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Os presidentes da Turquia, Recep Tayyip Erdogan (E), e da Rússia, Vladimir Putin, após reunião sobre a Síria na cidade russa de Sochi, 22 de outubro de 2019
Os presidentes da Turquia, Recep Tayyip Erdogan (E), e da Rússia, Vladimir Putin, após reunião sobre a Síria na cidade russa de Sochi, 22 de outubro de 2019| Foto: Sergei CHIRIKOV / POOL / AFP

A Rússia concordou nesta terça-feira (22) em ajudar a remover combatentes curdos sírios de uma grande faixa da fronteira sul da Turquia, dando apoio à operação militar turca contra a força liderada pelos curdos que havia se aliado aos Estados Unidos.

O acordo, alcançado após uma longa reunião entre o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e o presidente russo Vladimir Putin, na cidade turística de Sochi, no Mar Negro, atendeu a várias das principais demandas de segurança da Turquia, incluindo o estabelecimento de uma "zona segura" que afastaria a força liderada pelos curdos de sua fronteira.

O acordo ainda consolidou o papel da Rússia como mediador na Síria, em um momento em que a influência dos Estados Unidos na região está se dissipando.

Segundo o acordo, a Rússia e o governo sírio, seu aliado, começarão a remover milícias curdas da região de fronteira a partir do meio-dia de quarta-feira. Esse ponto foi ampliado de um acordo anterior entre os Estados Unidos e a Turquia, que havia estabelecido uma zona militar turca ao longo de uma faixa mais estreita da fronteira.

Após a retirada das milícias curdas, a Turquia e a Rússia iniciariam patrulhas conjuntas na região de fronteira.

O governo de Erdogan já havia ameaçado reiniciar sua ofensiva militar se os combatentes curdos não se retirassem completamente de uma área pré-determinada ao longo da fronteira norte da Síria com a Turquia até a noite de terça-feira. Se a retirada for concluída, Ancara concordou em interromper permanentemente sua ofensiva, que visa criar uma vasta zona de segurança para a Turquia ao longo de grande parte de sua fronteira com a Síria.

Problemas com o cessar-fogo

Esperava-se que o encontro entre Erdogan e Putin, o mais poderoso defensor do governo sírio, se concentrasse nas consequências complexas da operação militar da Turquia e no mapa de controle da Síria, que muda rapidamente, à medida que as tropas dos EUA se retiram e as facções concorrentes correm para preencher o vazio.

"Estes são dias muito críticos na região", disse Erdogan após ser recebido por Putin em Sochi. "A operação Primavera da Paz e esta reunião criarão oportunidades muito importantes", acrescentou, referindo-se ao título que a Turquia deu à sua operação militar.

Havia sinais de problemas com o cessar-fogo, mesmo enquanto a reunião na Rússia começava. As milícias lideradas pelos curdos, conhecidas como Forças Democráticas da Síria (FDS), disseram que haviam completado apenas parcialmente sua retirada de uma área que se estende por cerca de 110 quilômetros ao longo da fronteira da Turquia e 32 quilômetros ao interior do território sírio.

Mervan Qamishlo, um porta-voz das FDS, culpou o que ele chamou de ataques contínuos por parte da Turquia e das forças aliadas e disse que as forças lideradas pelos curdos haviam se retirado apenas da cidade síria de Ras al-Ain. "Parece que a Turquia não está levando o acordo a sério", disse ele em mensagem de texto na terça-feira de manhã. "Até agora, não há retirada de outras áreas."

Erdogan disse pouco antes de partir para a Rússia na terça-feira que entre 700 e 800 combatentes curdos se retiraram como parte do acordo. "Dizem que os 1.200 restantes, até 1.300, continuam saindo rapidamente", disse ele, citando informações do ministro da Defesa da Turquia. "É claro que estamos monitorando-os. Todos vão sair e esse processo não termina antes de partirem", acrescentou Erdogan.

Uma das outras tarefas difíceis de Putin é intermediar uma conciliação entre Erdogan e o ditador sírio Bashar Assad, que têm sido adversários durante os oito anos da guerra civil na Síria. A Rússia usou seu poder militar para ajudar Assad a combater a rebelião síria e está tentando garantir que seu governo recupere o controle sobre todo o país.

"Os militares russos não podem dar permissão para as forças turcas permanecerem ou deixarem o território sírio. Somente o governo legítimo da República Árabe da Síria pode fazer isso", disse o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, a jornalistas em entrevista coletiva em Sochi.

O desejo de Erdogan por uma "zona segura", que se estende por grande parte do norte da Síria, complica esse plano. Assad, durante uma visita na terça-feira a suas tropas na província de Idlib, no norte da Síria, chamou Erdogan de "ladrão" que roubou terras sírias.

Papel da Rússia se fortalece

O papel de Putin como mediador central na Síria foi reforçado depois que o governo Trump anunciou que estava retirando suas tropas restantes do norte. O anúncio - logo após Erdogan falar com Trump no início deste mês - abriu caminho para a ofensiva turca contra as FDS, o principal parceiro militar dos EUA no combate ao grupo terrorista Estado Islâmico.

"Erdogan sabe muito bem que os Estados Unidos são um fator externo para a região e para o conflito, enquanto a Rússia é agora um fator interno", Fyodor Lukyanov, analista de assuntos internacionais da Rússia que assessorou o Kremlin, disse ao jornal Vedomosti. "A Rússia controla esses processos, e muito depende de Moscou… O que a Turquia quer alcançar na Síria é impossível sem acordos com Moscou. Nenhuma ação militar séria pode acontecer lá que contrarie Moscou".

Um grande comboio de veículos militares dos EUA deixou a Síria na segunda-feira e cruzou a fronteira com o Iraque. O comboio foi interrompido em alguns lugares por curdos que acusavam os Estados Unidos de traição e atiravam pedras e vegetais nos veículos.

Na terça-feira, os militares iraquianos disseram que as forças americanas recém-chegadas teriam que se retirar do país. "Não há acordo para essas forças permanecerem no Iraque", afirmou um comunicado militar.

O secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, disse que as tropas que estão chegando não permaneceriam no Iraque "interminavelmente" e que o objetivo era levá-las para casa. Os detalhes serão definidos em discussões com autoridades iraquianas, disse ele durante uma visita na terça-feira a uma base aérea na Arábia Saudita.

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