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Manifestantes atiram pedras após um caminhão com ajuda humanitária ter sido incendiado na ponte entre a cidade colombiana de Cúcuta e Ureña, na Venezuela. |  RAUL ARBOLEDA / AFP
Manifestantes atiram pedras após um caminhão com ajuda humanitária ter sido incendiado na ponte entre a cidade colombiana de Cúcuta e Ureña, na Venezuela.| Foto:  RAUL ARBOLEDA / AFP

A Venezuela vive uma guerra de narrativas. O principal conflito agora é sobre o incêndio de caminhões com ajuda humanitária na fronteira com a Colômbia. Para parte dos venezuelanos, o que se viu no sábado (23) nas fronteiras do país foi uma tentativa de intervenção militar por meio de uma “operação de falsos positivos”. 

Depois de afirmar que a comida e os medicamentos doados pelos Estados Unidos e aliados estavam envenenados e que eram cancerígenos, os apoiadores do ditador Nicolás Maduro disseram que a entrega da ajuda humanitária não passou de uma tentativa de agredir a Venezuela. 

“Não havia intenção alguma de trazer ajuda humanitária, o que tentavam era uma agressão contra um país que defende sua soberania e sua democracia”, afirmou o vice-presidente de Comunicação, Turismo e Cultura, Jorge Rodríguez. 

Em declarações transmitidas pela Agência Venezuelana de Televisão, ele disse que o incêndio do caminhão com ajuda humanitária, na fronteira entre Venezuela e Colômbia, foi uma “notícia falsa” e que tinha provas de que deputados opositores estariam por trás do ato. O objetivo, segundo ele, seria incriminar os militares venezuelanos. 

“Tudo isso aconteceu no lado colombiano, com a cumplicidade do presidente Iván Duque. Foi realizado pelos mesmos criminosos que estavam no caminhão, que saíram e esvaziaram os tanques de gasolina, e você pode ver claramente os coquetéis Molotov jogados para incendiar o fogo. Nesses caminhões não havia nada, eles estavam predestinados a serem queimados”, disse Rodríguez, citando o envolvimento do deputado da oposição José Manuel Olivares, quem, segundo ele, teria apanhado por não ter pago os homens que atearam fogo na carga. 

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O ministro das Relações Exteriores de Maduro, Jorge Arreaza, usou da mesma narrativa, acusando o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, e seus “assalariados” pelo incêndio do caminhão que carregava ajuda humanitária. “O secretário Pompeo, especialista da CIA em operações de bandeira falsa, acredita que engana o mundo com um caminhão queimado na Colômbia por seus próprios agentes [...]”, escreveu Arreaza na sua conta no Twitter. 

“Pompeo e seus assassinos estão desesperados para fazer um pretexto para a guerra. Hoje a operação deu errado. Se você quiser localizar aqueles que queimaram o caminhão com ajuda humanitária falsa, procure-os entre seus funcionários”, acrescentou Arreaza em um tuíte publicado no sábado. 

A oposição, em contrapartida, sustenta que forças aliadas a Maduro colocaram fogo nos caminhões com ajuda humanitária. 

“O regime usurpador se vale dos atos mais vis e tenta queimar um caminhão com ajuda humanitária que se encontra em Ureña. Nossos valentes voluntários estão fazendo uma corrente para proteger a comida e os remédios”, escreveu em uma rede social o líder oposicionista Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por cerca de 50 países. “O regime usurpador viola o Protocolo de Genebra, no qual se diz claramente que destruir ajuda humanitária é um crime de lesa-humanidade”, afirmou Guaidó. 

A deputada Gaby Arellano, da Assembleia Nacional, acusou oficiais da Polícia Nacional Bolivariana pelo incêndio.

Os caminhões estavam em uma caravana de quatro veículos que tentaram seguir viagem depois que os manifestantes romperam uma barreira de obstáculos erguida pela Guarda Nacional Venezuelana. Uma multidão em desespero tentou retirar as caixas com os suprimentos dos caminhões enquanto o fogo destruía os carregamentos.

Saída pacífica

O Grupo de Lima rechaçou a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela, após reunião em Bogotá nesta segunda-feira. Na declaração divulgada ao final da reunião, os países afirmam que a transição democrática na Venezuela deve ser conduzida “pacificamente pelos próprios venezuelanos”, com apoio de meios políticos e diplomáticos e “sem o uso da força”.

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Trata-se de uma resposta clara a Washington, que vem tratando com ambiguidade a possibilidade de uso de força militar no país.

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