permitir a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

A eleição mergulhou o Irã em sua maior crise interna desde a Revolução Islâmica de 1979, e expôs profundas divisões na sua elite governista.

Ahmadinejad está sob pressão de seus seguidores radicais por causa de uma nomeação para a vice-presidência e por ter posteriormente demitido um ministro linha-dura que o criticou.

O líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, aprovou o resultado eleitoral em prol de Ahmadinejad, mas ordenou que ele cancelasse a nomeação de Esfandiar Rahim-Mashaie como seu vice. Mashaie havia dito que o Irã não tem atritos com os israelenses, apenas com o seu governo.

Durante uma semana, Ahmadinejad ignorou a ordem de Khamanei. A confusão no campo governista deve complicar a formação de um novo gabinete no país.

O semanário conservador Ya Lesarat dirigiu a Ahmadinejad um comentário de rara dureza: "Suas medidas adotadas nas últimas semanas surprenderam seus apoiadores. Se tais medidas continuarem, recomendamos fortemente que devolva nossos votos".

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