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Refugiados rohingya de Mianmar descansam perto de um campo de refugiados depois de chegar ao Bangladesh | ADAM DEAN / NYT
Refugiados rohingya de Mianmar descansam perto de um campo de refugiados depois de chegar ao Bangladesh| Foto: ADAM DEAN / NYT

No ocidente, dois regimes ditatoriais reprimem fortemente a oposição e matam seus cidadãos, seja com tiros ou de fome. Na Ásia, a perseguição a uma minoria religiosa resulta em imigração em massa, enquanto a Península da Arábia é palco da maior crise humanitária do mundo. 

O mundo vive um período de estabilidade, mas confrontos locais e regionais ainda são motivo de atenção e preocupação. Saiba quais são os nove principais conflitos em andamento no mundo.  

1 - Venezuela

O ditador Nicolás Maduro tenta esconder que a Venezuela não vive uma crise humanitária. Mas o enorme fluxo de pessoas que deixam o país diariamente – cerca de 5.000 por dia, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) – escancara a realidade. 

A economia venezuelana se deteriora rapidamente. Projeções do Fundo Monetário Internacional indicam que a inflação neste ano deve atingir 1.300.000% e chegar aos 10.000.000% em 2019. O PIB deve tombar 18% em 2018 e 5% em 2019, fazendo com que a economia venezuelana seja a metade do que era em 2013, quando o ditador Nicolás Maduro chegou ao poder. A falta de dinheiro afeta a saúde, a educação e aumenta a violência e o êxodo.

A oposição busca uma saída democrática para a crise, mas até agora em 2018, só viu as coisas piorarem. A aparente manipulação das eleições municipais de 2017 e o adiantamento da corrida presidencial em 2018 fizeram com que os principais partidos de oposição desistissem de concorrer às eleições de 20 de Maio, que deram a Maduro mais seis anos no poder. O pleito foi duramente criticado internacionalmente por suspeitas de fraude e manipulação de eleitores.

Um suposto atentado com bombas contra o ditador em agosto resultou em uma repressão ainda maior por parte do regime. Mais de 20 pessoas foram presas, acusadas de envolvimento no “magnicídio”. Uma delas é Juan Requesens, deputado federal e crítico ferrenho do regime madurista. Sua captura foi feita antes mesmo de a Assembleia Nacional Constituinte retirar sua imunidade parlamentar e autorizar a prisão.

Recentemente um preso político, também detido por envolvimento no suposto atentado, foi morto na sede do Sebin (Serviço de inteligência Bolivariano). As autoridades venezuelanas concluíram que Fernando Albán, vereador da oposição em um distrito de Caracas, havia se suicidado ao pular do 10º andar do prédio, mas a família e o partido ao qual pertencia, o Primero Justicia, acreditam que ele tenha sido assassinado. A ONG Foro Penal informou, em levantamento divulgado em novembro, que há 286 presos políticos na Venezuela.

Lideranças regionais e organizações internacionais, como a União Europeia e a ONU, estão discutindo o que pode ser feito para controlar a crise migratória e de direitos humanos da Venezuela. A hipótese de uma intervenção militar chegou a ser levantada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, mas ela logo foi descartada pelos presidentes da América do Sul, que buscam uma saída pacífica para o que se tornou o maior problema da região.

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2 - Coreias 

Desde o início de 2018, muita coisa mudou na relação entre as Coreias e entre a Coreia do Norte e os EUA. As ameaças de bombas de destruição em massa deram lugar à diplomacia de alto nível. Trump e o ditador Kim Jong-un realizaram o primeiro encontro entre os líderes em exercício dos dois países em junho deste ano e iniciaram as conversas para a desnuclearização da Península Coreana. 

Ainda há muito trabalho a ser feito para que os países alcancem a paz na região, mas progressos foram registrados: os EUA suspenderam os exercícios militares com a Coreia do Sul, marcados para este ano; em contrapartida, a Coreia do Norte devolveu os restos mortais dos americanos que morreram na guerra da Coreia, destruíram uma base de lançamento de mísseis e libertaram prisioneiros americanos. 

