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Um dos desafios do futuro presidente da Colômbia será o de combater a pobreza: 28% são extremamente pobres no país andino, segundo o Banco Mundial | Milo Miloezger/
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Um dos desafios do futuro presidente da Colômbia será o de combater a pobreza: 28% são extremamente pobres no país andino, segundo o Banco Mundial| Foto: Milo Miloezger/ Unsplash

A Colômbia chega polarizada às urnas neste domingo (17), quando se realizará o segundo turno das eleições presidenciais. De um lado, acusações contra Ivan Duque, do partido Centro Democrático (centro-direita), criticado por ter pouca experiência e acusado de ser um fantoche do ex-presidente Álvaro Uribe. Do outro, Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá, que pertence ao partido Colômbia Humana e já mostrou simpatia pelo ex-líder venezuelano Hugo Chávez.

Quem ganhar as eleições no terceiro país mais populoso da América do Sul vai enfrentar um momento turbulento a partir de 7 de agosto, a data da posse. Apesar de a economia estar bem, o futuro presidente deve enfrentar uma série de desafios: a crescente produção de cocaína, um questionado acordo de paz com um grupo guerrilheiro marxista e o fluxo de migrantes venezuelanos que fogem da crise econômica, social e política.

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A campanha do segundo turno foi marcada pela ausência de debates. Segundo o jornal El Espectador, Duque deu a entender que já foram suficientes os debates realizados. Já a equipe de campanha de Petro enfatizou que ele está disposto a discutir as ideias: “Votar informados e conhecer as propostas dos candidatos é um direito fundamental dos colombianos.” 

A polarização é mais evidente quando se olha para as redes sociais. Mas ela não deve atrapalhar a tranquilidade do processo eleitoral, que começou em março, com as eleições legislativas, e continuou em maio, com o primeiro turno das eleições presidenciais. Ao contrário do que ocorreu em outros anos, não houve registro de assassinatos de candidatos. 

O analista Mario Gomez, da consultoria Prospectiva, não vê problemas nesse cenário de polarização. “É algo natural em um cenário pós-conflito, onde não predominarão temas como o processo da paz ou o combate às Farc.” 

Ele destaca que questões que tradicionalmente estão na agenda política de outros países estão dominando o discurso eleitoral colombiano: combate à corrupção, saúde, educação, desemprego e segurança. Gomez complementa dizendo que:

Estas eleições estão sendo um grande divisor na política colombiana

Os colombianos também estão mais interessados em política. Em um país onde o voto não é obrigatório, 53,3% dos eleitores inscritos foram às urnas no primeiro turno das eleições presidenciais. No início do ano, segundo levantamento feito pela empresa de pesquisa Invamer, a pedido da revista Semana e da rádio Notícias Caracol, a expectativa era de que 39,8% dos eleitores fossem às urnas. 

Ameaças ao processo de paz? 

O analista não acredita que uma eventual vitória de Duque acabe com o processo de paz. “Para a Farc, voltar às armas é muito difícil”, diz ele. Entre as justificativas estão a sua desmobilização, que fez com que deixasse de controlar importantes rotas do narcotráfico, uma das principais fontes de financiamento do grupo guerrilheiro. 

Segundo Gomez, o melhor que as Farc têm a fazer é se concentrar no cenário político. O processo de paz estabeleceu que eles tenham cinco cadeiras na Câmara de Representantes e cinco no Senado. Nas eleições legislativas, foram um fracasso: os candidatos apoiados por eles tiveram 52 mil votos em um universo de 17,3 milhões. 

Ivan Duque, o favorito nas pesquisas, é apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, um crítico ferrenho do processo de pazNicolo Filippo Rosso/ Bloomberg

Duque é uma figura que agrada mais ao mercado financeiro. Segundo relatório do banco de investimentos Itaú BBA, uma vitória dele provavelmente seria positiva para o mercado, mas seu governo herdaria desafios relacionados ao ajuste fiscal e à implementação do processo de paz. 

Uma das propostas do candidato de centro-direita é reduzir os impostos das empresas, com o objetivo de estimular os investimentos. Mas, para compensar o impacto fiscal negativo, ele sugere cortar gastos desnecessários e combater a sonegação. Duque também pretende flexibilizar as regras para a produção e exploração de petróleo. 

O temor de uma segunda Venezuela

Uma das preocupações dos eleitores é de se Gustavo Petro for eleito, a Colômbia siga os rumos da Venezuela, que se encontra em uma grave crise institucional. Analistas políticos, entretanto, descartam esta possibilidade. 

Um dos fatores que dificultam a “venezualização” do país é o fraco desempenho da esquerda nas últimas eleições legislativas, realizadas em março. Os grandes vencedores foram os partidos de direita e centro-direita, que tendem a apoiar Duque.  Eles conseguiram a maioria, ocupando mais de 60% das cadeiras no Legislativo. Relatório do Santander, divulgado no final de março, aponta que este resultado possibilita a manutenção da política fiscal e do atual arcabouço macroeconômico. 

Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá e candidato de esquerda à presidência da ColômbiaJOAQUIN SARMIENTO/ AFP

Outro aspecto que dificulta que o país andino siga os caminhos venezuelanos é a característica pessoal de Gustavo Petro. “Por si só, ele não tem condições de mudar o sistema colombiano”, destaca Gomez, da Prospectiva. Ele é classificado como uma pessoa que tem uma personalidade complexa e que problemas para trabalhar em equipe. 

A agenda de Petro prevê a redução do déficit fiscal, por meio da criação de novos impostos, que atingiriam principalmente grandes proprietários de terras improdutivas, e suspendendo algumas isenções. Ele também defende maiores investimentos com educação e saúde.

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