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Futura sede do governo boliviano, em meio ao casario em estilo colonial de La Paz | AIZAR RALDES/AFP
Futura sede do governo boliviano, em meio ao casario em estilo colonial de La Paz| Foto: AIZAR RALDES/AFP

 O presidente Evo Morales terá um novo palácio presidencial com 28 andares, heliporto, suíte com jacuzzi, sala de massagem e academia. O prédio custou US$ 34 milhões para o país mais pobre da América do Sul. A inauguração marcada para esta quinta-feira, 21, foi adiada devido às críticas. O arranha-céu se destaca entre as poucas mansões coloniais que ainda existem no centro histórico da capital La Paz e fica atrás do atual palácio presidencial, que abriga presidentes desde o final do século 19. 

 O novo escritório de Evo ficará no 26º andar da "Casa do Povo", como foi chamado o novo palácio, e terá janelas blindadas, com vista para os bairros pobres amontoados nas ladeiras que cercam a cidade. 

 Diversos setores têm questionado os gastos exagerados do governo com a construção e, por isso, a oposição prefere chamar o prédio de "palácio do Evo". "É uma expressão de irresponsabilidade diante da contração econômica e do distanciamento com a realidade do país", afirma o analista e escritor José Rafael Vilar. Segundo ele, "não é novidade que os líderes populistas e caudilhistas precisem se prolongar com monumentos faraônicos, em seu desejo de serem magníficos e eternizados". 

Popularidade minada

 Evo nasceu em uma cabana de adobe sem água ou eletricidade e chegou à presidência em 2006, como o primeiro presidente indígena e força renovadora após o colapso dos partidos tradicionais, envolvidos em escândalos e corrupção. Depois de mais de 12 anos no poder, os antigos problemas políticos minam sua popularidade, um ano e meio antes das eleições, segundo apontam analistas e pesquisas recentes. 

 "Não é um luxo, é servir melhor as pessoas. O palácio atual parecia um buraco de rato", disse o presidente em 2014, quando a construção começou. No ano passado, ele inaugurou um museu para exibir seu próprio legado na aldeia de Orinoca, onde nasceu. A suntuosa edificação destoa das casas mais pobres do planalto árido no oeste boliviano. Em um dos quartos, o destaque é a camisa da seleção de futebol argentina que Evo ganhou de Lionel Messi. 

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 Depois de ganhar com 54% dos votos em 2005, o presidente obteve as votações mais altas na história do país e chegou a 67% em um referendo de 2008, quando o país viveu uma bonança por conta dos preços altos de matérias-primas. No entanto, a pobreza ainda castiga 40% dos bolivianos. 

 Desde 2014, o Movimento pelo Socialismo, que está no poder, sofreu derrotas sucessivas em eleições regionais, incluindo um referendo em 2016, que rejeitou o projeto de Evo para modificar a Constituição e se qualificar para um quarto mandato. Apesar da derrota, o presidente conseguiu autorização de um tribunal para poder concorrer na eleição de 2019. Enquanto isso, cresce a demanda pelo respeito ao voto popular. 

Além disso, as alegações de corrupção corroeram a popularidade do governo e apenas 25% das intenções de voto são para Evo, segundo pesquisa realizada em junho. 

 Avaliações 

 "No escritório se vai trabalhar, a piscina e a sauna são para o fim de semana", criticou o governador de La Paz e opositor de Maduro, Féliz Patzi. O ministro da Defesa, Javier Zabaleta, veio em defesa do presidente, afirmando que ele apenas terá "um lugar de descanso para fazer uma pausa de sua agenda agitada". 

 Como presidente, Evo tem direito a uma residência oficial, remodelada nos anos 90. Para o novo palácio, no entanto, alguns materiais vieram da Alemanha, Estados Unidos e China. O chefe de Estado ocupará dois andares de 1068 metros quadrados e terá um elevador exclusivo. Além disso, o prédio conta com um auditório para mil pessoas. 

 O ex-presidente e historiador Carlos Mesa acrescentou que a obra "danificou a imagem urbano-arquitetônica da sede do governo em nome da modernidade". Enquanto isso, o principal líder da oposição, Samuel Medina, propôs que a construção, de 120 metros de altura, seja convertida em um hospital para desafogar o déficit de serviços públicos na capital.

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