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A primeira-ministra britânica Theresa May volta para sua residência oficial após pronunciamento à imprensa | TOLGA AKMEN / AFP
A primeira-ministra britânica Theresa May volta para sua residência oficial após pronunciamento à imprensa| Foto: TOLGA AKMEN / AFP

A primeira-ministra Theresa May sobreviveu a uma moção de desconfiança na Câmara dos Comuns nesta quarta-feira (16), com uma pequena margem de 19 votos, um dia após a humilhante derrota de seu plano para o Brexit ter ameaçado tanto a sua liderança quanto a saída do Reino Unido da União Europeia. 

Normalmente, espera-se de um líder britânico que no dia anterior tivesse perdido uma votação sobre a legislação mais importante de seu governo por margem semelhante – 432 a 202, a pior derrota parlamentar em um século – que renuncie ou seja afastado. Mas estes não são tempos normais. 

O Brexit está dividindo a sociedade britânica e suas classes políticas, à medida em que os dois lados se transformam em tribos em guerra, os “Leavers” (que querem a saída do bloco) e os “Remainers” (que defendem a permanência do Reino Unido na EU). Nenhum dos dois lados tem poder suficiente para superar o outro. 

“Acho incrível que ela esteja seguindo como primeira-ministra”, disse Jonathan Tonge, professor de Ciências Políticas da Universidade de Liverpool. “Não apenas por causa do tamanho da derrota, mas também porque ela disse que esse era o melhor e único acordo”. Então, por definição, qualquer curso que ela seguir agora é um curso inferior”. 

May agora deve retornar ao Parlamento na segunda-feira para apresentar aos legisladores algum tipo de "Plano B" para a saída da união. No entanto, as divergências profundas sobre como e se o Reino Unido deve sair do bloco europeu persistem. 

Leia também: Rejeição do acordo do Brexit coloca em dúvida a saída do Reino Unido da União Europeia

Em Bruxelas, diplomatas europeus disseram que o ônus estava sobre os legisladores britânicos para chegar a uma proposta – qualquer proposta – que poderia ganhar a maioria em Westminster, de modo que poderia haver uma base para as negociações continuadas entre os lados em Bruxelas. Os líderes europeus expressaram impaciência – e pavor crescente – de que o Reino Unido estava correndo em direção ao penhasco do Brexit em 29 de março, sem redes de segurança. 

Em breves comentários diante de sua residência oficial em Downing Street, May disse que compreendia se as pessoas que estavam do lado de fora do Parlamento considerassem as 24 horas anteriores “inquietantes”. 

“Agora os membros do Parlamento deixaram claro o que eles não querem, todos nós devemos trabalhar juntos de forma construtiva para definir o que o Parlamento quer”, ela disse, acrescentando que convidou os líderes de todos os partidos para uma reunião para tentar elaborar um acordo que poderia passar pela amargamente dividida Câmara dos Comuns. 

O líder do Partido Trabalhista Jeremy Corbyn, que iniciou o movimento de desconfiança contra o governo, até agora recusou sua proposta, disse May. 

Líderes trabalhistas insistiram que May deve primeiro descartar um Brexit sem negociação, que, segundo eles, causaria caos para trabalhadores britânicos. 

“Antes que possa haver quaisquer discussões positivas sobre o caminho a seguir, o governo deve remover, claramente e de uma vez por todas, a perspectiva da catástrofe de uma saída sem acordo e todo o caos que viria como resultado disso”, Corbyn disse. 

Líderes do Partido Nacional Escocês estiveram reunidos com May nesta semana, mas disseram que evitar um Brexit sem acordo, estender o prazo para deixar a União Europeia, e considerar um segundo referendo “têm que estar sobre a mesa” como opções. 

May disse novamente no Parlamento na quarta-feira que não apoiaria uma segunda votação. 

No Partido Conservador de May, também, facções marcaram posição. A ala linha-dura pró-Brexit do partido publicou na quarta-feira um plano para deixar o bloco comercial de 28 países sem acordo e negociar com a Europa como um terceiro país. 

Embora um terço dos membros do Partido Conservador na terça-feira tenha votado contra o acordo de saída de May negociado com os líderes europeus, e mesmo que os Conservadores tenham desafiado sua liderança em um voto de confiança só do partido no mês passado, os Conservadores a apoiaram no voto de confiança que envolveu toda a Câmara dos Comuns na quarta-feira. 

Tim Bale, um professor de política da Universidade Queen Mary de Londres, disse que May ainda ocupa o cargo, em parte, porque ninguém em seu partido quer assumir o leme do Brexit. 

“Quem mais está lá? Quem quer assumir esse papel?” Bale perguntou. “Nenhum brexiteer linha dura quer, porque eles sabem que, no fundo, não pode ser feito e eles não querem ser responsabilizados por isso. E qualquer outra pessoa teria que vir de uma perspectiva Brexit suave e acabaria dividindo o partido”. 

Além de não ter um líder óbvio esperando nos bastidores, os Conservadores não querem uma eleição geral contra o Partido Trabalhista. 

A disputa entre os partidos durante o debate de um dia sobre o destino de May na quarta-feira foi pontuada por uma retórica devastadora e fortes investidas. 

Tom Watson, o vice-líder do Partido Trabalhista, era sutil, mas arrebatador. “432 a 202, senhor presidente” ele começou, citando a margem com a qual May perdeu seu plano para o Brexit. 

“Isso não é um simples ferimento”, disse Watson. “Ninguém duvida de sua determinação, que geralmente é uma qualidade admirável, mas quando mal aplicada pode ser tóxica”. 

Os conservadores tentaram virar as mesas com um discurso estrondoso de Michael Gove, o secretário do Meio Ambiente. Gove falou sobre Corbyn: “Ele quer sair da OTAN. Ele quer se livrar do nosso dissuasor nuclear e, recentemente, em um discurso ele disse: ‘Por que os países se vangloriam sobre o tamanho de seus exércitos? Isso é completamente errado. Por que não copiamos a Costa Rica, que não tem exército algum?’ Sem aliados. Sem impedimento. Sem exército. De jeito nenhum este país pode um dia permitir que esse homem seja nosso primeiro ministro”. 

Os conservadores urraram de alegria. 

Corbyn disse May estava dirigindo um “governo zumbi”, levantando o espectro da primeira-ministra morta-viva, repetindo várias vezes que “Brexit é Brexit”, enquanto devora os cérebros de seu partido. 

“O Brexit é como um buraco negro que devora toda a luz”, disse Angela Eagle, do Trabalhista. 

Phillip Lee, membro do Partido Conservador que renunciou ao cargo de ministro porque se opôs ao acordo de May para o Brexit, perguntou à primeira-ministra se ela aceita que agora tenha que mudar sua abordagem em relação ao Brexit. 

May não disse que sim, mas ela também não disse que não. 

Nicola Sturgeon, líder do Partido Nacional Escocês, disse à BBC que falou com May após a derrota do seu plano para o Brexit. Sturgeon disse: “Para ser franco, eu não recorri muito – ela se esforçou para dizer que queria sentar-se com outros partidos e ouvir outras ideias. Mas eu tive a nítida impressão de que ela não tem uma ideia clara sobre quais são os próximos passos, e não me parece que ela esteja preparada para abandonar ou mover qualquer uma de suas linhas vermelhas para abrir espaço para novas abordagens a serem apresentadas”. 

Sturgeon acrescentou: “Parecia que ela o que ela queria fazer era encontrar uma pequena variação de seu acordo atual – o que foi tão esmagadoramente rejeitado na noite passada”.

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