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Policiais fecham o acesso aos escritórios de uma organização para direitos humanos após terem sido invadidos em Manágua, 14 de dezembro | INTI OCON / AFP
Policiais fecham o acesso aos escritórios de uma organização para direitos humanos após terem sido invadidos em Manágua, 14 de dezembro| Foto: INTI OCON / AFP

O jornal nicaraguense El Confidencial, dirigido pelo filho da ex-presidente Violeta Chamorro, Carlos Fernando Chamorro, e de oposição à ditadura de Daniel Ortega denunciou na manhã desta sexta-feira (14) que sua redação foi invadida durante a noite anterior. Nos escritórios, funcionam também os estúdios dos programas de televisão Esta Semana e Esta Noche.

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Chamorro, que já foi diretor do jornal oficial do sandinismo e aliado de Ortega no passado, hoje é um dos principais denunciadores dos abusos de seu regime, dos atos de repressão por parte do Exército e do constrangimento à liberdade de imprensa. 

Segundo Chamorro, a invasão policial foi "ilegal e violenta, um ataque direto à liberdade de expressão no país". E acrescentou: "Não conseguirão calar nossos meios, continuaremos do lado do povo denunciando os abusos desse regime". 

Foram levados vários computadores, papéis e documentos dos jornalistas que trabalham ali. 

Escritório do jornalista Carlos Fernando Chamorro após ter sido invadido pela polícia em Manágua, Nicarágua, 14 de dezembroINTI OCON / AFP

Em entrevista à Folha, por telefone, desde Manágua, o repórter Wilfredo Miranda Aburto disse que "já estávamos vendo abusos e ataques contra a imprensa, mas não imaginávamos uma invasão como esta, que foi um verdadeiro assalto, um saque. Eles renderam os seguranças que estavam de guarda, ficaram três horas aqui e levaram máquinas, documentos e câmeras, tudo o que era necessário para inviabilizar nosso trabalho". 

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Aburto é o principal jornalista do El Confidencial, autor de uma das reportagens de investigação que mais incomodaram o regime nos últimos tempos, na qual mostrou, por meio de um vazamento de e-mails da vice-presidente e mulher de Ortega, Rosario Murillo, que as forças de segurança estavam orientadas a matar durante as manifestações que vêm ocorrendo no país nos últimos meses. 

O ataque ao Confidencial não foi único. Na mesma madrugada se reportaram invasões a sedes de movimentos sociais do país, como o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos. Há poucas semanas, Miguel Mora, diretor do 100% Notícias, outro meio de comunicação crítico ao governo, foi preso. 

Crise e repressão

A crise na Nicarágua começou em abril, com uma tentativa do governo de impor uma reforma que cortava aposentadorias. A medida levou a protestos de rua, que o governo reprimiu de forma violenta. 

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Usando as forças de segurança e grupos paramilitares, como os integrantes da Juventude Sandinista, os enfrentamentos com os manifestantes causaram em seis meses mais de 350 mortos. 

"Nós estamos reportando tudo isso desde o início, e então começaram as ameaças, mas nós seguimos expondo a escalada autoritarista do governo", diz Aburto. 

O posicionamento crítico do Confidencial vem desde o retorno ao poder de Ortega, em 2007. O jornal digital realizou reportagens sobre os impactos negativos do acordo feito com a China para construir um canal similar ao do Panamá, atravessando territórios indígenas, casos de desvio de dinheiro para obras públicas e a promiscuidade entre as instituições que passou a haver nesta gestão de Ortega, que submeteu a Justiça e expulsou a oposição do Legislativo nos últimos anos. 

Chamorro fez a denúncia na manhã desta sexta-feira (14), exigindo que o regime "devolva todos os equipamentos e documentos saqueados de nossa redação". 

Entre eles, conta, estava seu próprio computador. "Não há justificativa para este ataque e para essa perseguição", afirmou. 

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Tanto a ONU como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenaram o ataque. Sobram hoje poucos meios independentes na Nicarágua, fora a cadeia nacional de transmissão de informações oficiais que é realizada por Murillo, diariamente, quando relata apenas dados positivos sobre a gestão Ortega.

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