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Passageiros embarcam em ônibus na cidade de Bordeaux com destino a Paris: improvisação diante do caos nos aeroportos | Jean Pierre Muller/AFP
Passageiros embarcam em ônibus na cidade de Bordeaux com destino a Paris: improvisação diante do caos nos aeroportos| Foto: Jean Pierre Muller/AFP

Crise complica e passageiros ficam para trás

Depoimento de Jennifer Koppe, repórter de Vida e Cidadania

Cheguei a Barcelona no dia 15 de abril para participar de uma coletiva de imprensa promovida por um laboratório farmacêutico. Quando desembarquei na Espanha, não tinha ideia do que estava acontecendo. Só descobri à noite que um vulcão havia entrado em erupção na Islândia. Não podia imaginar que o problema cresceria tanto.

O meu voo sairia segunda-feira, mas, no domingo, eu já sabia que seria muito difícil deixar a Espanha, pois a fumaça havia descido para o sul do continente e estava se aproximando. Em todos os canais de notícias da Europa o assunto era o mesmo. A cada minuto descobria que novos aeroportos fechavam e que grande parte dos voos havia sido cancelada.

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A Air France para os franceses

Depoimento de Marcio Antonio Campos, editor-assistente de Vida e Cidadania

Muitos dias em Paris acompanhando o noticiário nos deram uma capacidade de entender um pouco de francês, e o resto vai na base da adivinhação. Especialmente as palavras para "aberto", "fechado" e derivados estão na ponta da língua. Foi assim que soubemos, no fim da noite de domingo, que a Air France estava organizando um voo de Toulouse, no sul da França, para São Paulo. Deveria decolar à meia-noite desta segunda-feira, mas para estar nele era preciso não apenas remarcar a passagem, como também estar no Aeroporto Charles de Gaulle às 6 horas de segunda, para pegar o ônibus até o sul da França – inviável para mim e minha família. O detalhe é que o aviso sobre o voo especial, por muito tempo, esteve em francês no site airfrance.fr, mas demorou para entrar em inglês no airfrance.com.br.

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  • Veja as áreas afetadas pelas cinzas do vulcão islandês

As autoridades europeias anunciaram ontem um plano para tentar pôr fim ao caos aéreo vivido pelo continente desde quinta-feira, em meio a acusações de que houve excesso de cautela na decisão de fechar os espaços aéreos de vários países por causa da erupção do vulcão Eyjafjallajoekull, na Islândia, e preocupações de que os efeitos financeiros negativos para as companhias aéreas se espalhem para o resto da economia.

Mas o plano de retomada dos voos estava ameaçado ontem à noite, depois que a atividade do vulcão se intensificou durante o dia e uma nova nuvem de cinzas começou a se espalhar sobre a Grã-Bretanha, segundo informações divulgadas pelo Centro de Controle do Tráfego Aéreo do país (Nats, na sigla em inglês). A mu­­dança na atividade vulcânica pode interferir na reabertura do espaço aéreo de vários países.

Cautelosa, a Comissão Euro­­ peia anunciou na tarde de ontem a criação de três zonas de voo, com o intuito de aumentar o número de decolagens hoje para 45% do habitual – ontem esse índice foi de 30%. Essas zonas serão definidas com base na informação de satélites, institutos de meteorologia e voos-teste feitos pelas empresas aéreas no fim de semana.

Na zona 1, os voos seguiriam totalmente proibidos dada a alta concentração de cinzas vulcânicas no ar; na segunda, os voos seriam retomados gradativamente a partir das 8 h de hoje (3 h no Brasil) com base na análise meteorológica; na terceira, que compreende pontos mais periféricos como Espanha, Escócia e Ro­­mê­­nia, os voos seriam liberados. De­­talhes sobre cada área seriam divulgados na madrugada.

Pesadelo

O continente, até a noite de on­­tem, vivia um pesadelo logístico com 17 mil passageiros à deriva em seus aeroportos, passagens de trens e ônibus esgotadas para des­­tinos-chave e agências de aluguel de carros surpreendidas pela de­­manda. "Não temos condição de garantir nenhuma previsão [de normalização total dos voos]’’, dis­­se em entrevista coletiva por webcast José Blanco López, o mi­­nistro dos Transportes da Espa­­nha, país que está à frente da presidência rotativa da União Euro­­peia (UE).

As autoridades aéreas europeias entraram na linha de tiro das companhias ontem, que as acusaram de exagerar o risco e proibir mais voos do que o necessário. "Já avançamos o suficiente nesta crise para expressar nossa insatisfação com a forma como os governos lidaram com ela: sem avaliação de risco, sem consultas, sem coordenação e sem liderança’’, disse Giovanni Bisignani, di­­retor-geral da Iata (associação mundial do setor), em comunicado à imprensa.

O espanhol Blanco rebateu. "A segurança vem em primeiro lu­­gar, veio até agora e continuará vindo’’, retrucou. Alguns economistas, embora ainda sem dados suficientes, aventaram o risco de desaceleração da incipiente retomada econômica europeia após a crise global. Até ontem haviam sido cancelados 82 mil voos, o que afetou 7 milhões de pessoas e in­­terrompeu o fluxo de carga, atravancando a produção.

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