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O conservador José Antonio Kast e o esquerdista Gabriel Boric se enfrentam no domingo (19) no segundo turno da eleição para presidente do Chile
O conservador José Antonio Kast e o esquerdista Gabriel Boric se enfrentam no domingo (19) no segundo turno da eleição para presidente do Chile| Foto: EFE/Elvis González

Estado de bem-estar social, feminismo, ambientalismo, barreiras contra imigrantes, família tradicional e neoliberalismo são alguns dos temas que evidenciam as diferenças entre dois modelos antagônicos que vão disputar neste domingo (19) o segundo turno das eleições presidenciais do Chile.

De um lado está o ex-líder estudantil Gabriel Boric, de esquerda, e do outro o advogado José Antonio Kast, de direita, que terminaram nos dois primeiros lugares na votação inicial, realizada em 21 de novembro.

“Com dois candidatos tão distantes no espectro político, esta eleição será - junto com o plebiscito da nova Constituição - a mais importante da história recente do Chile”, afirmou à Agência EFE Kenneth Bunker, diretor do instituto de pesquisas Tresquintos.

Mudanças profundas ou status quo?

Boric, de 35 anos, que é líder da aliança Frente Ampla, representa a parte da sociedade chilena que deseja “mudanças profundas” e que participou das grandes manifestações sociais de 2019, segundo María Cristina Escudero, especialista em ciência política da Universidade do Chile.

“Querem melhores aposentadorias, melhor educação, saúde e colocam muita ênfase no meio-ambiente e no feminino”, disse a acadêmica à Agência EFE.

Boric ganhou notoriedade em 2011, durante protestos em defesa de um sistema educacional mais justo. Desde então, ele se consolidou como um “líder forte” da esquerda, destacou Escudero.

Kast, por sua vez, é um católico fervoroso, pai de nove filhos e oriundo de uma família com laços políticos com a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), a qual defendeu publicamente em diversas ocasiões.

“Ele é mais partidário de manter o 'status quo' e de colocar os valores conservadores e da família no centro da discussão”, disse Valentina Rosas, cientista política da Universidade Católica do Chile.

Kast é contrário ao casamento igualitário, ao aborto em qualquer circunstância, e propôs que seja cavado um fosso para evitar a entrada de imigrantes ilegais em território chileno.

“Alguém muito conservador, que lembra Donald Trump”, afirmou Rosas, em referência ao ex-presidente dos Estados Unidos.

Economia e papel do estado

No campo econômico, a principal diferença entre os dois candidatos está relacionada ao papel do Estado, afirmou Eolo Díaz-Tendero, diretor do Observatório de Transparência da Universidade de O'Higgins.

“Boric tem um olhar que se liga a uma social-democracia europeia, que deseja que o Estado cubra certos direitos, enquanto Kast é partidário da preservação do atual modelo, muito marcado pela intervenção mínima”, explicou.

O sistema chileno, que por herança da ditadura de Pinochet é marcadamente neoliberal, com serviços básicos “privatizados”, levou o país a ter a maior renda per capita na América do Sul, embora também tenha se tornado o mais desigual, de acordo com a base de dados independente World Inequality Database (WID).

O diretor da Escola de Negócios da Universidade Maior, Francisco Castañeda, disse à Agência EFE que as propostas de Kast “são mais amigáveis ao mercado”, porque propõe reduções tributárias que se assemelham às da Irlanda.

“Boric, por sua vez, propõe aumentar a arrecadação em 8% do PIB, em oito anos, e considera criar um banco de desenvolvimento ou novas empresas estatais, o que gera grande desconfiança entre o setor privado”, afirmou o analista.

Segundo Castañeda, “ambos moderaram gradualmente o discurso para captar eleitores de centro em temas como tributação e aposentadoria”.

Debate sobre constituinte

Outro dos pontos centrais será o desenrolar do processo constituinte, que nasceu como forma de conter a crise política iniciada com as manifestações populares de 2019.

“Enquanto Boric tem muito mais espírito de cooperação, Kast é um cético da mudança constitucional e chegou, inclusive, a votar contra”, disse o cientista político Javier Sajuria, da Universidade Queen Mary de Londres, no Reino Unido.

Para o acadêmico, o novo governo terá um papel “fundamental”, por ser responsável por aspectos administrativos ou orçamentários, e, inclusive, pode condicionar o resultado do plebiscito de 2022, no qual os chilenos votarão para aprovar ou não o novo texto.

“Com o desafio de inaugurar uma nova Constituição pela frente, o espírito do próximo presidente vai ser crucial para as bases políticas das próximas décadas”, concluiu Bunker.

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