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A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, durante entrevista coletiva no Capitólio, em Washington DC, em 19 de maio de 2022.
A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, durante entrevista coletiva no Capitólio, em Washington DC, em 19 de maio de 2022.| Foto: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS

No ano passado, enquanto os bispos católicos discutiam como lidar com os políticos pró-aborto, o Papa Francisco disse que eles deveriam ser pastorais e trabalhar para uma mudança de coração, mas acrescentou que essas pessoas “não podem comungar, porque estão fora da comunidade”.

Não tenho certeza se ele queria a exclusão de grandes nomes. Mas na última sexta-feira, ele conseguiu um. O arcebispo Salvatore Cordileone, de São Francisco, anunciou que estava impedindo a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, de receber a comunhão em sua diocese. “Uma legisladora católica que apoia o aborto, depois de conhecer o ensinamento da Igreja, comete um pecado grave”, explicou.

Pelosi passou as últimas semanas defendendo vigorosamente no Congresso a legalização nacional do aborto. Historicamente, ela também tenta forçar sua política em "consonância com a fé católica" e até tentou citar os padres da igreja para reforçar seu apoio ao aborto.

Vale a pena revisar a mecânica e o significado dessa decisão, pois muitos relatos da grande mídia estão tendo problemas para explicá-la. Todos os católicos são obrigados pelo ensino da sua fé a se abster da Sagrada Comunhão se estiverem em estado de pecado grave. Os religiosos em tal estado devem fazer uma confissão sacramental e receber a absolvição antes de receber a comunhão novamente. É assim que os católicos entendem e praticam a advertência de São Paulo em 1 Coríntios 11: 28-29: “Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação”.

Um bispo ou padre pode intervir para impedir essas comunhões se o pecado for público e se o membro da igreja mostrar algum nível de obstinação em recusar a correção privada.

Em uma carta aberta, Cordileone informou que havia conversado com Pelosi sobre o assunto e que ela teria ignorado seus últimos telefonemas. Ele citou a instrução do cardeal Joseph Ratzinger de 2004, que escreveu aos bispos dos EUA:

“Quando a cooperação formal de uma pessoa se torna manifesta, seu bispo deve se reunir com ele, instruindo-o sobre os ensinamentos da Igreja, orientando a não se apresentar para a Sagrada Comunhão até que ele ponha fim à situação do pecado, e o advertindo de que, de outra forma, lhe será negada a Eucaristia. Quando essas medidas cautelares não surtirem efeito e a pessoa em questão, com persistência obstinada, ainda se apresentar para receber a Sagrada Eucaristia, o ministro da Sagrada Comunhão deve se recusar a oferecê-la".

Alguns comentaristas já argumentaram que esse posicionamento de alguma forma viola a separação entre Igreja e Estado. Dificilmente. Cordileone não negou a Pelosi o exercício do cargo para o qual a população a elegeu. Ele a negou no próprio assunto sobre o qual ele claramente tem autoridade como seu bispo.

A atitude de Pelosi foi grave aos olhos do arcebispo Cordileone, pois o envolve em uma situação controversa sobre a doutrina da Igreja em relação à eucaristia. Alguns bispos e comentaristas católicos pensam que essa forma de disciplina não deve ser exercida hoje em dia por várias razões. Por vezes, argumentam que o público e a maioria dos membros da igreja são muito ignorantes da teologia descrita acima para entender essa forma de disciplina e que eles provavelmente terão a impressão errada ou se afastarão da igreja.

Outros argumentam que impor essa forma de disciplina apenas levanta mais questões. Deveria recair apenas sobre aqueles que apoiam o aborto? Por que não aqueles que apoiam a pena de morte? Por que não aqueles que apoiam a guerra?

Por pelo menos cinco décadas, a pregação e o ensino católico sobre a necessidade da confissão, sobre estar em estado de graça para receber a comunhão adequadamente, quase desapareceu. Muitos católicos não sabem o que sua fé ensina sobre esses pontos e, portanto, as letras miúdas do direito canônico não são apenas pouco intuitivas, mas estranhas a eles.

Porém, a resposta adequada à ignorância é a correção e a educação remediadora.

Podem dizer que haverá uma tentação por parte dos fieis católicos de defender a decisão do arcebispo Cordileone, acumulando cada vez mais repulsa a Nancy Pelosi. Bem, eu acho que nesse ponto o arcebispo precisa de uma defesa.

Os católicos conscientes devem admitir que seus pecados às vezes os impedem de receber a Sagrada Comunhão. Passei muitos domingos na entrada da igreja enquanto meus amigos recebiam. Lembro-me de alguns domingos anos atrás, quando eu era a única pessoa em uma igreja lotada que não recebia a comunhão. Se eu perdi a missa foi por minha própria culpa, porque me examinei e me considerei culpado de pecados graves: luxúria, ganância, gula ou gritar com meus leitores nos comentários.

Não sou um bom católico, e os pecados que confesso são uma grande forma de evitar me apresentar como um. É por isso que eu gosto de falar em “praticar” a fé, pois sustenta a ideia de que, algum dia, ficaremos bons. Nesse caso, temos que olhar para o arcebispo não como um juiz que dá um veredito histórico, mas como um árbitro que nos lembra as regras do jogo.

MICHAEL BRENDAN DOUGHERTY é redator sênior da National Review Online.

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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