Esse movimento tem sido amplamente apoiado pela Coreia do Sul, que tem interesses comerciais com o Norte. O presidente Moon Jae-in já pediu para os EUA afrouxarem as sanções contra o país de Kim Jong-un. 

As conversas sobre desnuclearização continuam sob a supervisão do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, mas a passos lentos. Trump e Kim já concordaram com uma segunda cúpula para dar mais celeridade ao processo, mas data e local ainda não foram definidos. 

Em meados de novembro, novas imagens de satélite identificaram 20 bases de mísseis ocultas na Coreia do Norte – mais uma prova de que Kim Jong-un continua desenvolvendo seu programa de mísseis balísticos. Segundo a imprensa internacional, a inteligência americana já sabia da existência destas bases, mas elas não seriam foco do governo neste momento, já que o presidente Donald trump alega ter “neutralizado a ameaça nuclear de Pyongyang”. 

3 - Síria 

guerra da Síria está em seu capítulo final e este longo conflito reformulou as alianças no Oriente Médio ao longo dos últimos sete anos. Todos os envolvidos querem o fim da guerra, mas o momento e como isso se dará está longe de ser consenso. 

O ditador Bashar al-Assad recuperou quase todo o território que havia perdido no início da guerra e quer consolidar o controle sobre o que restou de seu país. 

A Arábia Saudita e a Turquia gostariam que a guerra terminasse com as atuais configurações do tabuleiro. Ainda há um reduto rebelde no país, na província de Idlib, e para esses países é interessante manter alguns focos de resistência ao regime Assad. São esses atores os que mais têm a ganhar com a zona desmilitarizada criada em Idlib neste mês. 

O Irã quer expandir os laços militares com Assad e evitar qualquer esforço da Rússia para minimizar sua influência com seu governo, ou seja, quer auxiliar o regime sírio a exterminar os rebeldes de seu território. Fazendo isso, o país ganha mais influência na Síria, se consolida como uma potência regional e ganha alcance em uma região próxima a Israel, seu inimigo histórico. 

O papel da Rússia é o mais relevante e complexo. Putin quer solidificar a posição de seu país como a potência externa superior na Síria. Como Assad, a Rússia preferiria evitar um banho de sangue civil em Idlib que afastaria o país ainda mais da Europa e dificultaria a arrecadação de fundos para a reconstrução. No entanto, ainda não há sinais de que ações ameaçadoras possam forçar a rendição de forças rebeldes e jihadistas. 

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4 - Iêmen 

O Iêmen vive uma persistente instabilidade política e a guerra civil já se tornou a pior catástrofe humanitária do mundo, superando inclusive a da Venezuela. O então presidente Ali Abdullah Saleh foi derrubado em 2011, dentro dos movimentos que marcaram a Primavera Árabe. Chegou-se a formar um movimento para conduzir a transição, incluindo todos os partidos políticos que forneceriam sugestões para reformas. Também seriam realizadas eleições e, eventualmente, seria escrita uma nova constituição. Mas as iniciativas fracassaram. 

Concentrados no Norte do país, os rebeldes houtis começaram, a partir de 2014, ocupar partes do país e, aproveitando a instabilidade da região, eles tomaram a capital Sanaa. O governo do país, exilado, tenta, desde então, recuperar o território, apoiado por uma coalizão liderada pela Arábia Saudita, que vê os houthis como aliados dos iranianos e teme que eles se fortaleçam na Península Arábica. 

Atualmente está sendo travada uma batalha pelo porto de Hodeida, um reduto houthi por onde passava cerca de 70% da ajuda humanitária para o país. Pelo menos 149 pessoas morreram – 110 houthis, 32 combatentes pró-governo e 7 civis. 

Desde dezembro do ano passado, pessoas começaram a fugir das áreas de conflito, mas o êxodo se intensificou e mais de dois milhões já abandonaram suas casas. As crianças também estão sofrendo: mais de cinco milhões estão ameaçadas pela fome e, segundo a estimativa da ONG Save the Children, 85 mil crianças menores de cinco anos morreram de fome. A situação tende a persistir no médio prazo. 

Conversas de paz estão marcadas para dezembro. Até lá, a coalizão liderada pela Arábia Saudita vai se apressar para garantir a tomada do porto de Hodeida. 

