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O presidente russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro Dmitry Medvedev em Moscou, 15 de janeiro de 2020
O presidente russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro Dmitry Medvedev em Moscou, 15 de janeiro de 2020| Foto: Alexey NIKOLSKY / Sputnik / AFP

O primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Medvedev, e os membros de seu gabinete apresentaram ao presidente Vladimir Putin um pedido coletivo de renúncia. O anúncio foi feito após o discurso anual de Putin sobre o estado da União nesta quarta-feira (15).

Em seu discurso a parlamentares e autoridades, Putin propôs profundas reformas políticas que aumentariam os poderes do parlamento, que passaria a ser responsável pela nomeação do primeiro-ministro. Atualmente, o primeiro-ministro russo é apontado pelo presidente.

O líder russo também sugeriu uma emenda à Constituição para colocar um limite de dois mandatos, no total, ao cargo de presidente. Atualmente, o limite é para dois mandatos consecutivos.

Putin defendeu a convocação de um referendo nacional para aprovar as reformas - que teriam o efeito de enfraquecer a presidência e tornar parlamento e gabinete do primeiro-ministro mais influentes. Seria o primeiro referendo desde 1993 no país.

Existe pouca expectativa de que o líder russo se retire da vida pública no futuro próximo. As propostas foram amplamente consideradas uma manobra de Putin para se manter o poder após o fim do seu atual mandato em 2024.

"O principal resultado da fala de Putin: que idiotas (ou trapaceiros) são aqueles que disseram que Putin sairia em 2024", ironizou o ativista russo Alexey Navalny, um dos principais críticos de Putin, em publicação no Twitter.

"Essas mudanças, quando adotadas, trarão mudanças significativas não apenas em vários artigos da Constituição, mas também no equilíbrio de poder em geral", disse Medvedev, em reunião com Putin. Ele justificou a sua renúncia dizendo que a sua saída dará espaço para que o presidente possa encaminhar as reformas.

Horas após a renúncia de Medvedev, Putin nomeou como novo primeiro-ministro Mikhail Mishutin, uma figura relativamente desconhecida do governo, que atuava como chefe do Serviço Federal de Impostos. A nomeação ainda depende da aprovação da Duma, a câmara baixa do Parlamento.

Medvedev passará a atuar como vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia e ainda terá muita influência neste cargo, que não existia até então. O presidente desse Conselho é o próprio Putin.

Putin estaria preparando o terreno para a transição em 2024. Segundo analistas, o presidente russo deve deixar a presidência mas manter o poder em um cargo mais reforçado de primeiro-ministro ou no Conselho de Estado.

O papel de Putin após 2024 há tempos tem sido motivo de debate entre russos e observadores. Eleito para o seu quarto mandato em 2018, Putin não pode se candidatar novamente após deixar o cargo, segundo as regras da Constituição. Porém, nada o impede de se tornar primeiro-ministro.

A reeleição de Putin para um terceiro mandato em 2012 ocorreu após ele ter atuado como primeiro-ministro por quatro anos, o que permitiu que ele tentasse o retorno à presidência.

Alguns analistas observaram que a renúncia do primeiro-ministro da Rússia pode ter sido resultado de um plano calculado por Putin e realizado por Medvedev, que já ajudou o presidente russo a manter o poder. Quando ele trocou de lugar com Putin em 2008 e se tornou o sucessor de Putin na presidência, Medvedev foi considerado por muitos como um presidente temporário; entre as suas funções, estaria permitir que Putin se tornasse presidente novamente após o seu mandato como primeiro-ministro.

"Medvedev não é de maneira nenhuma uma figura independente e não criou dificuldades a Putin durante sua presidência. Como foi em 2008, isso parece um acordo mútuo entre os dois", disse à CNN Valeriy Akimenko, analista da Rússia para o Conflict Studies Research Center.

Após vinte anos no poder na Rússia, Putin sofreu uma queda de popularidade, em parte causada por reformas impopulares na previdência e por uma economia estagnada, embora parte da população considere Putin uma fonte de estabilidade. O líder russo também enfrentou protestos durante as eleições municipais de 2019 e críticas ao período prolongado em que permanece no poder.

Conteúdo editado por:Helen Mendes
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