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Pessoas acendem velas e deixam flores em homenagem às vítimas do tiroteio em Strasbourg, França. Três pessoas morreram e 13 ficaram feridas. | SEBASTIEN BOZON / AFP
Pessoas acendem velas e deixam flores em homenagem às vítimas do tiroteio em Strasbourg, França. Três pessoas morreram e 13 ficaram feridas.| Foto: SEBASTIEN BOZON / AFP

Cherif Chekatt, suspeito de ser o atirador que matou três pessoas e feriu outras 12 em Estrasburgo (França) na terça (11), foi morto na noite desta quinta-feira (13) pela polícia, em um depósito situado no bairro em que havia sido visto pela última vez.

O ministro do Interior da França, Christophe Castaner, relatou que a polícia “neutralizou” uma pessoa que correspondia à descrição do suspeito de ser o autor do ataque na cidade de Estrasburgo na terça-feira. Embora Castaner não tenha confirmado que essa pessoa era Chekatt, o jornal Le Figaro relatou que o procurador de Paris, que supervisiona as investigações de terrorismo no país, identificou formalmente o homem morto na troca de tiros com a polícia como Chekatt.

O homem de 29 anos era procurado havia quase 48 horas, desde que entrou com uma arma automática e uma faca no perímetro em que é realizado um tradicional mercado de Natal e atacou dezenas de pessoas, antes de trocar tiros com policiais em dois momentos de sua fuga. 

Leia mais: Tiroteio em mercado de Natal na França foi ato de terrorismo

Nascido em Estrasburgo, ele já havia sido condenado 27 vezes na França, na Alemanha e na Suíça, sobretudo por crimes ligados ao patrimônio. Estava fora da prisão desde 2017. 

Na terça, policiais haviam vasculhado a casa de Chekatt no âmbito de uma operação de busca e apreensão ligada a um assalto com tentativa de homicídio. Ele não estava lá. Os agentes encontraram uma granada, rifle, facas e munição. 

Chekatt era monitorado pela inteligência francesa desde 2016, por indícios de radicalização religiosa. Nenhuma organização terrorista reivindicou a autoria do atentado, mas testemunhas disseram que o autor gritou "Allah Akbar" (Deus é maior). 

Mais de 700 oficiais atuaram nas buscas ao suspeito, inclusive do outro lado da fronteira com a Alemanha - Estrasburgo fica no limite entre os dois países.

Oficiais de polícia bloqueiam rua próximo ao local onde o suposto atirador foi morto em confronto com policiaisALAIN JOCARD / AFP

A agência de notícias Amaq, do Estado Islâmico, alegou que o atirador de Estrasburgo era um "soldado" que "executou a operação em resposta ao chamado de cidadãos-alvo da coalizão internacional". O grupo reivindica regularmente afiliação com indivíduos que podem ter sido inspirados por mensagens do Estado Islâmico, mas que realizaram ataques por iniciativa própria e não tinham vínculos estabelecidos com o grupo terrorista.

O aumento dos procedimentos de segurança na fronteira entre a França e a Alemanha resultou em longas filas na quinta-feira para aqueles que viajavam entre os dois países. 

A pessoa detida pela polícia foi encontrada no distrito de Neudorf, em Estrasburgo, informou a imprensa francesa. Esse é o mesmo bairro onde o suspeito teria sido deixado por um táxi que ele sequestrou para fugir do centro da cidade. 

Em um clima político tomado por agitação social - e por um protesto em curso contra as políticas econômicas do presidente Emmanuel Macron - o ataque em Estrasburgo foi um choque, um lembrete da violência terrorista que a França enfrentou nos últimos anos e uma ameaça que não desapareceu, mesmo que os ataques tenham diminuído em frequência.

"A ameaça terrorista ainda está no centro da vida de nossa nação", disse Macron em comentários divulgados pelo porta-voz do governo, Benjamin Griveaux. 

