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Manifestantes iranianos em protesto contra aumento do preço da gasolina na capital Teerã, 16 de novembro de 2019
Manifestantes iranianos em protesto contra aumento do preço da gasolina na capital Teerã, 16 de novembro de 2019| Foto: AFP

A ditadura islâmica do Irã foi provocada nas últimas semanas por enormes protestos políticos - não apenas no país, mas também nas esferas de influência que o regime conquistou no Iraque e no Líbano.

Nos três países, os protestos populares explodiram espontaneamente e inicialmente se concentraram em questões econômicas, principalmente em preços altos, desemprego e corrupção.

Mas gradualmente, os protestos evoluíram para movimentos antigovernos, à medida que os regimes irresponsáveis ​​e corruptos bloquearam qualquer progresso em direção a reformas que atendessem às demandas legítimas dos manifestantes.

No Irã, as maiores manifestações desde os protestos do Movimento Verde em 2009 por fraudes nas eleições presidenciais do Irã foram desencadeadas pela decisão do regime de aumentar abruptamente os preços da gasolina em aproximadamente 50%.

Atingido duramente pelas sanções dos EUA, Teerã foi forçada a reduzir seus pesados ​​subsídios aos preços internos de combustíveis. Em vez de suspender as sanções por meio de compromissos e negociações diplomáticas, o regime optou por continuar seu caminho de confronto com os Estados Unidos, intimidação de seus vizinhos e apoio generoso a terroristas aliados.

Os iranianos, que sofrem há tanto tempo, fartos da má administração econômica, corrupção e prioridades equivocadas de seu governo repressivo, inundaram as ruas das cidades iranianas em 15 de novembro para protestar contra os aumentos de preços.

Os manifestantes também demonstraram a sua indignação contra as caras intervenções do regime em conflitos regionais. Em Isfahan, eles gritaram: "Não a Gaza, não ao Líbano. Nós sacrificamos nossas vidas pelo Irã".

O regime respondeu com violência sistemática contra manifestantes desarmados, que foram atacados por forças de segurança interna, particularmente os delinquentes paramilitares da milícia Basij, que os espancaram e dispararam tiros de munição real a curta distância contra multidões.

O regime bloqueou a internet para impedir que os iranianos se mobilizassem com o uso das mídias sociais.

Teerã colocou a culpa dos protestos em uma conspiração estrangeira criada por grupos de oposição iranianos localizados no exterior e pelos suspeitos de sempre; ou seja: Estados Unidos, Israel, Reino Unido e Arábia Saudita.

Enquanto os protestos diminuíam, o comandante da Guarda Revolucionária do Irã, general Hossein Salami, proclamou que o Irã havia derrotado a conspiração estrangeira por trás da instabilidade, que fazia parte da "guerra mundial" entre o Irã e as "potências arrogantes".

Salami alegou que a Guarda Revolucionária havia agido com "autocontrole", apesar de pelo menos 143 iranianos terem sido mortos nos protestos, segundo a Anistia Internacional.

Autoridades iranianas afirmam que 70 postos de gasolina, 731 bancos e 140 locais do governo foram incendiados durante o levante. Elas alegam que mais de mil iranianos foram presos, apesar de estimativas externas afirmarem que o número seja perto de 4 mil.

Protestos no Iraque trazem mais desafios

O regime iraniano também foi alvo de manifestantes no vizinho Iraque, que se ressentem da influência iraniana sobre os partidos políticos xiitas que dominam o fraco governo de coalizão do Iraque.

Jovens iraquianos têm realizado grandes protestos contra o governo desde o início de outubro, fartos de altas taxas de desemprego, corrupção endêmica e serviços públicos precários.

O primeiro-ministro iraquiano Adel Abdul Mahdi mal fez um esforço para satisfazer os manifestantes pedindo algumas reformas, mas as demandas endureceram em resposta à crescente repressão do governo.

A repressão do Iraque aos manifestantes teria sido orquestrada pelo vice-rei do Irã para o Iraque, general Qassem Soleimani.

Soleimani, comandante da Força Quds de elite da Guarda Revolucionária Islâmica, responsável pela coordenação com as milícias apoiadas pelo Irã, também pressionou os líderes das milícias iraquianas no mês passado a rejeitarem pedidos para que Abdul Mahdi renunciasse.

O resultado foi um banho de sangue em meio a uma crise que se aprofunda no Iraque. Mais de 430 manifestantes foram mortos e milhares foram feridos desde 1º de outubro.

