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As unidades habitacionais “Better Shelter” foram instaladas pela primeira vez na América Latina em Roraima. Residências já são utilizadas pelo ACNUR em operações humanitárias no resto do mundo | Reynesson Damasceno/ACNUR
As unidades habitacionais “Better Shelter” foram instaladas pela primeira vez na América Latina em Roraima. Residências já são utilizadas pelo ACNUR em operações humanitárias no resto do mundo| Foto: Reynesson Damasceno/ACNUR

O Exército brasileiro recorreu à fabricante sueca de móveis Ikea, conhecida pelas megalojas com produtos que o consumidor monta por meio de instruções simples, para abrigar temporariamente os cerca de 500 venezuelanos que chegam diariamente a Roraima, fugidos da crise no país de Nicolás Maduro.

A US$ 900 (R$ 3.600) cada uma, as cabanas são feitas de poliuretano ultraleve, podem ser montadas em quatro horas e foram compradas pelo Acnur, braço de refugiados da ONU, para atender a imensa demanda mundial de refúgio. 

Projetadas na Suécia, porém, as barracas não foram tropicalizadas: no calor de mais de 30º C que faz estes dias em Boa Vista, é impossível ficar nelas durante o dia. Os ocupantes buscam as tendas de convivência espalhadas pelo abrigo. Uma delas, a maior, tem uma grande televisão.

Deitados em colchões na tenda mais próxima de sua casa, os cinco membros da família de José Navarro conversavam animadamente no final da manhã de terça (14). Eles vieram da cidade de El Tigre em junho e aguardam o processo de interiorização para outro estado brasileiro.

"Aqui já não tem mais emprego, tem muito venezuelano", diz Navarro. Enquanto espera a mudança, ele faz arepas – as populares panquecas de milho venezuelanas, comidas com acompanhamentos diversos, que vende a R$ 2 mais um suco. Seus clientes são sobretudo outros venezuelanos. 

Leia também: Ditadura de Maduro empurra venezuelanos para uma vida de riscos e sofrimento além das fronteiras do país

"Os brasileiros não estão acostumados", diz.

A mulher de Navarro, a cabeleireira Honoravis, não tem conseguido trabalho. "Há muita resistência aos venezuelanos em Boa Vista, porque alguns dos que chegaram primeiro se comportaram mal. Então, pagamos pela má impressão de uns poucos", diz.

Mas ela mantém o otimismo. 

Não quero voltar para casa, é impossível viver na Venezuela agora. Um salário mínimo não paga uma refeição.

No mês passado, o FMI (Fundo Monetário Internacional) projetou que a inflação no país deve chegar neste ano a 1.000.000%. Há desabastecimento de alimentos e remédios generalizado, e os hospitais não têm o mínimo para operar.

Vivendo no Brasil

Boa Vista concentra hoje nove dos dez campos de refugiados no estado, com cerca de 4.500 pessoas vivendo neles ao todo. Cada conjunto pode receber cerca de 500 pessoas.

Eles estão divididos em cinco perfis: famílias com filhos; casais sem filhos; homens solteiros; LGBT e índios. O mais recente, Rondon 1, foi inaugurado no final de julho, com as cabanas suecas, e está lotado.

Dois outros estão em construção (Rondon 2 e 3), com mais mais 216 casinhas em estoque. Nem todos os refugiados procuram essas estruturas, contudo os que têm emprego ou que trazem dinheiro ficam em casas ou hotéis na cidade.

Os campos são administrados pelo Acnur, em parceria com entidades humanitárias na gestão do dia a dia das vilas, e as barracas são construídas e mantidas pelo Exército brasileiro, que também distribui alimentos aos venezuelanos três vezes ao dia na operação de acolhida, complementar à de controle de fronteira.

Após o breve fechamento da fronteira a pedido de um juiz federal no dia 6, o fluxo de venezuelanos aumentou, segundo os que recebem os estrangeiros, possivelmente estimulado pelo temor de que a passagem possa ser interrompida novamente.

Desde o ano passado, estima-se que mais de 60 mil venezuelanos tenham fugido para o Brasil, dos quais mais da metade já deixou o país, segundo o governo. Para a Colômbia, que solicita à ONU um enviado especial para a crise, já foram mais de 1 milhão, e o fluxo agora se dirige ao também vizinho Equador.

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