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Enfraquecido pelo resultado das eleições de 2 de novembro, resta a Obama “costurar” acordos para viabilizar a reeleição em 2012 | Jim Young/Reuters
Enfraquecido pelo resultado das eleições de 2 de novembro, resta a Obama “costurar” acordos para viabilizar a reeleição em 2012| Foto: Jim Young/Reuters

Opinião

José Ricardo Martins, especialista em Relações Internacionais e pesquisador do Núcleo de Relações Internacionais (NEPRI) da UFPR.

Tea Party conquista conservadores

O Tea Party (em tradução livre, o partido do chá) não é partido no sentido político. O nome escolhido faz referência ao afundamento de três navios carrregados de chá no porto de Bosto em 1773 por causa do monopólio do chá concedido à Companhia de Comércio Britânca das Índias Orientais e ao imposto ao chá. Os americanos das colônias não aceitavam pagar impostos sem ter representação no Parlamento em Londres: no taxation without representation (taxação sem representação).

Hoje, o Tea Party é um movimento social que surgiu em resposta à explosão nos gastos do governo de Obama, da dívida e do aumento de impostos. O núcleo das reivindicações do movimento pode ser resumido na palavra liberdade, como era motivação básica dos colonos americanos no evento de 1773. Com a palavra liberdade, os simpatizantes do grupo querem ver-se livres do governo grande, dos grandes gastos, da grande dívida pública e de imposto grande.

As idéias centrais do Tea Party, segundo seu site oficial (www.teaparty.org), são elencadas como suas crenças não negociáveis. Os cidadãos e políticos são convocadas a aderir à estas crenças. Elas são: estrangeiros ilegais são ilegais; favorecimento do emprego no país é indispensável (isto significa, dar prioridade aos produtos locais); exército forte é essencial; interesses especiais devem ser eliminados; o direito de posse de armas é sagrado; o governo deve ser reduzido; o orçamento nacional deve ser equilibrado; o déficit público deve terminar; planos de resgate (às empresas) e estímulos são ilegais; reduzir impostos sobre a pessoa física é uma obrigação; reduzir impostos sobre as empresas é obrigatório; cargos políticos disponíveis para os cidadãos comuns; o governo intrusivo deve terminar; é necessário manter o inglês como língua fundamental; e valores tradicionais da família devem ser encorajados.

Como uma plataforma conservadora e ancorada na situação econômica precária do país, o Tea Party conseguiu ganhar a simpatia dos eleitores evangélicos, e do americano comum em geral, o que custou a derrota ao partido do Presidente Obama, o Democrata. Contudo, representa uma ameaça aos Democratas e aos Republicanos também. Hoje com 75% dos eleitores republicanos simpatizando com a causa do Tea Party, especula-se se o Partido Republicano irá absorver o Tea Party (se irá tomar o chá) ou vice-versa. Assim, com o Presidente Obama planejando novos gastos vultosos, as ideias do Tea Party ganham centralidade na discussão política e sobre o papel do Estado.

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Após sofrer a maior derrota de um partido na Câmara em 62 anos, tudo mudou para o presidente Barack Obama. O excesso de ex­­pectativas sobre seu governo – apontado em 2008 como possível solucionador de uma crise econômica com poucos precedentes na História americana – também ge­­rou grande desapontamento entre os eleitores. Como resultado, o voto de confiança dado a Oba­­ma e aos Democratas em 2008 agora se transfere para os Republicanos, que recuperaram a maioria na Câmara e também diminuíram a margem de diferença em relação aos Democratas no Senado. O novo cenário coloca Obama praticamente contra a parede. Restam ao presidente poucas op­­ções para viabilizar os dois anos de go­­verno que lhe resta e, de quebra, ainda tentar alavancar seus índices de popularidade com vistas a uma possível reeleição em 2012.

"A possibilidade de reeleição de Obama é o ponto chave desta disputa. E com a perda significativa de votos nessas eleições, ele terá que apostar numa reversão dessa situação, o que será bastante complicado", analisa Luis Fer­­nando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Mas o que, de fato, deverá fazer Obama para reverter essa situação? "Obama vai ter que passar a negociar muito mais com o Con­­gresso", responde Moisés Mar­­ques, coordenador do curso de Relações Internacionais da Facul­­dade Santa Marcelina (Fasm). A boa notícia para os Democratas – segundo indica Moisés Mar­­ques – é que talvez seja exatamente este o fator mais favorável a Oba­­ma. "Ele negociou muito com os Republicanos no início do governo, uma caraterística im­­portante agora, pois ele ganhou legitimidade nesse tipo de processo."

E quando o assunto é negociar, Obama não perde tempo. Logo após o anúncio da derrota para os Republicanos – já na madrugada de quarta-feira – o Presidente tratou de telefonar para líderes republicanos para propor-lhes que trabalhem juntos com os Demo­­cratas para encontrar um "terreno comum". Obama ligou para John Boehner (possível novo líder da Câmara) e para Mitch McCon­­nell, líder republicano no Senado. Boehmer teria dito ao telefone que "seria honesto" com o pre­­si­­dente e se comprometeu a cooperar com Obama no que diz respeito às prioridades do cidadão americano.

Mas no discurso feito por Boeh­­mer na quarta-feira, o possível substituto de Nacy Pelosi na Câ­­ma­­ra dos Representantes disparou: "O povo americano falou e eu acho que está bastante claro que a agenda Obama/Pelosi está sendo rejeitada pelo povo americano".

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