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A Venezuela chegará ao final do ano com o quinto ano seguido sem crescimento econômico, fruto de políticas econômicas desastradas que implodiram o setor privado e levaram o país a uma hiperinflação que pode superar o 1.000.000%, um cenário em que os preços dobram, aproximadamente, a cada mês. 

A desestruturação do sistema produtivo deve levar o país a uma queda de 18% no PIB em 2018 – acumulando 47% de retração em cinco anos. E, por incrível que pareça, não é um recorde mundial. A base de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), que compila informações sobre as economias nacionais desde 1980, aponta que o maior encolhimento de uma economia em um ano pertence à Líbia, em 2011. Em meio à Primavera Árabe e à uma guerra civil, o PIB despencou 66,7%. 

Cinco anos seguidos de contração na economia também não são um recorde. O Zimbábue conseguiu coisa pior: dez anos sem crescimento. E o governo do então ditador Robert Mugabe, que ficou 37 anos no poder, tem muita coisa com Nicolás Maduro: ambos desestruturam por completo a economia de seus países 

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Rússia (1991-6) 

  • Queda no PIB: 40,1% 
  • Anos seguidos de queda: 6 
  • Causa: mudanças radicais na economia 

Desde os anos 70, a economia soviética passava por um período de estagnação. Uma tentativa de reverter essa situação foi feita por Mikhail Gorbachev, em 1986, quando tentou implantar uma economia socialista orientada para o mercado. A tentativa fracassou, mas desencadeou um processo de desintegração política e econômica que culminaria na ruptura da União Soviética, em 1991. 

A transformação de uma economia centralizada para uma de mercado foi caótica. O antigo sistema econômico foi desestruturado. O presidente Boris Yeltsin adotou uma “terapia de choque”, baseada em recomendações do FMI e de economistas americanos. O resultado foi desastroso, com o PIB despencando. O PIB só conseguiu voltar aos níveis de 1990 apenas em 2007. O fenômeno se repetiu em outros países da antiga União Soviética: na Ucrânia, a economia encolheu 55,4% entre 1992 e 1999. No Tajiquistão, entre 1993 e 1997, a economia se retraiu 42,8%. O tombo da Geórgia foi maior: 72,4% entre 1991 e 1994.  

Zimbábue (1999-2008) 

  • Queda no PIB: 50,7% 
  • Anos seguidos de queda: 10 
  • Causa: políticas econômicas que resultaram na desestruturação do sistema produtivo 

Mais da metade do PIB do Zimbábue, um país do Sul da África, desapareceu entre 1999 e 2008. O principal motivo foi a expulsão dos fazendeiros brancos de suas terras, um movimento realizado por milícias armadas apoiadas pelo ditador Robert Mugabe. O país era um dos maiores produtores agrícolas na África. Entre 2000 e 2008, a produção de milho despencou 75%. A de fumo, o principal produto de exportação, caiu 79% entre 2000 e 2008. A safra chegou aos níveis de 1950. 

A desestruturação do setor produtivo, a interferência do governo na economia e a intimidação do Judiciário por parte do governo levaram a uma queda na confiança dos empresários. E as sanções impostas pelo Reino Unido, Estados Unidos e União Europeia complicaram a situação do país. Além da queda no PIB, outro impacto foi a violenta hiperinflação registrada: em novembro de 2008, os preços dobravam a cada 24,7 horas. Até hoje, o país não se recuperou dessa tragédia.  

Grécia (2008-13) 

  • Queda no PIB: 26,5% 
  • Anos seguidos de queda: 6 
  • Causa: desconfiança de investores que obrigou a um ajuste profundo na economia

Duas crises seguidas se abateram sobre a Grécia a partir de 2008. Primeiro, o país sentiu os graves efeitos da crise mundial, que fora detonada pelos calotes nas hipotecas americanas. Isto deixou os investidores mais avessos ao risco. Não bastasse isso e com uma economia enfraquecida, descobriu-se no final de 2009 que o governo grego manipulara as informações sobre o endividamento do país. 

Isto detonou uma crise de confiança sem precedentes. Para tentar resolver o problema, a Grécia foi obrigada a apertar fortemente os cintos. Impostos foram aumentados e gastos públicos foram cortados, fazendo com que o PIB encolhesse durante seis anos seguidos. O crescimento voltou, mas é muito tímido. Não há perspectiva sobre quando a economia voltará aos níveis pré-crise. 

Líbia (2013-6) 

  • • Queda do PIB: 76,1% 
  • • Anos seguidos de queda: 4 
  • • Causa: Guerra civil 

A Líbia foi um dos países envolvidos na Primavera Árabe, a partir de fevereiro de 2011. Mas a resistência do ditador Muamar Kadafi foi grande, levando o país a uma guerra civil. O país foi bombardeado pela França e pelos Estados Unidos. Tropas rebeldes ocuparam a capital em agosto de 2011 e o ditador foi morto em outubro. 

O que se seguiu foi o caos, a guerra civil tomou conta do país. A Líbia dividiu-se entre numerosas milícias rivais armadas e vinculadas a distintas regiões, cidades e tribos. O governo central, enfraquecido, foi incapaz de exercer sua autoridade sobre o país. A produção de petróleo despencou 72% entre 2013 e 2016, segundo dados da petrolífera britânica BP, levando a reboque o restante da economia. A fonte energética responde por mais da metade do PIB e por 97% das exportações.

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