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O ministro do Interior e vice-premiê da Itália, Matteo Salvini, com apoiadores durante a sua campanha eleitoral "Turnê de Verão na Itália", em Policoro, sul da Itália, 10 de agosto de 2019
O ministro do Interior e vice-premiê da Itália, Matteo Salvini, com apoiadores durante a sua campanha eleitoral “Turnê de Verão na Itália”, em Policoro, sul da Itália, 10 de agosto de 2019| Foto: Alberto PIZZOLI / AFP

Durante um período de 14 meses no governo, Matteo Salvini refez a política italiana à sua imagem. Ele aprovou leis anti-imigração, não perdeu oportunidades de criticar regras da União Europeia e triunfou repetidas vezes em lutas políticas com seu parceiro de coalizão. Oficialmente, ele é ministro do interior da Itália. Não oficialmente, ele se tornou a face nacionalista e nativista do país.

Mas agora, Salvini está fazendo uma jogada por mais poder, ao pressionar para derrubar a coalizão populista de dois partidos que ele domina.

Seu objetivo: provocar uma crise, forçar novas eleições no outono e se tornar primeiro-ministro - medidas que não deixariam dúvidas sobre a ascendente identidade nacionalista da Itália.

Na semana passada, no meio de uma turnê por cidades litorâneas, onde tomou coquetéis e tocou como DJ, Salvini anunciou que havia perdido a confiança na coalizão, uma fusão da Liga, seu partido de direita, com o Movimento Cinco Estrelas, mais politicamente amorfo.

Na sexta-feira, a Liga de Salvini deu mais um passo para pressionar o governo italiano a entrar em colapso, pedindo um voto de desconfiança contra o primeiro-ministro Giuseppe Conte, que muitas vezes precisou arbitrar brigas entre os dois partidos.

A jogada de Salvini ainda pode sair pela culatra. Se a Liga seguir com o seu plano, é extremamente improvável que Conte saia vitorioso do voto de desconfiança. Mas o presidente do país, Sergio Mattarella, tem amplo poder constitucional durante os períodos de crise. Ele poderia montar um governo interino - com Salvini do lado de fora - que poderia continuar até a primavera. Salvini também poderia perder pontos nas urnas se os eleitores desaprovarem sua tentativa de jogar a Itália no caos político.

Mas, dizem os especialistas, as chances são as mesmas de que Salvini leve a Itália ao seu governo mais direitista da era pós-guerra. Com base em pesquisas atuais, novas eleições permitiriam que ele formasse um governo com um pequeno partido nacionalista, os Irmãos da Itália.

Território desconhecido

Perguntada por que Salvini faria um movimento para obter a liderança, Nathalie Tocci, diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália, disse: "Presunção".

"Ele acha que pode obter 50% dos votos", disse Tocci. "O que ele fez só pode ser explicado desta forma. Ele já estava no comando. Ele estava no comando sem ter que sempre assumir a responsabilidade".

Os analistas também especulam que Salvini pode ter enfrentado pressão de dentro de seu partido para reconsiderar o casamento com o Movimento Cinco Estrelas, que foi conflituoso quase desde o início. Os partidos são ambos nominalmente populistas, e eles se juntaram depois que uma confusa eleição de 2018 levou a longas negociações sobre a formação de um governo. Mas os dois partidos têm visões totalmente diferentes sobre programas sociais e infraestrutura. Os membros do Cinco Estrelas, no poder, têm tido dificuldades para manter a postura - como vanguarda da verdade contra a corrupção - que alimentou sua popularidade.

A Itália provavelmente enfrentará dias de incerteza sobre como as coisas serão resolvidas. O Parlamento está em recesso. Os legisladores foram para a praia. Franco Pavoncello, presidente da Universidade John Cabot, em Roma, disse que o país estava em território político "desconhecido", lidando com o caos político em agosto, e que os líderes terão que convergir em Roma para consultas.

Salvini continuou sua turnê pelas praias, mas ampliou a campanha explícita, dizendo que ele estava pedindo aos italianos "para me dar poderes totais para fazer tudo o que prometemos, sem lentidão e sem um peso em nossos ombros".

Mesmo durante os eventos como ministro do Interior, Salvini exibe o logotipo do seu partido, inalterado desde a campanha de 2018. "Salvini Premiê", diz o logo.

O senador Giovanbattista Fazzolari, do partido Irmãos da Itália, disse que seu partido tem uma "visão semelhante" à da Liga e que seria um parceiro mais coerente depois de uma nova eleição. Algumas das ideias favoritas de Salvini, incluindo uma ferrovia para trens de alta velocidade entre a França e o norte da Itália, eram incompatíveis com a agenda do Movimento Cinco Estrelas.

A principal vulnerabilidade de Salvini vem de dentro, dizem muitos analistas. No mês passado, uma gravação de áudio publicada pelo BuzzFeed supostamente mostra um representante de Salvini em Moscou negociando um plano para financiar ilegalmente a Liga com dinheiro do petróleo russo. Não há provas de que o acordo tenha sido concluído ou de que Salvini soubesse do assunto, e Salvini negou qualquer irregularidade. Mas promotores de Milão estão investigando o caso, e as incertezas pairam sobre um político que já elogiou Vladimir Putin e saiu em defesa da Rússia contra sanções aplicadas ao país.

A Liga, até agora, continua sendo de longe o partido mais popular da Itália. O partido ganhou cerca de 17% dos votos nas eleições nacionais de março de 2018 e 34% nas eleições europeias de maio. Com base em pesquisas deste mês, a Liga comandaria 38% dos votos nas novas eleições nacionais.

Lorenzo De Sio, professor de ciências políticas na Universidade Luiss Guido Carli, disse não ver uma grande "tendência extremista" na base eleitoral italiana. Em vez disso, Salvini conquistou progressivamente mais eleitores em partidos de centro que concordam que a migração para a Itália deve ser estritamente limitada, e que sentem que o país foi abandonado pela UE ao lidar com problemas econômicos e um excesso de pedidos de asilo.

Tão importante quanto isso, Salvini provou ser um incansável vendedor de sua própria marca, fazendo campanha de cidade em cidade quase sem interrupção, tuitando sobre tudo, de massas a crimes de imigrantes, e fazendo teatro político de suas batalhas com outros líderes - incluindo Luigi Di Maio, do Movimento Cinco Estrelas.

"Acho que Salvini está pensando taticamente", disse Federico Santi, analista sênior de Europa do Grupo Eurasia. "Está claro que a Liga tem a vantagem agora. Eles estão se saindo muito bem nas pesquisas."

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