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Neste desenho feito pelo artista Jane Wolsak, Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, fala com o advogado David Martin no tribunal de Vancouver, British Columbia, em 10 de dezembro  | JANE WOLSAK/AFP
Neste desenho feito pelo artista Jane Wolsak, Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, fala com o advogado David Martin no tribunal de Vancouver, British Columbia, em 10 de dezembro | Foto: JANE WOLSAK/AFP

O dramático impasse sobre a prisão de uma executiva chinesa, no Canadá, por acusações relacionadas a violações de sanções ao Irã se aprofundou na terça-feira (11), quando sua audiência de fiança foi ofuscada pela notícia da prisão de um ex-diplomata canadense na China – e alguns comentários inesperados do presidente dos EUA, Donald Trump. 

Em entrevista à Reuters, ele disse que poderia intervir no caso do Departamento de Justiça contra a executiva da Huawei Technologies, Meng Wanzhou. 

"O que quer que seja bom para este país, eu faria", disse ele à agência de notícias. "Se eu achar que é bom para o que será certamente o maior acordo comercial já feito – o que é uma coisa muito importante, o que é bom para a segurança nacional – eu certamente interviria se achasse necessário".  

O comentário, em desacordo com observações anteriores de autoridades americanas, ocorreu pouco depois de Meng, diretora financeira da Huawei, ter sido libertada sob fiança enquanto aguarda uma audiência sobre a extradição para os Estados Unidos. 

Enquanto isso, autoridades canadenses confirmaram que Michael Kovrig, ex-diplomata canadense e analista do International Crisis Group, foi detido na China

Ainda não estava claro se o caso de Kovrig estava relacionado às ameaças da China de que haverá "consequências severas" para o Canadá se Meng não for libertado. Mas a detenção de um cidadão canadense na China certamente complicará um impasse já complexo envolvendo Pequim, Washington e Ottawa.

O caso

Meng, de 46 anos, foi presa em 1º de dezembro enquanto estava em trânsito no aeroporto de Vancouver. Isso ocorreu no mesmo dia em que Trump se reuniu com o presidente chinês Xi Jinping nos bastidores da cúpula do G20 na Argentina para tentar uma trégua na disputa comercial entre EUA e China. Os dois presidente acordaram, naquela ocasião, em não elevar tarifas nos próximos 90 dias, prazo em que negociaram um acordo para colocar um ponto final na guerra comercial.

Embora o momento pareça coincidência, já que o mandado de prisão de Meng tinha data de 22 de agosto, a China vê o caso como uma tentativa de garantir influência na guerra comercial entre EUA e China e pediu a libertação imediata de Meng. 

Uma intervenção de Trump parece confirmar a suspeita da China de que isso não é um procedimento legal, mas uma negociação política, potencialmente mudando os termos do conflito. 

Tiro no pé

William Reinsch, ex-funcionário do Departamento de Comércio do governo Clinton, disse que a declaração do presidente "ridiculariza o princípio do Estado de Direito e não nos torna melhores que os chineses". Se Trump quiser intervir no caso como uma tática de negociação comercial, Reinsch disse que "ele deve ficar de boca fechada até que Xi venha até ele e peça ajuda".  

Edward Alden, especialista em comércio do Conselho de Relações Exteriores, expressou uma opinião semelhante: "Eu acho que é importante para o presidente pesar suas opções, embora seja melhor fazê-lo silenciosamente em vez de publicamente".  

Leia também: Trégua na guerra comercial: acordo entre EUA e China promete ser histórico

Jeff Moon, que negociou acordos comerciais com a China para a administração Obama, disse que Trump precisa lidar com o caso da Huawei apenas como um problema legal. "Qualquer intervenção ou ligação com outras questões complicará desnecessariamente a relação bilateral e talvez impeça a resolução da guerra comercial", disse Moon. 

Sem política

Desde que Meng foi levada sob custódia, os Estados Unidos disseram pouco sobre a prisão. A embaixadora dos EUA no Canadá, Kelly Knight Craft, negou que o caso fosse político. "Isso faz parte do nosso processo judicial", disse ela a repórteres em Ottawa.  

Quando pressionados por repórteres, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e Chrystia Freeland, ministra das Relações Exteriores do Canadá, insistiram que a prisão de Meng foi uma medida legal, e não política.  

"O que é importante para nós comunicarmos à China e aos canadenses é que a detenção da Sra. Meng não é um julgamento político do Canadá", disse Freeland em um evento em Toronto na terça-feira. "Isto é sobre o Canadá cumprir um tratado de extradição sem qualquer interferência política. Acreditamos muito fortemente em seguir os compromissos do nosso tratado e em não interferir politicamente". 

Huawei

Embora a Huawei tenha alcance global, sua expansão há muito vem sendo frustrada pelas preocupações dos EUA de que esteja muito próxima do governo chinês e possa constituir uma ameaça à segurança nacional dos EUA. 

A Huawei e a China negam essas acusações e afirmam que as alegações de segurança dos EUA são um esforço para prejudicar os negócios da empresa que é a segunda maior fabricante de smartphones. 

Leia também: Prisão de executiva chinesa vira caso de espionagem, orgulho ferido e guerra comercial

Em um comunicado divulgado após a decisão de fiança na terça-feira, a Huawei disse: "Temos toda a confiança de que os sistemas legais canadense e norte-americano chegarão a uma conclusão justa nos procedimentos a seguir. Como sempre enfatizamos, a Huawei cumpre todas as leis e regulamentos aplicáveis nos países e regiões em que operamos, incluindo as leis de controle de exportação e sanções da ONU, EUA e União Europeia. Aguardamos ansiosamente uma resolução oportuna desse assunto". 

Na sexta-feira, diante de um tribunal lotado em Vancouver, o promotor John Gibb-Carsley argumentou que Meng cometeu fraude em 2013 ao dizer às instituições financeiras que a Huawei não tinha conexão com uma empresa baseada em Hong Kong Skycom, que, segundo foi relatado, vendeu bens americanos ao Irã, violando sanções dos EUA.  

Defesa

O advogado de Meng disse que negará a acusação.

Em um depoimento publicado no domingo, Meng fez seu pedido de libertação. 

"Meu pai fundou a Huawei e eu nunca faria qualquer coisa que causasse danos à reputação da empresa", disse ela. "Eu desejo permanecer em Vancouver para contestar minha extradição, e vou contestar as acusações em julgamento nos EUA se eu me render". 

Ao longo de mais de dois dias de deliberação, a equipe de Meng argumentou que ela deveria ser libertada sob fiança porque está com a saúde debilitada e tem laços estreitos com Vancouver, onde ela possui duas casas e é um visitante frequente. 

Seu advogado inicialmente disse que seu marido, um cidadão chinês que passa um tempo em Vancouver, poderia servir como seu fiador – uma sugestão que o juiz e os promotores não pareciam gostar. 

Na terça-feira, sua equipe sugeriu quatro outros residentes de Vancouver dispostos a responder por ela: seu agente imobiliário em Vancouver, um agente de seguros que já trabalhou com ela na Huawei, uma mulher cujo marido uma vez trabalhou na Huawei e um vizinho. Todos concordaram em colocar suas casas ou dinheiro como garantia contra sua fuga. 

As condições de sua fiança estipulam que ela deve morar em sua residência em Vancouver, obedecer a um toque de recolher e circular somente dentro de uma parte designada da cidade.

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