Talvez surpreendentemente, a maioria dos manifestantes tem sido de xiitas iraquianos, que pertencem à mesma seita islâmica que a maioria dos iranianos. O coração xiita no sul do Iraque, que fornece a maior parte das exportações de petróleo do Iraque, mas recebe poucos de seus benefícios, foi palco de alguns dos maiores e mais sangrentos protestos.

Enquanto as milícias iraquianas apoiadas pelo Irã intensificavam seus ataques contra manifestantes, o Irã foi cada vez mais denunciado pelos xiitas iraquianos. Em 27 de novembro, manifestantes atacaram e incendiaram o consulado iraniano em Najaf, a cidade sagrada xiita que serve como sede do establishment religioso xiita do Iraque.

"Tivemos o consulado como alvo porque agora sabemos quem é a razão de tudo o que estamos passando", disse um ativista local ao Washington Post. “O Irã controla todos esses partidos islâmicos e suas milícias armadas nas ruas que tornaram nossa vida um inferno. Eles estão controlando a economia da cidade e tudo vai para eles. Enquanto isso, nem conseguimos um emprego".

Significativamente, o Grande Aiatolá Ali al-Husseini al-Sistani, principal líder religioso xiita do Iraque, rejeita a marca radical da ideologia xiita do Irã e apoiou os manifestantes contra os líderes políticos corruptos do Iraque.

Depois que o grande aiatolá pediu uma mudança de liderança, Abdul Mahdi anunciou em 29 de novembro que deixaria o cargo.

Encontrar um sucessor adequado será uma tarefa difícil. Segundo a Constituição iraquiana, o presidente Barham Salih deve solicitar ao maior bloco do parlamento a nomeação de um novo primeiro-ministro.

Mas é improvável que esse processo satisfaça os manifestantes iraquianos, muitos dos quais pedem a expulsão de todos os líderes políticos atuais e uma revisão completa do sistema corrupto de compartilhamento de poder do Iraque.

Revolta contra a revolução

A alienação dos xiitas iraquianos não é o único problema do Irã. No Líbano, onde protestos antigoverno provocados por um novo imposto sobre serviços de mensagens continuam desde 17 de outubro, a influência e a reputação do Hezbollah, o mais poderoso proxy - força por procuração - terrorista do Irã, estão cada vez mais ameaçadas.

Como no Iraque, os protestos no Líbano atraíram forte apoio dos xiitas insatisfeitos com o desempenho dos partidos xiitas que foram radicalizados, apoiados e guiados pelo Irã.

Embora o Hezbollah já tenha sido considerado o defensor da comunidade xiita do Líbano e o protetor dos interesses nacionais do Líbano contra Israel, cada vez mais ele é visto como um grupo que serve principalmente aos interesses do Irã.

Milhares de combatentes do Hezbollah foram enviados para a Síria, sob o comando da Guarda Revolucionária do Irã, para reforçar o regime de Bashar al-Assad, aliado júnior do Irã.

As sanções dos EUA ao Irã e ao Hezbollah minaram severamente a capacidade de ambos adquirirem apoio político por meios econômicos. Além disso, o Hezbollah vem se alimentando da corrupção do governo libanês e se opôs violentamente aos esforços para reformar o sistema insustentável de compartilhamento de poder político no Líbano.

Os jovens xiitas agora veem cada vez mais o Hezbollah como parte do problema do Líbano, não a solução. A imagem do Hezbollah foi manchada ainda mais por causa de suas tentativas de interromper e intimidar o movimento de protesto do Líbano.

O Iraque e o Líbano estão em uma trajetória para se tornarem estados falidos se Teerã continuar em seu curso atual.

Como o regime radical do Irã, islamistas libaneses e iraquianos apoiados pelo Irã foram forçados a reprimir os esforços de reformadores, incluindo xiitas, que eles alegam defender.

No curto prazo, os islamitas provavelmente reterão o poder através da força coercitiva de suas milícias e da Guarda Revolucionária. Mas, a longo prazo, os aiatolás do Irã e seus proxies árabes têm pouco a oferecer aos jovens muçulmanos, exceto repressão, disfunção econômica, luta ideológica e conflitos sem fim.

Quanto mais a ditadura do Irã se esforçar para se opor às reformas que ameaçam seu poder, mais cedo os jovens iranianos e árabes forçados a viver sob a opressão de Teerã chegarão à conclusão de que o modelo islâmico do Irã está em falência econômica, política e moral.

©2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês

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