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O embaixador americano no Japão, Rahm Emanuel, e o primeiro-ministro Fumio Kishida, em encontro em Tóquio em fevereiro
O embaixador americano no Japão, Rahm Emanuel, e o primeiro-ministro Fumio Kishida, em encontro em Tóquio em fevereiro| Foto: EFE/EPA/FRANCK ROBICHON

Rússia e Japão tem um histórico de troca de hostilidades. A vitória japonesa na guerra travada pelos dois países entre 1904 e 1905 por territórios na Manchúria e na península coreana prenunciou a decadência do czarismo e a chegada dos bolcheviques ao poder, na década seguinte.

Em lados opostos na Segunda Guerra Mundial, japoneses e russos não assinaram um acordo de paz após o fim do conflito, devido à disputa por parte das Ilhas Curilas (que os japoneses chamam de Territórios do Norte), administradas pela Rússia desde então.

Em nome das negociações para um acordo, o Japão vinha adotando uma postura cautelosa e de bom relacionamento com Moscou, especialmente durante o último período do primeiro-ministro Shinzo Abe à frente do Executivo (2012-2020).

Outros pontos que contribuíam para essa atitude eram evitar um fortalecimento do eixo Rússia-China e manter um interlocutor para frear a escalada armamentista da Coreia do Norte.

Quando a Rússia infringiu a soberania territorial ucraniana em 2014, ao anexar a Crimeia e apoiar separatistas em Donbass, o Japão impôs sanções tímidas, e apenas após pressão dos Estados Unidos.

Porém, essa postura reticente foi abandonada após a invasão à Ucrânia deflagrada em 24 de fevereiro. O primeiro-ministro Fumio Kishida, que está no cargo há seis meses e foi ministro das Relações Exteriores na gestão de Abe, seguiu a linha do G7 e impôs pesadas sanções.

As medidas incluíram bloqueio do acesso dos bancos russos ao sistema internacional de comunicações bancárias SWIFT, congelamento de ativos do presidente Vladimir Putin e a revogação do status comercial de “nação mais favorecida” da Rússia.

Moscou respondeu colocando o Japão numa lista de países “hostis” e suspendendo as negociações de paz. A imprensa japonesa informou que Tóquio descreverá o domínio da Rússia sobre as ilhas disputadas como “ocupação ilegal” em um relatório anual de política externa a ser divulgado no final de abril, o que não acontecia desde 2003.

Não se trata de um rompimento completo, até porque, a exemplo da União Europeia, os japoneses ainda precisam muito das exportações de energia russas. Com a maioria de seus reatores nucleares desativados desde o desastre de Fukushima, em 2011, o Japão é extremamente dependente da importação de combustíveis fósseis.

Depois da invasão russa à Ucrânia, o primeiro-ministro descartou uma retirada japonesa do projeto conjunto de petróleo e gás Sacalina 2. Kishida argumentou que o projeto é fundamental para garantir “suprimentos de GNL [gás natural liquefeito] de longo prazo, baratos e estáveis” ao Japão. “É um projeto extremamente importante em termos de nossa segurança energética. Não temos planos de desistir”, afirmou.

Porém, na última sexta-feira (8), ao anunciar que vai reduzir gradualmente as importações de carvão da Rússia, o Ministério da Economia, Comércio e Indústria japonês informou que o país pretende se livrar da dependência de produtos russos, ainda que não tenha informado detalhes e datas.

Independentemente de questões energéticas, o governo japonês segue incisivo na condenação à Rússia. Depois que surgiram as imagens de civis mortos em Bucha após a saída das tropas russas, Kishida descreveu o suposto massacre como “um ato de violação do direito internacional e um problema humanitário”. “Devemos condená-lo duramente”, acrescentou.

Na quinta-feira passada (7), o Japão foi um dos 93 países que votaram a favor da suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. No dia seguinte, anunciou a expulsão de oito russos, entre diplomatas e representantes comerciais.

Receio de isolamento

A avaliação de especialistas é que Kishida decidiu mudar a postura diante de Moscou porque teme um isolamento diante de hostilidades crescentes no leste asiático.

Além de adotar práticas comerciais predatórias, a China tem elevado o tom das suas ameaças militares na região (como nos discursos sobre a “reincorporação” de Taiwan) e a Coreia do Norte acelerou neste ano seus testes de armas.

Yuki Tatsumi, diretora do programa do Japão no think tank americano Stimson Center, apontou em um artigo no site da revista The Diplomat que, embora Kishida deseje concluir o tratado de paz relativo à disputa territorial com a Rússia, “agora não é hora de parecer ambivalente em relação a Moscou por causa de uma esperança distante de que uma postura mais branda de Tóquio poderia melhorar a posição de negociação do Japão”.

“Se o Japão quer que a comunidade internacional apoie a posição de Tóquio no caso de a China recorrer à força no Mar da China Oriental ou no Estreito de Taiwan, precisa se manter firme no seu apoio às democracias parceiras e aos valores universais que a invasão russa tenta minar”, argumentou.

Na revisão da Estratégia de Segurança Nacional implantada em 2013, no governo Abe, Kishida precisará enfatizar “o comportamento problemático da China como algo que vai diretamente contra o interesse nacional do Japão” e ampliar sua cooperação em segurança com os Estados Unidos, acrescentou Tatsumi.

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