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Se, nesta Copa do Mundo, estivesse em jogo a qualidade da democracia, o jogo das oitavas-de-final entre Suécia e Suíça, que acontecem nesta terça-feira, a partir das 11 horas em São Petersburgo, seria uma espécie de final antecipada. Os dois países estão entre os Top 10 do Índice da Democracia do Economist Intelligence Unit (EIU). Mas, quando o assunto é futebol, os escandinavos têm vantagem. Até a Rússia, foram 11 participações. E em quatro delas chegou entre os quatro primeiros colocados (1938, 1950, 1958 e 1994). 

A Suíça tem um desempenho pior: são 10 participações sem contar a atual Copa. E os melhores resultados estão lá para trás: chegou por três vezes às quartas de final (1934, 1938 e 1954). O país contribuiu para um dos recordes da história das Copas: o maior número de gols em uma partida. Foram 12, nas quartas de final da Copa de 1954, quando a Áustria venceu por 7 a 5.

Eleições e imigração na Suécia 

Longe dos gramados, a Suécia é conhecida como um dos países mais socialmente iguais do mundo. Quando se trata de gênero, o país também é um exemplo: de acordo com a Freedom House, as suecas ganham o equivalente e 95,5% dos salários dos homens quando são contabilizadas diferenças de idade, setor e experiência. 

Mas o país também enfrenta desafios. Em setembro haverá eleições gerais e um dos principais temas que serão debatidos até lá é a imigração. Nos últimos anos, um movimento anti-imigração vem ganhando força na política, decorrente, principalmente, do aumento da violência causada por gangues em subúrbios dominados por imigrantes. O partido que levanta a bandeira nacionalista, o Democratas Suecos, já é o terceiro maior no país e promete ganhar ainda mais influência nas eleições deste ano. 

Uma das propostas do partido é fazer um referendo para tirar o país da União Europeia. A ideia tem ganhado espaço entre eleitores, e os principais partidos também estão adotando um discurso mais nacionalista no que se refere ao crime e à imigração, numa tentativa de conter o Democratas Suecos, que, segundo a Reuters, tem aproximadamente 20% da preferência do eleitorado — em 2010, primeira vez que disputaram as eleições, eles conquistaram 5.7% dos votos.

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Embora a imigração comece a ser vista cada vez mais com desconfiança pela população, os suecos precisam de imigrantes qualificados para manter a economia do país aquecida. Em fevereiro deste ano, um grupo de CEO’s de algumas das mais proeminentes empresas da Suécia, como a H&M e a Ericsson, assinaram uma carta afirmando que a expulsão de empregados estrangeiros “prejudica os negócios” e que “as firmas suecas precisam contratar globalmente”. “Não podemos esperar que engenheiros, técnicos de TI e outros especialistas deixem seus países se correrem o risco de serem expulsos da Suécia por razões imprevisíveis”, afirmaram os empresários. Uma análise feita pela organização de Indústrias Suecas de TI e Telecomunicações, publicada pelo site sueco The Local, aponta que no país haverá um déficit de 70 mil empregos na área em 2022. 

Os imigrantes também são importantes para o futebol sueco. Na Seleção que hoje disputa as oitavas de final com a Suíça, 17,4% dos jogadores são imigrantes, segundo reportagem do Times of India com base em dados da OCDE.

Relações entre Suíça e UE

A participação dos imigrantes é ainda mais relevante para a seleção suíça: 65% dos jogadores são imigrantes, nascidos em 13 países diferentes. O técnico do time, Vladimir Petkovic, disse que a seleção tirou “forças da diversidade cultural existente em seu elenco” ao rebater as críticas de que são uma das equipes mais fracas da Copa do Mundo, segundo informou a Reuters. 

E não é só no futebol que os imigrantes são importantes para a Suíça. Em setores como a saúde, eles também têm papel fundamental. Como a Reuters apontou em uma reportagem publicada em 27 de Junho, a Suíça não tem médicos locais suficientes e quase um terço deles são cidadãos da União Europeia, embora o país não seja membro do bloco de 28 países.

Entretanto o discurso anti-imigração também está ganhando terreno por lá, sob a justificativa de que os suíços estão perdendo bons empregos e qualidade de vida. Com base nesse sentimento, o partido Povo Suíço, anti-União Europeia e anti-imigração, ganhou a maioria das cadeiras no parlamento, e está movendo o discurso político para a direita em um momento em que a Suíça está negociando suas relações com a UE. 

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Nesta quarta-feira o país e o bloco vão iniciar uma negociação sobre a assinatura de um tratado que substituiria mais de 100 acordos entre os dois lados. Caso as conversas sejam produtivas, os suíços votarão o acordo em um referendo: se aprovado, poderá estreitar as relações com a UE e afrouxar as regras para a movimentação de pessoas entre os países europeus; se rejeitado, a Suíça aumentará sua capacidade de barrar imigrantes mas também corre o risco de se isolar diplomaticamente e prejudicar sua economia.

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