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O novo líder do Partido Conservador e próximo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, na sede do seu partido, em Londres, 23 de julho de 2019
O novo líder do Partido Conservador e próximo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, na sede do seu partido, em Londres, 23 de julho de 2019| Foto: LEON NEAL / AFP

Boris Johnson, o recém-eleito primeiro-ministro britânico, disse uma vez que suas chances de se tornar o líder do país eram "tão boas quanto as chances de encontrar Elvis em Marte, ou de que eu reencarne como uma azeitona".

Embora Elvis ainda não tenha sido avistado em Marte - e ainda seja muito cedo para dizer que forma Johnson tomará em outra vida - o político de cabelo desgrenhado foi de fato eleito para subir ao poder nesta terça-feira (23).

Ele foi eleito em uma disputa de liderança que envolveu cédulas enviadas pelo correio por cerca de 160 mil membros do Partido Conservador, ou 0,25% dos britânicos. É um mecanismo que ele ridicularizou uma vez no passado: em 2007, quando Gordon Brown foi eleito pelo mesmo sistema de votação, Johnson alegou que ele havia atropelado "a vontade democrática do povo britânico" e chamou o processo de uma "fraude gigantesca" em uma coluna para o jornal Telegraph.

Como primeiro-ministro, Johnson herdará o desafio de realizar com sucesso o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia e administrar as consequências do Brexit depois que ele for concluído. Além disso, ele assume a liderança do Reino Unido em meio a crescentes tensões com o Irã. Como ele vai lidar com estas questões ainda não está claro. Enquanto o mundo não sabe que tipo de primeiro-ministro Johnson será, se o passado serve como indicação, é certo que ele trará um toque incomum para o número 10 da Downing Street.

Ex-secretário de Assuntos Externos do Reino Unido e ex-prefeito de Londres, Johnson venceu o seu rival Jeremy Hunt com uma grande vantagem de votos: 92.153 contra 46.656.

Boris Johnson é de ascendência turca, nasceu em Nova York e passou parte da infância em Bruxelas, Bélgica. Ele foi jornalista antes de se tornar político e trabalhou no Daily Telegraph, The Times e The Spectator. Em 2001 se tornou membro do Parlamento. Johnson foi eleito prefeito de Londres em 2008, e ocupou o cargo por dois mandatos. Entre os fatos que marcaram o seu período na prefeitura estão as Olimpíadas de Londres em 2012 e a redução das taxas de crimes na capital.

A seguir, alguns dos comentários e momentos mais memoráveis da carreira política de Johnson:

Assuntos internacionais

Como secretário de Assuntos Externos, Johnson, que não era conhecido por seu comedimento ou tato, frequentemente se desviava drasticamente das normas diplomáticas.

Em 2017, em uma visita oficial à ex-colônia britânica de Mianmar, Johnson foi filmado recitando o poema de Rudyard Kipling "Mandalay", da era colonial, em um dos lugares mais sagrados do país. O então embaixador britânico em Mianmar, Andrew Patrick, ficou tão mortificado com o ato que pediu a Johnson que parasse. "Não é uma boa ideia", disse Patrick.

Dois meses antes de se tornar secretário de Assuntos Externos, Johnson foi eleito vencedor do concurso de "poema mais ofensivo sobre Erdogan" da revista semanal britânica The Spectator, em referência ao presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Os versos escritos por Johnson descrevem Erdogan envolvido em um ato sexual com uma cabra.

Ele também se referiu ao continente africano como "aquele país" em 2016. E essa não foi a primeira vez que Johnson enfrentou críticas sobre suposta insensibilidade racial.

Ao concorrer para o cargo de prefeito de Londres em 2008, Johnson foi criticado por usar um termo historicamente considerado racista para descrever crianças negras em uma coluna de jornal de 2002. Falando sobre a indignação em torno do uso que Johnson fez de uma descrição racial antiquada e ofensiva, o apresentador de talk show Nihal Arthanayake perguntou a Johnson durante um debate nas eleições para a prefeitura: "Você está com os grupos étnicos?"

"Eu estou com os grupos étnicos. Você não é mais étnico do que eu, Nihal", disse ele. "Meus filhos são um quarto índios, então coloque isso no seu cachimbo e fume".

Sobre a Europa

Como um entusiasta do Brexit, Johnson deixava clara a sua opinião sobre pertencer à União Europeia, e às vezes usava metáforas de comida para expressar o seu repúdio. Em 2013, falando como prefeito de Londres, Johnson disse que o Reino Unido não tinha nenhum benefício por pertencer ao bloco.

