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O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales.
O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales.| Foto: AFP

Após ficar aproximadamente um ano longe da Bolívia, primeiro na Argentina e depois no México, Evo Morales atravessou a fronteira rumo ao seu país natal nesta segunda-feira (9). Uma multidão recebeu o socialista na cidade de Villazón. Em outubro de 2019, Evo foi eleito para mais um mandato à frente do Executivo boliviano, mas o resultado dessas eleições foi contestado e considerado fraudulento pela Organização dos Estados Americanos (OEA), dando início a uma crise política no país e culminando na renúncia de Evo e, em seguida, seu refúgio.

O retorno de Morales à Bolívia ocorre apenas um dia após seu afilhado político no Movimento para o Socialismo (MAS), o economista Luis Arce, tomar posse como novo presidente. Arce, que foi escolhido a dedo por Evo para ser seu substituto, saiu vencedor do pleito presidencial realizado no dia 18 de outubro. Assim que a vitória de Arce foi projetada, Evo começou a falar da eleição no plural: “não somos vingativos, não somos revanchistas, todos estão convidados a trabalhar”, afirmou, na ocasião, acrescentando que seu retorno à Bolívia era somente uma “questão de tempo”. Esse tempo chegou rapidamente.

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Durante a campanha, Arce foi duramente criticado por seus opositores no sentido de que seria um mero “fantoche” de Evo. Diante disso, o economista tentou passar uma imagem de independência, de que seu padrinho não deveria atuar como uma espécie de sombra durante sua gestão. Quando soube que estava eleito, falou em governar para todos os bolivianos, com “unidade nacional”. Em seu discurso de posse, repetiu o apelo, pedindo à nação que se reconcilie. Ao mesmo tempo, chamou o governo transitório de Jeanine Añez, senadora ligada à direita no país que assumiu após a renúncia de Evo no ano passado, de “brutal” e “golpista”.

Em entrevista concedida à BBC logo após as eleições, o novo presidente boliviano foi questionado de forma direta sobre uma eventual influência de Morales em seu governo. Respondeu à pergunta afirmando que “já disse muitas vezes que não sou Evo Morales”. Completou: “se Evo quiser ajudar na gestão, será bem-vindo, mas não significa que ele estará no governo”.

Também à BBC, no início de novembro, Evo garantiu que não vai ser um protagonista na gestão do pupilo, mas que pretende se dedicar à formação de lideranças políticas, bem como à criação de peixes em sua fazenda, na região de Chapare.

Sobre a alegação de Arce de que Evo não atuaria em seu governo, o ex-mandatário disse: “nunca pensei nisso (...). Falei longamente sobre como compartilhar experiências, embora ele tenha muita experiência em gestão pública. Minha tarefa será dos movimentos sociais, como cuidar dos princípios ideológicos do partido [MAS], cuidar do Lucho [apelido de Arce] e do processo de mudança”. Comentou, ainda, que não vai sugerir um ministro sequer.

O retorno tão rápido de Morales à Bolívia assim que seu pupilo tomou posse, contudo, põe dúvida tanto sobre as afirmações do ex-presidente quanto sobre as de Arce. Após Evo governar por 13 anos e diante de um país bastante polarizado, Arce sabe que a imagem do mentor está desgastada. Ao mesmo tempo, contudo, o antigo chefe do Executivo ainda possui apoio bastante significativo, especialmente em relação aos indígenas bolivianos. É difícil acreditar, portanto, que Morales não vá participar ativamente do atual governo, ainda que, a princípio, somente nos bastidores.

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