• Carregando...
Jacob Zuma é adepto da poligamia e tem três esposas | Reuters
Jacob Zuma é adepto da poligamia e tem três esposas| Foto: Reuters

Até que ponto a vida pessoal do presidente de um país é uma questão íntima e quando ela passa a ser de interesse público? Esta é a pergunta que não sai das manchetes dos jornais sul-africanos há quatro dias, desde que foi publicado que o presidente Jacob Zuma teve, em outubro passado, um filho fora de seus casamentos.

Casamentos, no plural, porque Zuma, de origem zulu, é adepto da poligamia e tem três esposas. O presidente já foi casado outras duas vezes, num total de cinco matrimônios, e está noivo pela sexta vez.

Com a nova criança, Zuma tem agora 20 filhos reconhecidos. O último e mais polêmico é fruto de seu envolvimento com Sonono Khoza, filha do presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2010, Irvin khoza, seu amigo de longa data.

A discussão ganhou força depois que o porta-voz do partido de Zuma, Jackson Mthembu, argumentou que o que o presidente faz fora do gabinete não deve ser discutido publicamente. Zuma admitiu nesta quarta-feira, depois de quatro dias de silêncio, ser o pai da criança, mas acusou a mídia de invadir sua privacidade e desrespeitar seus direitos ao expor seu filho e a mãe dele publicamente.

"Não é porque ocupo esta cadeira que devo ter minha privacidade violada", afirmou o presidente em nota oficial. "É uma pena que um assunto tão íntimo seja tratado com tanta agressividade pela mídia. Filho de ninguém deve ser exposto desse jeito, nem do presidente."

Aids

No entanto, o que jornalistas, políticos e especialistas argumentam é que as ações do presidente podem trazer consequências negativas para o país, principalmente no combate à Aids. A África do Sul tem a pior epidemia da doença em todo mundo com 5,7 milhões de casos e, para muitos, o presidente deveria ser o primeiro conscientizar a população sobre a importância do sexo seguro.

Para Helen Zille, do partido de oposição Aliança Democrática, o comportamento de Zuma ajudou a minar a política de combate à doença no país.

"É um caso sério, porque mostra como Zuma é uma pessoa com atitudes duvidosas, em quem o povo não pode confiar. Como alguém pode defender em público o uso da camisa e simplesmente ignorá-la em sua vida pessoal?", questionou Zille. "Esta é a mensagem que nosso presidente quer passar aos sul-africanos?", ironizou.

Em dezembro do ano passado, dois meses depois de seu filho nascer, Zuma abraçou uma campanha nacional para o uso de preservativos e para a importância do exame de HIV. Com isso, o presidente queria se distanciar da imagem negativa de seu antecessor, Thabo Mbeki, que teve um governo desastroso na área da saúde. Mas a revelação de seu vigésimo filho serviu para tirar a credibilidade de suas ações.

"De fato suas atitudes na cama não combinam em nada com uma campanha de prevenção", criticou a cientista política Nomboniso Gasa

Em 2005, o presidente já havia protagonizado outra polêmica envolvendo sua vida sexual e a Aids. Zuma foi acusado de estupro e durante seu julgamento alegou ter tomado um banho depois do sexo para não contrair a doença. Na época, chegou a pedir desculpas aos sul-africanos pelo episódio e, em 2009, quando se tornou presidente, elegeu a luta contra a Aids uma das prioridades de seu governo.

"Zuma e o CNA (partido de Zuma) não entendem a relação entre responsabilidade pública e comportamento privado. Se alguém critica a corrupção, mas é o primeiro a roubar, está passando uma mensagem duvidosa aos cidadãos. O problema é que Zuma acredita que está acima da lei e das normas sociais", atacou Zille.

A governadora da província do Cabo Ocidental também criticou o fato de o presidente estar usando a poligamia, uma prática legal no país, para justificar suas ações.

"Ele apela para o aspecto cultural para tentar calar as críticas legítimas. Esta é uma estratégia oportunista e abusiva", analisou Zille.

O segundo partido de oposição mais importante do país, o Congresso do Povo, também foi veemente em suas críticas ao caso. Segundo o presidente do partido, Mosiuoa Lekota, Zuma "deve de se comportar como um presidente e não como um gigolô".

"Poligamia não significa promiscuidade e tal comportamento não é justificável sob quaisquer circunstâncias. É claro que o presidente não vê nada de errado nisso. Ele é um mau exemplo aos jovens", repreendeu Lekota.

No entanto, o editor do jornal sul-africano "The Citizen", Cedric Mboyisa, alertou que as pessoas, em especial a imprensa, estão criticando muito o fato de Zuma não ter usado camisinha, sem saber o presidente e Sonono Khoza fizeram o exame de HIV antes de se relacionarem.

"Claro que continua sendo um adultério, mas eles podem escolher se querem ou não se proteger, desde que não tenham a doença", ponderou Mboyisa.

Já no campo financeiro, o advogado Pierre de Vos lembrou que o vigésimo filho de Zuma também trará implicações negativas para o país.

"Educar uma criança custa cerca de um milhão de rands (R$ 250 mil) e, se o presidente tem 20 filhos, é bom perguntar quem está pagando por eles", disse De Vos.

Pela constituição sul-africana, tais despesas podem pesar ainda mais no bolso do sul-africano, caso Zuma resolva se casar com Sonono Khoza. Isso porque todas as esposas oficiais do presidente recebem uma mesada do estado de cerca de 150 mil rands (aproximadamente R$37 mil) por ano.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]