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O presidente americano Donald Trump e a primeira-ministra britânica Theresa May caminham para uma entrevista coletiva em Londres, 4 de junho
O presidente americano Donald Trump e a primeira-ministra britânica Theresa May caminham para uma entrevista coletiva em Londres, 4 de junho| Foto: Frank Augstein / várias fontes / AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma visita de estado de três dias ao Reino Unido nesta semana. Trump chegou em um momento turbulento, em que o país se prepara para colocar em prática o Brexit, a saída da União Europeia, antes do novo prazo estabelecido pelos líderes da UE, 31 de outubro. Esta também é a última semana de Theresa May como primeira-ministra – ela anunciou que vai deixar a liderança de seu partido, e consequentemente seu cargo, na sexta-feira (7), após não conseguir aprovação do Parlamento para o seu acordo para o Brexit.

Em entrevista coletiva ao lado de Theresa May na terça-feira (4), Trump afirmou que os Estados Unidos estavam comprometidos com um “acordo comercial fenomenal” com o Reino Unido após o Brexit, e sugeriu que o comércio entre os dois países poderia triplicar.

O apoio de Donald Trump ao Brexit não é novidade. Já em 2016, antes do referendo em que a população decidiu que o Reino Unido deveria deixar a União Europeia – e antes de ser eleito presidente – Trump já dava sinais desse apoio.

“Eu diria que [os britânicos] estarão em melhor situação sem a União Europeia, pessoalmente”, disse Trump em entrevista ao canal de televisão americano Fox News em maio de 2016. “Mas eu não vou dizer que essa é uma recomendação, é só o meu sentimento”, completou.

A simpatia de Trump pelos defensores do Brexit nunca foi uma surpresa, já que algumas das causas deles são as mesmas de sua base republicana: frustração com imigração, com burocratas e com a elite política. O republicano também sempre foi crítico de organismos e acordos internacionais que “reduzem a nossa habilidade de controlar as nossas questões”.

“O presidente Trump apoia o Brexit sendo realizado de uma forma que não afete a estabilidade econômica e financeira global e que também assegure a independência do Reino Unido”, informou um comunicado da Casa Branca na segunda-feira, primeiro dia da visita de Trump ao reino.

O apoio do americano ao divórcio entre Reino Unido e UE é justificado porque, de maneira geral, um país tem menos força para negociar acordos comerciais quando está isolado do que quando está em um bloco, como a UE.

Trump já recomendou aos britânicos uma saída dura da União Europeia, o chamado Brexit sem acordo, se o Reino Unido não gostar dos termos oferecidos pela UE.

“Sim, eu iria embora. Se você não conseguir o acordo que você quer, se você não conseguir um acordo justo, então você vai embora”, disse o presidente em entrevista ao jornal britânico Sunday Times, antes de sua visita.

Ele também criticou o acordo negociado com a UE. “Uma coisa que, eu acho, é muito ruim é ter essa moratória de dois anos no comércio. Isso é terrível. Isso é uma penalidade tremenda. Nós temos o potencial de ser um parceiro incrível de comércio com o Reino Unido. Estamos fazendo relativamente pouco em comparação com o que poderíamos fazer com o Reino Unido... Acho que muito mais do que a União Europeia”, afirmou.

‘Potencial tremendo’

Na entrevista coletiva com Trump e May, a primeira-ministra lembrou que Trump havia sugerido que o Reino Unido processasse a União Europeia. “O que não fizemos. Fizemos negociações e saímos com um bom acordo”, disse May.

Trump disse: “Eu teria processado, mas tudo bem. Eu teria processado e negociado, talvez”.

O presidente falou ainda sobre o “potencial tremendo” do futuro acordo comercial entre os dois países aliados. “Eu digo, provavelmente duas ou três vezes o que estamos fazendo agora”.

Um acordo comercial com os EUA provavelmente está um pouco distante, e será determinado pela força da separação que o Reino Unido conseguir com a UE. Se o Reino Unido acabar ficando próximo à União Europeia, como prevê o plano de May, o país não estará livre para negociar um amplo acordo comercial.

Em Londres, Trump também visitou o líder do Partido do Brexit, Nigel Farage, e os apoiadores do Brexit no Partido Conservador Iain Duncan Smith e Owen Paterson.

No entanto, o republicano preferiu não se encontrar com Jeremy Cobyn, líder da oposição a May no Parlamento. Ele disse que achou que seria inapropriado se reunir com Corbyn, que havia pedido um encontro com Trump e também discursou em um protesto contra a visita do presidente americano. Corbyn defende um Brexit suave e diz que seu partido ainda pode negociar um acordo melhor para a saída.

O problema da fronteira

Assim que chegou à Irlanda na quarta-feira (5), Trump encontrou o primeiro-ministro Leo Varadkar e disse a ele que o Brexit “vai acabar muito bem”, prevendo que os irlandeses não sofrerão mesmo com uma saída dura, sem acordo, da União Europeia.

“A Irlanda vai ficar bem”, ele disse durante o encontro no aeroporto. “Eu não acho que a fronteira será um problema”.

Uma das questões mais complicadas no processo do Brexit é a fronteira entre a República da Irlanda, país independente que faz parte da União Europeia, e a Irlanda do Norte, que sairá da UE com o Brexit. Os políticos locais têm resistido à chamada fronteira rígida entre os dois países, que é aberta desde 1998, como parte do acordo de Sexta-Feira Santa, que acabou com o conflito irlandês. O livre trânsito de pessoas e mercadorias por essa fronteira é considerado muito importante para as duas economias e para a manutenção da paz.

Então Trump comparou a fronteira irlandesa pós-Brexit à fronteira sul dos Estados Unidos, com o México, onde o presidente americano prometeu construir um muro.

“Acho que tudo funcionará muito bem, e também para vocês com o seu muro, sua fronteira”, disse Trump. “Nós temos um problema de fronteira nos EUA, e vocês têm um aqui. Mas eu soube que vai funcionar muito bem por aqui”.

Varadkar disse então que a Irlanda quer evitar uma fronteira ou um muro.

“Acho que vocês querem, acho que vocês querem. A maneira como funciona agora é boa, vocês devem tentar manter desse jeito. Eu sei que é um grande ponto de disputa em relação ao Brexit. Tenho certeza que vai funcionar muito bem. Eu sei que eles estão focados fortemente nisso”, respondeu Trump, segundo o jornal The Guardian.

O governo irlandês organizou um grande esforço diplomático que já dura três anos, argumentando o oposto do que disse Trump; que o Brexit ameaça a paz e a prosperidade na ilha da Irlanda.

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