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5 - Repressão aos rohingyas 

crise rohingya em Mianmar entrou em uma fase perigosa, ameaçando a transição democrática difícil de Myanmar, a sua estabilidade e de Bangladesh e da região como um todo. 

Um ataque feito em agosto pelo Exército de Salvação Rohingya Arakan (ARSA), grupo militante no estado de Rakhine em Myanmar, levou a uma resposta militar brutal contra a comunidade islâmica Rohingya. O ataque levou a um grande êxodo de refugiados, com pelo menos 700 mil rohingyas saindo de Bangladesh. A ONU classificou o caso como uma limpeza étnica e acusou militares das Forças Armadas de Mianmar de genocídio. 

"Um ano depois que os militares de Mianmar começaram sua campanha mais ampla de violência contra a etnia – queimando aldeias, matando e forçando centenas de milhares a fugir para Bangladesh depois que insurgentes atacaram vários postos policiais – não há muito progresso nos procedimentos de responsabilização. 

Os esforços da comunidade internacional são considerados pouco convincentes e basicamente se concentraram na liderança do país: os generais acusados de orquestrar a matança e a expulsão, e a líder civil de Mianmar, Aung San Suu Kyi, laureada com um Nobel da Paz em 1991, e cujo fracasso em deter a violência atraiu críticas no exterior. 

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6 - Afeganistão 

guerra do Afeganistão já é a segunda mais longa na história dos Estados Unidos, atrás apenas da guerra do Vietnã, que durou 19 anos e cinco meses. Os Estados Unidos invadiram o país em 7 de outubro de 2001 com o objetivo de desmantelar a al-Qaeda, grupo terrorista que estava por trás dos ataques de 11 de setembro, e remover os talibãs do poder no Afeganistão, que forneciam uma base segura para as operações da al-Qaeda. Também era no Afeganistão onde o governo americano afirmava que estava escondido o terrorista Osama bin Laden, que já era procurado pelos EUA desde 1998. Posteriormente, outros países da Organização do tratado do Atlântico Norte (OTAN) entraram na guerra apoiando os EUA. 

Passados 17 anos da invasão do país e sete anos da morte de bin Laden, não há sinais de que a guerra vá acabar tão cedo. 

O Taliban, que governou o Afeganistão desde meados da década de 1990, foi derrubado após a invasão em 2001. Hoje o grupo tem o apoio do Estado Islâmico, da Al Qaeda e da rede Haqqani. 

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O International Crisis Group (ICG) estima que em 2018 mais de 20 mil pessoas vão morrer no conflito, que está a um passo de se tornar mais letal do que a guerra da Síria. Grande parte deste número se deve aos ataques do Estado Islâmico no país que, mesmo com um efetivo limitado estimado em 2.000 combatentes extremistas, tem acelerado o ritmo de ataques e contribuído para a desestabilização do Afeganistão, segundo disse à AFP Michael Kugelman, pesquisador do think tank americano Wilson Center. 

Por causa disso, os Estados Unidos decidiram aumentar o apoio militar por lá neste ano, enquanto defendem uma "solução pacífica". Cerca de 14 mil soldados americanos apoiam as forças afegãs, com formação ou em operações. 

Recentemente, a Rússia se engajou na tentativa de mediar conversas entre Afeganistão e Taliban, mas as duas partes ainda estão muito longe de negociar um acordo de paz. 

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7 - Nicarágua 

Um conflito que até o início do ano estava fora do radar passou a ter atenção mundial: a crise sociopolítica na Nicarágua. 

Em abril deste ano, o governo de Daniel Ortega viu milhares de pessoas tomarem as ruas para protestar contra a reforma previdenciária. O líder do país voltou atrás com a proposta, mas já era tarde demais: o povo pedia a derrubada de Ortega e de sua esposa e vice, Rosario Murillo. 

Personagem chave na derrubada da ditadura da família Somoza, em 1979, desde que voltou ao comando do país centro-americano, Ortega tem tomado medidas autoritárias para cercear a oposição e a imprensa, além do movimento para reformar a Constituição e permitir a reeleição indefinida. “As eleições de 2016 marcaram o estabelecimento da ditadura no país”, diz o cientista político americano Kai Thaler, professor assistente de estudos globais da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (Estados Unidos). 

