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Vladimir Putin, presidente da Rússia, faz discurso sobre o estado da nação em Moscou, em 20 de fevereiro de 2019 | Andrey Rudakov/Bloomberg
Vladimir Putin, presidente da Rússia, faz discurso sobre o estado da nação em Moscou, em 20 de fevereiro de 2019| Foto: Andrey Rudakov/Bloomberg

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, alertou os Estados Unidos a não implantarem mais mísseis na Europa, com a ameaça de que Moscou poderá retaliar com novas armas que demorariam o mesmo tempo para atingir seus alvos.

Embora Putin não tenha fornecido detalhes das novas armas que a Rússia poderá utilizar, o comentário ajuda a tornar ainda mais tensa a relação bilateral com Washington e faz crescer temores de uma nova corrida armamentista

Putin, que falou durante discurso sobre o estado da União, acusou os EUA de terem abandonado o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, pela sigla em inglês), de 1987, para poder construir novos mísseis livremente e de tentarem atribuir a culpa da decisão à Rússia.

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A Rússia não planeja implantar mísseis banidos pelo Tratado de Forças Nucleares de Intermediária, mas se os EUA o fizerem, "a Rússia será forçada a produzir e implantar armas que possam ser usadas não somente contra os territórios dos quais enfrentamos essa ameaça direta, mas também para aqueles que tomam a decisão de usar esses mísseis", disse Putin, recebendo o aplauso de centenas de funcionários reunidos em um salão perto do Kremlin. 

Washington diz que não vai implantar novas armas nucleares terrestres na Europa, mas os Estados Unidos e seus aliados estão lançando as bases para implantar novos mísseis convencionais de alcance intermediário no continente pela primeira vez desde a assinatura do INF. Outro pacto sobre armas nucleares, o New Start, provavelmente vai expirar em dois anos, aumentando os riscos de confronto. 

Putin advertiu que quaisquer novas armas que a Rússia implantasse corresponderiam aos curtos tempos de voo dos mísseis instalados em bases na Europa – em alguns casos, apenas 10 a 12 minutos.  Mas não explicou como a Rússia conseguiria isso sem bases próximas às fronteiras dos EUA, como fez a União Soviética na crise dos mísseis cubanos em 1962, quando Moscou se mobilizou para instalar seus lançadores na ilha. Ataques lançados de submarinos e armas hipersônicas planejadas poderiam encurtar o tempo de voo das forças russas. 

Putin disse que muitas das armas que exibiu no ano passado entrarão em operação em breve, incluindo o sistema Avangard, que poderia carregar armas nucleares e escapar das defesas de mísseis dos EUA, e um drone subaquático chamado Poseidon.

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O líder russo criticou os aliados dos EUA na Europa como "satélites" que estavam "aderindo" à oposição de Washington em retirar-se do tratado INF. O acordo proibia mísseis nucleares e convencionais com alcance entre 500 e 5.500 quilômetros. 

Retorno à Guerra Fria

O professor de Relações Internacionais da Damásio Tanguy Baghdadi lembrou que “diferentemente dos mísseis balísticos, os mísseis de médio alcance atingem seus alvos em um tempo muito menor, o que faz com que sejam mais dificilmente neutralizados”. “Por isso havia um acordo, de 1987, que os proibia. O acordo deixou de existir há 2 semanas”, escreveu o professor no Twitter.

"Eu não acho que isso sinalize alguma mudança na política, é apenas um reconhecimento de que não há nada que possa ser feito" para melhorar as relações, disse Andrei Kortunov, chefe do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, grupo de pesquisa sediado em Moscou. "Há uma certa sensação de desgraça iminente." 

Para Baghdadi, ter mísseis de médio alcance dos EUA apontados para a Rússia e vice-versa é um retorno à Guerra Fria. “Inclusive porque as chances de algum deles imaginar que está sendo atacado, sem tempo de verificar, e retaliar, aumenta assustadoramente”, analisou o professor.

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