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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com a primeira-ministra britânica, Theresa May, durante jantar na Winfield House, residência do embaixador americano, onde Trump está hospedado durante sua visita à Londres, em 4 de junho
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com a primeira-ministra britânica, Theresa May, durante jantar na Winfield House, residência do embaixador americano, onde Trump está hospedado durante sua visita à Londres, em 4 de junho| Foto: Chris Jackson / POOL / AFP

No segundo dia da visita de Estado ao Reino Unido, o presidente americano Donald Trump se encontrou com Theresa May, nesta terça-feira (4), em meio a protestos no centro de Londres.

Em coletiva de imprensa, Trump e May reafirmaram seu comprometimento com um "grande acordo comercial" após a saída do Reino Unido da União Europeia.

A reunião entre os dois líderes aconteceu um dia após Trump e sua família terem se encontrado com membros da família real britânica, incluindo a rainha Elizabeth II, que organizou um banquete no Palácio de Buckingham na noite de segunda-feira.

Protestos anti-Trump menores do que o esperado

Os protestos em Londres contra a visita de estado de Trump foram menores do que o esperado; a multidão compareceu em menor número do que em sua última visita.

Milhares de pessoas se reuniram no centro de Londres com cartazes protestando contra as políticas de Trump sobre minorias, saúde, mudanças climáticas e palestinos. Mas a multidão nesta terça-feira chuvosa não conseguiu alcançar o tamanho da multidão naquela sexta-feira ensolarada de julho, quando os organizadores estimaram que cerca de 250 mil foram às ruas.

Os organizadores estimam que 75 mil pessoas participaram dos protestos nesta terça-feira.

"Eu ouvi que houve protestos; eu disse, onde estão os protestos?" Trump disse na coletiva de imprensa com a primeira-ministra Theresa May. "Eu não vejo nenhum protesto. Eu vi um pequeno protesto hoje quando eu cheguei. Muito pequeno. Então, muito disso é notícia falsa".

Os organizadores haviam prometido um "Carnaval da Resistência" na Trafalgar Square. Políticos, sindicalistas e ativistas fizeram discursos no palco montado a uma curta distância de Downing Street, onde Trump se encontrou com May.

O líder do Partido Trabalhista Jeremy Corbyn foi a atração principal, criticando o ataque feito por Trump pelo Twitter ao prefeito de Londres Sadiq Khan, protestando contra o racismo e advertindo o governo a não permitir que o Serviço Nacional de Saúde fosse incluído nas negociações comerciais entre os dois países.

Os cartazes variavam de mensagens simples para as mais criativas. Um balão representando Trump como um bebê gigante com mãos pequenas estava flutuando em frente ao Parlamento quando o presidente passou.

Confiança no Brexit

Em uma coletiva de imprensa conjunta com a primeira-ministra britânica, Theresa May, que está de saída do cargo, o presidente Trump expressou confiança de que o Brexit aconteceria. "Eu acho que vai acontecer", disse ele, acrescentando: "Este é um grande país, que quer ter sua própria identidade… acho que ele merece um lugar especial".

Em resposta aos comentários de Trump, May disse que era do interesse do Reino Unido deixar a União Europeia com um acordo de retirada - em vez de sair abruptamente e cair novamente nas regras da Organização Mundial do Comércio. Ela disse: "Parece que lembro que o presidente sugeriu que eu processasse a União Europeia, o que não fizemos. Fizemos negociações e saímos com um bom acordo".

Trump disse: "Eu teria processado, mas tudo bem. Eu teria processado e resolvido, talvez, mas você nunca sabe." Mas, em contraste com outras vezes em que ele criticou o modo da primeira-ministra de lidar com o Brexit, ele reconhecer que May é "provavelmente uma melhor negociadora do que eu".

May abriu a coletiva de imprensa com agradecimentos a "Donald" pela cooperação com o Reino Unido - por expulsar 60 oficiais de inteligência russos em solidariedade após um ataque com agentes nervosos em solo britânico; por ter realizado ataques aéreos na Síria após o uso de armas químicas pelo país; e por promover a ideia de que os membros da OTAN devem partilhar as responsabilidades pela segurança. Ela destacou o Irã e o Acordo de Paris sobre o clima como pontos de diferença.