"Primeiro eles nos fazem pagar com nossos impostos pelos olivais gregos, muitos dos quais provavelmente não existem. E depois eles nos dizem que não podemos molhar nosso pão no azeite em restaurantes", disse ele. "Não nos juntamos ao Mercado Comum - traindo os neozelandeses e sua manteiga - para no fim alguém nos dizer quando, onde e como devemos comer o azeite que fomos forçados a subsidiar".

Ele reiterou esse sentimento um ano depois quando perguntado sobre qual animal seria a UE. "A UE seria uma lagosta", disse Johnson. "Porque a UE, pela própria maneira como funciona, encoraja seus membros a pedir a lagosta na refeição conjunta porque eles sabem que a conta vai ser paga por todos os outros - normalmente pelos alemães".

Sobre mulheres

Johnson também causou polêmica com comentários sobre mulheres que muitos consideraram sexistas. Ao promover seu partido político, os Tories, Johnson parecia estar mirando em um grupo demográfico específico.

"Votar nos Tories fará com que sua mulher tenha seios maiores e aumentará suas chances de possuir uma BMW M3", disse ele em 2005, de acordo com o jornal Independent.

Em 2013, quando o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, e Johnson apareceram juntos em um painel, Razak observou que 68% dos estudantes universitários da Malásia eram mulheres. "Elas precisam encontrar homens para casar", brincou Johnson.

E em 2018, Johnson escreveu uma coluna em defesa da proibição da burca na Dinamarca, dizendo que as mulheres que usam essas roupas pareciam "caixas de correio" ou "ladrões de banco".

Sua principal missão

Boris Johnson terá 100 dias para concretizar a sua promessa de retirar o Reino Unido da União Europeia. O acordo para o Brexit feito por sua antecessora com o bloco é "morto", "defunto" e "precisa ser jogado fora", ele disse durante a campanha. Ele prometeu renegociar o Brexit e deixar o bloco em 31 de outubro, com ou sem um acordo. Qual é a sua estratégia, e o que está em seu caminho?

Proposta: Renegociar o acordo de retirada

Johnson quer desfazer o acordo fechado por Theresa May e reestruturar toda a negociação que foi acordada no início do processo.

O elemento mais polêmico do acordo de May é o chamado "backstop" irlandês, uma medida para garantir que a fronteira com a Irlanda permaneça aberta, seja qual for o futuro acordo comercial fechado pelos dois lados. Ele quer adiar qualquer negociação sobre a fronteira até depois que o Reino Unido deixar o bloco, argumentando que isso deveria fazer parte de futuras negociações comerciais. Ele também sugere usar o acordo de divórcio de 39 bilhões de libras (US$ 49 bilhões) para impulsionar as negociações, tornando o pagamento condicional aos termos negociados.

Obstáculos: A UE afirmou repetidamente que não está preparada para renegociar o Acordo de Retirada, e que esse é o único acordo em discussão. O bloco também disse que um backstop deve fazer parte de qualquer acordo de retirada, porque ele traz garantias de que nenhuma fronteira dura irá surgir. A conta de saída também faz parte do acordo de retirada, e deve ser paga independentemente dos termos de comércio eventualmente negociados. As leis da UE determinam que o Brexit aconteça em duas partes: a primeira é a negociação de saída e, uma vez que o Reino Unido saia, as negociações comerciais formais podem começar.

Proposta: Sair em 31 de outubro "de qualquer jeito"

Johnson disse que depois de May ter adiado o Brexit por duas vezes, o Reino Unido deve agora deixar o bloco em 31 de outubro, "de qualquer jeito", se um novo acordo for negociado ou não. Ele se recusou a descartar a suspensão do Parlamento para conseguir isso.

Obstáculos: O cronograma é apertado para negociar um acordo totalmente novo. E o Parlamento do Reino Unido opõe-se a um Brexit sem acordo. Isso ficou claro novamente na semana passada, quando conservadores se juntaram à oposição para aprovar uma emenda que visa impedir Johnson de suspender o Parlamento. A UE indicou que preferiria outra extensão a uma saída sem acordo.

Proposta: Usar regras da OMC se a UE não cooperar

Johnson disse que se a UE não oferecer um novo acordo, o Reino Unido poderá usar o Artigo 24 do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio da Organização Mundial do Comércio para garantir que os termos de comércio permaneçam os mesmos depois do Brexit.

Obstáculos: A cláusula que Johnson cita aplica-se a países que negociam um acordo comercial e não a um país que deixa um bloco comercial. Ela também exigiria a concordância da UE e um calendário claro para a negociação de um acordo comercial - e nada disso estaria garantido no caso de um Brexit hostil sem acordo. A OMC e a União Europeia disseram que isso não funcionaria.

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