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Venezuelanos no Equador são levados para o aeroporto onde embarcariam para retornar ao seu país, em novembro de 2021: apesar das promessas de recuperação econômica do chavismo, grande maioria dos que deixaram a Venezuela desde 1998 seguem céticos
Venezuelanos no Equador são levados para o aeroporto onde embarcariam para retornar ao seu país, em novembro de 2021: apesar das promessas de recuperação econômica do chavismo, grande maioria dos que deixaram a Venezuela desde 1998 seguem céticos| Foto: EFE/Santiago Fernández

Há alguns anos, o ditador Nicolás Maduro criou o programa Volta à Pátria, com o objetivo de ajudar a retornar ao país os venezuelanos que assim desejassem. O projeto oferece traslado para a Venezuela e inserção no sistema de proteção social do país, e sua justificativa oficial pela ditadura chavista foi servir de “resposta à situação de vulnerabilidade ou dificuldade econômica sofrida por cidadãos venezuelanos residentes no exterior”.

Entretanto, como tudo na Venezuela, o Volta à Pátria é um fiasco. Segundo números publicados pela revista investigativa Expediente Público este mês, com base em estatísticas do Ministério das Relações Exteriores e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), apenas 29.073 venezuelanos retornaram ao país por meio do programa entre 2018 e maio deste ano (o número não considera os que voltaram por conta própria). Desde 1998, ano anterior à chegada de Hugo Chávez ao poder, cerca de 6,5 milhões de pessoas deixaram a Venezuela.

O caos econômico e social vivido pelo país (que se tornou ainda pior com a morte de Chávez e sua substituição por Maduro) é a explicação óbvia para a recusa de milhões de pessoas em voltar para a Venezuela, mas a ditadura chavista tem vendido em 2022 a imagem de que tempos melhores estão começando.

Após mudanças e abertura na política econômica, há perspectiva de crescimento este ano e a inflação de 48,4% acumulada nos primeiros sete meses do ano, embora altíssima, está bem abaixo da absurda taxa de 80.000% de todo o ano de 2018.

Entretanto, Ryan Berg, pesquisador do Programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), acredita que não há motivos para otimismo. Em artigo publicado pelo CSIS, ele argumentou que as reformas promovidas pela ditadura de Maduro só têm beneficiado os chamados enchufados, ou bem relacionados.

“Dado que esse universo é acessível apenas à camada superior da Venezuela de Maduro, qualquer discussão sobre a recuperação econômica do país deve considerar uma pergunta: recuperação para quem? Todos os indicadores mostram que qualquer recuperação econômica tem sido profundamente desigual, e os venezuelanos comuns foram na sua maioria deixados para trás pela ‘nova economia’, enquanto os venezuelanos bem relacionados, leais ao regime e bajuladores provavelmente ganharão mais”, apontou.

Berg destacou que, mesmo que seja considerado o melhor cenário, estimado pelo banco suíço de investimentos Credit Suisse de que pode haver crescimento de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país este ano, “a Venezuela, que passou por anos de hiperinflação e um declínio macroeconômico de cerca de 80% desde 2012, precisaria de quase uma década dessas fantásticas taxas de crescimento apenas para recuperar a posição em que estava no início da era Maduro”.

“Uma empresa de análise econômica com sede em Caracas estimou o tempo de recuperação em 16 anos, levando-se em conta uma taxa de crescimento econômico ininterrupto e contínuo. No entanto, desde 1975, a Venezuela não experimentou mais do que cinco anos de crescimento sem recessão”, ponderou Berg.

Em entrevista à Bloomberg, o coordenador do grupo de trabalho da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a crise de migrantes e refugiados venezuelanos, David Smolansky, disse que não haverá maior interesse em retornar enquanto não ocorrer uma mudança de regime.

“A grande maioria dos que tiveram que deixar o país não considera esse programa [Volta à Pátria] como uma opção, e para eles é muito claro que a opção para que retornem é que haja uma mudança na Venezuela, o restabelecimento da democracia, a recuperação das liberdades, do Estado de Direito, segurança, serviços básicos”, salientou.

Smolansky apontou ainda que, embora a situação dos venezuelanos em outros países ainda precise melhorar, a vida de muitos é melhor do que a ditadura chavista tenta fazer parecer: mais de 2,7 milhões deles já estão regularizados em países como Colômbia (cuja acolhida o coordenador classificou como “exemplar”), Peru, Brasil e República Dominicana.

“Estão ocorrendo avanços significativos na região para regularizar os venezuelanos, mas esta é uma crise tão aguda, de uma dimensão somente comparável à da Síria, que evidentemente todos os dias há venezuelanos deixando o país e ainda faltam muitos para serem regularizados”, disse o coordenador.

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