Com uma frase que pode se referir tanto ao Brexit quanto às relações transatlânticas, ela disse: "Sempre acreditei que a cooperação e o comprometimento são a base dos relacionamentos".

Acordo comercial "fenomenal" e entrada americana no sistema de saúde britânico

Trump disse que os Estados Unidos estavam comprometidos com um "acordo comercial fenomenal" com o Reino Unido pós-Brexit, sugerindo que o comércio poderia triplicar. Ele elogiou May como uma "tremenda profissional e uma pessoa que ama muito o seu país".

Trump previu um acordo sobre a Huawei e descartou a ideia de que o compartilhamento de informações de inteligência possa ser suspenso ou reduzido. Quanto a um novo acordo comercial com o Reino Unido, ele disse que "tudo estará na mesa", nas negociações, incluindo o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido.

May respondeu que "o sentido de fazer acordos comerciais é que ambos os lados negociam e ambos os lados decidem o que está no acordo comercial". Outros políticos britânicos mais tarde rejeitaram a sugestão de Trump de que o sistema de saúde estaria sobre a mesa nas futuras negociações comerciais entre os EUA e o Reino Unido.

O acordo comercial entre os dois países poderia incluir a abertura do sistema de saúde britânico para a competição americana. Segundo o jornal The Guardian, há uma preocupação generalizada no Reino Unido a respeito de empresas dos EUA que prometem serviços de saúde com cortes de custos e que querem vender alimentos com menores padrões ambientais e de bem-estar animal, como o frango lavado com cloro, uma técnica usada nos EUA.

O Serviço Nacional de Saúde foi criado no pós-guerra e é muito estimado pelos britânicos, de todas as tendências políticas, mesmo quando reclamam dos tempos de espera. Um dos principais argumentos da campanha pelo Brexit foi que, deixando a União Europeia, o Reino Unido poderia retomar o controle do seu dinheiro e investir no sistema de saúde. Depois de tudo isso, a ideia de que empresas norte-americanas poderiam entrar e concorrer pelo serviço incomodou.

Mas após repercussão negativa sobre a declaração de Trump sobre o sistema de saúde na coletiva de imprensa, o presidente parece ter recuado. Em entrevista ao programa de televisão "Good Morning Britain", Trump parece ter mudado de ideia em uma resposta ao apresentador, Piers Morgan.

Um trecho da entrevista divulgado pelo jornal The Guardian mostra a pegunta do apresentador: "Nenhum líder, me parece, permitiria que o Reino Unido de fato vendesse o Serviço Nacional de Saúde como parte de um acordo comercial. O senhor, como presidente americano, veria isso como um empecilho ao acordo, se o NHS não estivesse sobre a mesa?"

Trump respondeu: "Eu não vejo isso como estando na mesa. Alguém me fez uma pergunta hoje, e eu digo que tudo pode ser negociado, porque tudo pode, mas eu não vejo isso como sendo... Isso é algo que não consideraria como parte do comércio. Isso não é comércio".

Estilos diferentes

Logo após a eleição de Trump, May foi a primeira líder estrangeira a visitar o recém-eleito presidente no Salão Oval. Naquele encontro, ela começou a promover um acordo comercial pós-Brexit. Mas esses são dois líderes com estilos e visões de mundo muito diferentes, e eles nunca desenvolveram uma relação especial.

Um ano atrás, quando Trump fez sua primeira visita ao Reino Unido, o republicano chocou a 10 Downing Street ao dar uma entrevista ao tabloide The Sun em que destruía o acordo de May para o Brexit, na véspera de sua chegada. "Eu teria feito diferente. Na verdade, eu falei à Theresa May como ela deveria fazer isso, mas ela não me ouviu", afirmou Trump.

A notícia saiu enquanto May recebia Trump e sua esposa no local de nascimento de Winston Churchill. Há relatos de que os convidados estavam olhando incrédulos para os seus celulares.

O encontro entre Trump e May desta terça-feira aconteceu em um momento complicado. May foi destituída de seu posto - não pelos eleitores ou pela oposição, mas por seu próprio Partido Conservador, devido à sua incapacidade de entregar o Brexit.

May anunciou sua renúncia no mês passado. Ela renunciará oficialmente na próxima sexta-feira, e será substituída como líder do partido e primeira-ministra até o final de julho.

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