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O ressurgimento da extrema direita francesa está sendo uma vantagem para o candidato socialista à Presidência, François Hollande, que segue para o segundo turno no domingo (6) sem ter que fazer concessões a uma esquerda linha-dura enfraquecida.

Hollande não corre mais o risco de perder votos do centro ao apelar para os eleitores linha-dura de esquerda depois que o candidato destes perdeu no primeiro turno.

Em contraste, uma campanha lançada pelo presidente e candidato Nicolas Sarkozy para ganhar de volta os votos dos conservadores depois de um forte desempenho da extrema-direita parece estar fracassando.

Os surpreendentes 17,9% dos votos da líder da extrema-direita, Marine Le Pen, no primeiro turno em 22 de abril pareciam colocar em dúvida a liderança de Hollande sobre Sarkozy, já que a maior parte dos eleitores de Le Pen deve votar no candidato conservador no segundo turno.

Mas, uma semana depois, Sarkozy não aparenta estar melhor nas pesquisas de opinião e pode ter afastado muitos eleitores de centro com seu discurso duro sobre imigração e fronteiras, visando tão claramente a extrema-direita que chegou a aborrecer muitos em seu próprio campo.

Enquanto isso, Hollande continua com o mesmo tom e a mesma plataforma lançados em janeiro.

Abatido com seus 11% obtidos no primeiro turno, bem abaixo dos 14 a 17% que ele registrava nas pesquisas há um mês, o esquerdista Jean-Luc Mélenchon trocou as tiradas fortes por pedidos polidos a Hollande para que não deixe de lado questões como o salário mínimo.

"Hollande é muito menos onerado pela sua extrema-esquerda do que Sarkozy por sua extrema-direita", disse o cientista político Pascal Perrineau. "Hollande não precisa enviar mensagens para sua ala extrema, enquanto Sarkozy está acabado se não o fizer".

Com a campanha de Hollande atraindo votos da extrema-esquerda e do centro, seus partidários na comunidade empresarial esperam que o desvanecimento da extrema-esquerda deixe-o livre para levar adiante as reformas econômicas estruturais que seus assessores dizem que ele está ávido em fazer.

"Se Hollande vencer com uma grande margem, não vai precisar escolher ministros que sejam manipulados pela extrema-esquerda", disse o banqueiro Matthieu Pigasse, que é próximo de socialistas sêniores e foi orientado por Hollande em economia anos atrás.

Pigasse, hoje CEO da Lazard France e coproprietário do jornal Le Monde, disse acreditar que Hollande seria um reformista do porte do primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, que vendeu empresas estatais e cortou impostos em seu mandato de 1997 a 2002.

"Não faço parte da equipe de campanha, então não sei qual é a sua agenda, mas estou convencido que ele quer mudanças. Ele vem sendo prudente no que diz, mas, paradoxalmente, a esquerda francesa costuma fazer mais reformas do que a direita", ele disse. "O mercado trabalhista precisa de maior flexibilidade e acho que Hollande pode fazer isso".

As últimas pesquisas davam a Hollande uma liderança confortável de 6 a 10 pontos sobre Sarkozy antes do único debate televisivo marcado para quarta-feira.

Uma pesquisa da OpinionWay-Fiducial mostrou que 49 por cento dos eleitores acham que a campanha de Sarkozy estava tendendo demais para a direita. Entre os eleitores de centro, 60% achavam que Sarkozy havia ido longe demais e 56% julgavam a campanha de Hollande excelente.

"A posição bem de direita adotada pelo presidente para seduzir os eleitores da Frente Nacional parece ter sido totalmente contraprodutiva", disse o pesquisador de opinião Gael Sliman do instituto BVA.

Os eleitores da Frente Nacional no primeiro turno parecem estar divididos de três maneiras para o segundo turno: cerca de metade vai optar por Sarkozy, mas muitos pensam em se abster ou mesmo em votar em Hollande.

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