Silêncio

Durante o dia de quinta-feira, um silêncio inquieto encobriu essa cidade franco-alemã conhecida por sua agitação de férias e alegria da época natalina. 

Para alguns, o que aconteceu na noite de terça-feira era quase inevitável. Era apenas uma questão de tempo, disseram, até que Estrasburgo experimentasse o tipo de violência que explodiu em outros lugares da França desde 2015 - ataques em grande escala em Paris e Nice, e em escala menor em cidades como Saint-Etienne-du. -Rouvray, onde um autoproclamado simpatizante do Estado Islâmico cortou a garganta de um padre em julho de 2016.

"Eu estava falando outro dia com um lojista", disse Élisabeth Kneib, 55 anos, que se mudou para Estrasburgo há dois anos. Ela estava em um memorial improvisado na Rue des Orfevres, um dos locais do ataque. "Nós estávamos dizendo que, de certa forma, estávamos quase esperando por algo." 

O mesmo mercado de Natal foi alvo de pelo menos dois ataques frustrados, por agentes ligados à Al Qaeda em 2000 e afiliados do Estado Islâmico em 2016. 

Fichier S

A região do entorno, Alsace, abriga um grande número de pessoas na lista "Fichier S", um banco de dados do governo de indivíduos que aparentemente representam uma ameaça à segurança nacional. 

O procurador de Paris Rémy Heitz confirmou que Chekatt estava nessa lista. Ele também observou que o suspeito tinha 27 condenações criminais na França, Alemanha e Suíça.

Um "Apelo a testemunhas" com a foto e descrição do homem identificado como Cherif Chekatt, suspeito de ser o autor do atentado que matou e feriu várias pessoas em EstrasburgoAFP

No total, existem cerca de 25.000 nomes na lista Fichier S. Os nomes são revisados e atualizados anualmente, e os indivíduos não são informados de que estão na lista. Embora um grande número de atividades políticas possa levar uma pessoa ao Fichier S, nos últimos anos ela passou a ser entendida como um dossiê de potenciais terroristas. 

Uma alta autoridade alemã, falando sob condição de anonimato, disse que Chekatt "aparentemente se radicalizou em 2011 durante a prisão na França". O funcionário não sabia por que Chekatt estava preso na época. 

Chekatt também esteve sob custódia alemã em 2016 na cidade de Konstanz e na prisão de Freiburg até fevereiro de 2017, ambas as vezes por causa de roubo, disse a autoridade. Chekatt foi posteriormente extraditado para a França. 

As autoridades francesas há muito prometeram rever as prisões como parte dos esforços para combater o extremismo entre os presos. Acredita-se que um número significativo dos que estão por trás dos recentes ataques tenha se radicalizado nas prisões francesas. 

"Ninguém tem uma fórmula mágica para 'desradicalização', como se você pudesse desinstalar um software perigoso", disse o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, em fevereiro. "Mas na França e em outros lugares, há boas abordagens para a prevenção e o desligamento".

O governo pediu a criação de espaços segregados nas prisões para internos "radicalizados". 

Outro problema, dizem os analistas de segurança, é que pouco pode ser feito para impedir que os indivíduos realizem ataques de pequena escala e baixo orçamento, como o tiroteio em Estrasburgo. 

Em março, um atirador solitário, um francês de 25 anos de ascendência marroquina, matou quatro pessoas, incluindo um policial, em um sequestro em um supermercado no sudoeste da França. 

"Há um sentimento de inevitabilidade", disse François Heisbourg, ex-assessor presidencial de segurança nacional e presidente do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. 

Na quarta-feira, o oficial do Ministério do Interior Laurent Nunez disse que a polícia foi à casa de Chekatt em Estrasburgo na manhã do ataque para prendê-lo em um caso de tentativa de homicídio. Ele não estava lá. Uma busca encontrou uma granada, um rifle, munição e facas. 

Horas depois, Chekatt supostamente abriu fogo no mercado de Natal.

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