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Oficialmente, o líder cubano Fidel Castro se recupera de uma doença não revelada. Para muitos cubanos, porém, os sinais acumulados em mais de quatro meses de ausência sugerem o contrário.

Acostumados a decifrar mensagens e silêncios da imprensa oficial, a população tece teorias e tenta se acostumar à idéia de um futuro sem o homem que os governava desde 1959, e que muitos chamam simplesmente de ``Papai''.

``A televisão fala pouco dele, e quando o faz parece às vezes que já morreu. Não temos nem idéia do que está acontecendo. Acho que ele já não volta'', disse Roberto, de 47 anos.

O sinal mais contundente foi sua ausência em 2 de dezembro num desfile militar para festejar seus 80 anos, que levou cerca de 1.500 convidados a Havana.

Mas há outros: a expressão ``quando Fidel não estiver mais'' aparece cada vez com mais freqüência na boca de seus subordinados, sempre para garantir que o socialismo em Cuba é, como disse o vice-presidente Carlos Lage, irreversível.

O governo apresentou a terceira edição do livro ``Cem Horas com Fidel'', entrevista considerada por muitos seu testamento político, e também foi lançado um CD-Rom com 998 discursos pronunciados por ele desde o triunfo da Revolução.

A TV estatal retransmite há vários dias uma conferência sobre o legado ideológico de Fidel, ocorrida há duas semanas em Havana, como parte dos festejos de aniversário.

``Os inimigos da Revolução contam os minutos esperando e desejando a morte de Fidel, sem compreender que Fidel já não é só Fidel, é o povo'', disse o chanceler Felipe Pérez Roque durante o evento.

Ao menos oficialmente, Fidel não se reuniu nem reservadamente com convidados ilustres de seu aniversário, como o presidente da Bolívia, Evo Morales, e o escritor colombiano Gabriel García Márquez, seu amigo. Aparentemente tampouco telefonou para outro amigo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, para cumprimentar por sua reeleição, no dia 3 -limitou-se a enviar uma mensagem de 13 linhas.

Chávez, que até pouco tempo atrás garantia que Fidel saía à noite para vistoriar ``campos, vilas e cidades'', comentou que, a julgar pelo traço da assinatura, seu amigo está se recuperando.

``A mudez do governo é para que cada um vá se preparando. Mas estão fazendo isso mal, porque as pessoas querem e precisam saber o que acontece com Fidel'', disse o artista Walter, de 42 anos.

Hoje, a voz de Fidel só soa nos velhos discursos, e quem manda na ilha é seu irmão Raúl, de 75 anos, para quem Fidel transferiu o poder em 31 de agosto.

Raúl passou em revista as tropas durante o desfile militar de 2 de dezembro e na semana passada viajou a Cárdenas, 152 quilômetros a leste de Havana, para o aniversário do menino Elián González, um ex-náufrago que se tornou símbolo de uma cruzada de Fidel contra os exilados cubanos da Flórida.

Os diplomas entregues naquela tarde a trabalhadores-modelo não levavam, notaram alguns, a assinatura de Fidel, como é habitual, e sim a de Raúl.

Desde que se afastou do poder, Fidel só aparece em fotos e vídeos divulgados esporadicamente pela imprensa oficial -a última vez em 28 de outubro, quando ele caminhava lentamente por seu quarto e lia jornais para desmentir rumores de que estaria morto.

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