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ataques à Arábia Saudita
Imagem de satélite mostra danos à infraestrutura de petróleo/gás após ataques de drones de fim de semana em Abqaig, Arábia Saudita| Foto: Divulgação/Planet Labs Inc/AFP

O ataque às instalações de petróleo na Arábia Saudita neste fim de semana destacou o que os analistas dizem ser uma ameaça, em rápida evolução, das armas fabricadas pelo Irã no Oriente Médio, marcando uma mudança potencialmente alarmante em relação a ataques de precisão em infraestruturas críticas.

Autoridades dos EUA acreditam que mísseis de cruzeiro e drones foram usados e que parte da operação, reivindicada pelos rebeldes houthis do Iêmen, foi lançada do território iraniano. O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita disse em comunicado que as investigações iniciais "indicaram que as armas usadas no ataque eram iranianas". Teerã nega envolvimento.

O Irã mantém programas avançados de mísseis e drones como parte de sua estratégia de defesa nacional e transferiu algumas dessas armas e tecnologias para forças aliadas na região, incluindo combatentes houthis no Iêmen, dizem autoridades dos EUA e especialistas em armas. Os arsenais de drones e mísseis de Teerã permitem deter os adversários e apoiar proxies (aliados) regionais, que podem atacar em nome do Irã.

"A mesma lógica estratégica que impulsiona o programa de mísseis do Irã é evidente em seu programa de drones: permite que o Irã opere a distância, mantenha seu território seguro e atinja alvos distantes", disse Behnam Ben Taleblu, membro sênior da Fundação para Defesa das democracias.

"Drones, mísseis e foguetes estão incluídos na estratégia de segurança assimétrica do Irã e são relativamente mais baratos de produzir", afirmou ele.

De acordo com a Brookings Institution, sediada em Washington, o Irã se tornou um "exportador significativo de mísseis, tecnologias de mísseis e capacidade de produção", incluindo os mísseis de longo alcance que podem ter sido usados ​​no ataque à Arábia Saudita.

Uma nova fase

A natureza sofisticada do ataque, que teve como alvo instalações sensíveis de petróleo, sinaliza uma mudança significativa em relação a operações anteriores reivindicadas pelos rebeldes houthis ou lançadas pelas forças iranianas e seus proxies na Síria.

O Irã e a Arábia Saudita são os principais rivais na região e a liderança saudita tem sido um dos principais defensores da campanha do governo do americano Donald Trump de "pressão máxima" contra o Irã. Os Estados Unidos impuseram duras sanções à economia iraniana em uma tentativa de obrigar Teerã a negociar restrições em seus programas de mísseis e diminuir apoio aos grupos aliados regionais.

"Se for provado que os mísseis de cruzeiro vieram do território iraniano, isso representaria uma escalada acentuada e indicaria uma certa confiança de que o Irã não teme represálias" da Arábia Saudita ou dos Estados Unidos, disse Taleblu.

Arábia Saudita vulnerável

Aparentemente, os sistemas de defesa saudita não conseguiram detectar os mísseis de cruzeiro e os drones que sobrevoaram suas fronteiras, ressaltando a vulnerabilidade do reino à guerra assimétrica.

"Estou surpreso que tenham sido apanhados desprevenidos", disse um empreiteiro que trabalhava em sistemas de defesa de drones para o Pentágono. Ele falou sob condição de anonimato, porque não estava autorizado a falar com a imprensa.

"Eles deveriam ter previsto isso", disse.

De acordo com um painel de especialistas das Nações Unidas no Iêmen, no passado, os combatentes houthis usaram armas conhecidas como "drones suicidas" ou "kamikazes", alguns dos quais são semelhantes aos modelos iranianos. Os houthis "mantiveram o acesso aos componentes críticos, como motores, sistemas de orientação, do exterior, necessários para montá-los e implantá-los", afirmou o relatório do painel.

Um ataque combinado usando drones e mísseis de cruzeiro poderia, em teoria, "ajudar a confundir e sobrecarregar sistemas de defesa", disse Justin Bronk, pesquisador do Royal United Services Institute, com sede em Londres, o que ofereceria vantagem estratégica ao atacante.

Segundo Markus Mueller, analista do Grupo Fraunhofer de Defesa e Segurança da Alemanha, os sistemas de radar são normalmente capazes de identificar drones voando sobre vastas extensões de terra, especialmente em superfícies planas e fora das cidades ou áreas montanhosas. O desafio, segundo ele, é ser capaz de responder aos drones invasores e proteger imediatamente a infraestrutura sensível.

Uso de mísseis de precisão

Mas os analistas também apontaram o suposto uso de mísseis de cruzeiro no ataque, que os especialistas dizem que são de baixa altitude e muito mais difíceis de detectar, como algo mais preocupante. Os mísseis podem ser guiados com precisão e permitir ataques mais devastadores em alvos específicos.

O Irã fez a engenharia reversa de um antigo míssil de cruzeiro de ataque terrestre soviético, o Kh-55, e também usou a tecnologia chinesa de mísseis antinavio para reforçar suas próprias capacidades e as de seus proxies, de acordo com analistas de armas. Durante a guerra de 2006, no Líbano, militantes do Hezbollah, apoiados pelo Irã, atacaram um navio israelense com o que especialistas dizem ser provavelmente um míssil antinavio chinês C-802 fornecido pelo Irã.

Em sua Avaliação Mundial de Ameaças de 2018, o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional disse que os rebeldes houthis tentaram um ataque de míssil de cruzeiro a um reator nuclear inacabado em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.

Esses mísseis são "mais difíceis de detectar e defender do que os drones", disse Rawan Shaif, investigadora do Bellingcat, site especializado em inteligência. "Eles podem ser incrivelmente precisos se a pessoa que os guia souber o que está fazendo", completou, dizendo que acredita que o ataque à Arábia Saudita foi realizado com um arma de precisão.

Objetivo do Irã

Henry Rome, analista do Eurasia Group, consultoria de risco político de Nova York, disse que se o Irã é, de fato, responsável pelo ataque, sua estratégia é "criar alavancagem para eventuais negociações com Washington".

O Irã quer "obrigar o governo Trump a pisar no freio das sanções e pressionar outros países a defendê-los", afirmou Rome. Os ataques às instalações de petróleo estariam "ultrapassando os limites", disse ele. "Mas é muito cedo para dizer que a situação extrapolou os níveis de segurança".

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