A resposta de Ortega foi violenta. Centenas de pessoas morreram em operações das forças de segurança do país ou nas mãos de paramilitares aliados ao ditador, como a brasileira Raynéia Gabrielle Lima, que estava terminando a faculdade de medicina no país centro-americano. 

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Uma missão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) esteve na Nicarágua e produziu um relatório afirmando que, nos três primeiros meses de conflito, aproximadamente 300 pessoas foram mortas e 2.000 ficaram feridas devido à repressão do governo. A missão foi expulsa do país e não há relatórios internacionais recentes sobre o conflito. Há, porém, documentos atualizados produzidos por organizações nicaraguenses de direitos humanos. A Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH) informou, no sábado (10), que em quase sete meses de protestos o número de mortos chega a 535, enquanto que o de feridos passa de 4 mil. O governo reconheceu, até agora 199 mortes. 

Também há um grande número de presos políticos. A oposição contabiliza mais de 500 pessoas detidas por motivos políticos, mas o governo reconhece 273 prisões decorrentes de manifestações. Algumas dessas pessoas foram julgadas e receberam penas de até 24 anos de detenção, maior do que recebida pelo assassino de Raynéia, condenado a 16 anos de encarceramento. 

Enquanto isso, Ortega faz uso da mesma tática de Maduro para tentar justificar seus crimes: afirma que é vítima de uma tentativa de golpe de estado. 

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8- Israel x Palestina 

Os confrontos entre Gaza e Israel vêm aumentando desde que os palestinos lançaram uma campanha de protestos contra Israel no final de março, quando os Estados Unidos inauguraram sua embaixada em Jerusalém. Mais de 220 palestinos e um soldado israelense foram mortos. A campanha começou como um esforço para chamar a atenção para a deplorável situação dos palestinos, mas incluiu repetidos ataques a Israel e esforços para romper a cerca que divide as fronteiras, coordenados pelo grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza. 

O Hamas, que não reconhece Israel como um Estado, culpa os inimigos pelas condições de vida precárias na Faixa de Gaza, que sofre um forte bloqueio de Israel há mais de uma década. Mas a prioridade no combate a Israel está fazendo com que não sejam investidos adequadamente recursos em infraestrutura, saneamento, educação e a saúde. 

Conversas de paz estavam sendo levadas adiante com a mediação dos Estados Unidos e do Egito, mas, na segunda semana de novembro, uma escalada de agressões entre as Forças de Defesa Israelenses e o Hamas congelou as tratativas de um possível cessar-fogo. Ainda há ameaças, dos dois lados, de que os ataques se intensifiquem nos próximos dias. 

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9- Sudão do Sul 

A guerra civil do Sudão do Sul começou em dezembro 2013, pouco mais de dois anos após sua independência. As principais forças envolvidas são as tribos Dinka e Nuer. O estopim para o conflito foi a briga política entre os principais representantes destas tribos: o presidente do país, Salva Kiir, apoiado pelos Dinka, e o vice-presidente, Riek Machar, apoiado pelos Nuer. Kiir acusa Machar de ter tentado um golpe de estado, enquanto Machar nega e alega que a guerra começou depois que guardas presidenciais da tribo dinka tentaram desarmar os guardas nuer. 

A briga política entre os dois grupos fez ressurgir desentendimentos que haviam sido varridos para debaixo do tapete quando o acordo de independência do Sudão do Sul estava sendo finalizado, em 2005. 

Cinco anos de intensa guerra civil dizimaram a economia do Sudão do Sul e mataram cerca de 380 mil pessoas. Um terço da população está deslocada, uma em cada duas pessoas passa fome e centenas de milhares correm o risco de morrer de fome no país mais novo do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). 

Partes do Sudão do Sul - incluindo as principais áreas agrícolas - estão quase vazias porque pessoas fugiram buscando segurança ou comida. Segundo a ONU, mesmo quando há comida disponível, os preços são altos demais - uma única refeição custa duas vezes a renda diária nacional, segundo um relatório divulgado este ano. Isso está ameaçando piorar uma crise que resultou no maior êxodo de refugiados da África desde o genocídio de Ruanda nos anos 1990.

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