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Polícia Metropolitana de Washington DC e o Serviço Secreto dos EUA investigam o local de um tiroteio no noroeste de Washington, em 22 de abril de 2022.
Polícia Metropolitana de Washington DC e o Serviço Secreto dos EUA investigam o local de um tiroteio no noroeste de Washington, em 22 de abril de 2022.| Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO

O aumento da violência urbana nos Estados Unidos está escancarado nos números: o país registra o maior número de mortos por armas em 25 anos. De acordo com um relatório publicado neste mês pelos Centros de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), em 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19, houve 19.350 homicídios por arma de fogo nos EUA.

O resultado é 35% maior do que em 2019. Também é o nível mais alto do último quarto de século. De acordo com a vice-diretora do CDC, Debra Houry, os números são "tragicamente um grave problema de saúde pública nos Estados Unidos".

O relatório não inclui dados de 2021, embora organizações como The Gun Violence Archive falem de um número mais elevado do que 2020: cerca de 20,6 mil mortes por armas de fogo no ano passado. E os exemplos de que a violência avança também em 2022 não param de aparecer nos jornais.

Violência toma conta dos espaços públicos

No último domingo (22), um tiroteio no metrô de Nova York terminou com um homem de 46 anos morto, depois que um suspeito disparou contra um trem que se aproximava de uma estação de metrô de Manhattan.

No começo deste mês, também no metrô de Nova York, no Brooklyn, dez pessoas foram baleadas e outras 13 sofreram com inalação de fumaça. Na ocasião, a polícia identificou o suspeito como um jovem negro e o prefeito de Nova York, Eric Adams, disse que o tiroteio foi um "um ato de violência sem sentido".

Também em maio, o mundo se chocou com a morte de 10 pessoas em um supermercado em Buffalo, cidade que fica no estado de Nova York e é comandada pelo democrata Byron Brown. O estabelecimento fica em um bairro habitado, na maioria, por negros. As vítimas, todas negras, foram assassinadas por um jovem branco de 18 anos, que fazia ofensas racistas.

No dia seguinte, uma pessoa morreu, quatro ficaram gravemente feridas e uma outra teve ferimentos leves em um ataque a tiros em uma igreja perto de Los Angeles, em Laguna Woods. Todas as vítimas são de origem taiwanesa. O suspeito de ter feito o ataque foi identificado pela polícia como David Chou, de 68 anos. De acordo com as investigações, o imigrante chinês foi movido por ódio contra o povo de Taiwan.

Analistas apontam fatores que podem ter agravado a situação no país: a pandemia de coronavírus, a crise econômica, e protestos contra racismo e a morte de George Floyd. Esse último episódio contribuiu para a diminuição do policiamento em cidades, especialmente nas comandadas por democratas. Por fim, isso pode justificar o fato de que, em diferentes levantamentos, cidades lideradas pelo Partido Democrata se encontram entre as mais violentas.

Movimentos levaram ao desinvestimento e ao desrepeito à polícia

George Floyd foi morto em maio de 2020, em Minneapolis, pelo policial Derek Chauvin, que se ajoelhou em seu pescoço durante uma abordagem. O crime mobilizou protestos no mundo inteiro, inclusive pedindo a diminuição do poder e do efetivo da polícia. Por isso, deputados e senadores democratas apresentaram, duas semanas depois do crime, um projeto de reforma da polícia dos Estados Unidos. Em seguida, cidades democratas, em sua maioria, diminuíram o orçamento destinado à polícia.

Rapidamente, o Conselho Municipal de Minneapolis aprovou o desinvestimento na segurança da cidade. Na época, o comunicado do órgão foi o seguinte: "Nós não sabemos como seria um futuro sem polícia, mas a nossa comunidade sabe". O democrata Bill de Blasio, ex-prefeito de Nova York, também cedeu à pressão dos movimentos sociais e anunciou que parte dos cerca de seis bilhões de dólares destinados ao policiamento da cidade seria revertida para projetos sociais.

"Desfinancie a polícia", diziam cartazes durante as manifestações na Flórida durante o aniversário da morte de George Floyd. Crédito:  EFE/EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH
"Desfinancie a polícia", diziam cartazes durante as manifestações na Flórida durante o aniversário da morte de George Floyd. Crédito: EFE/EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH

As manifestações que pediam paz foram feitas em meio a tiroteios perto de delegacias, lojas comerciais incendiadas e vandalismo. Na ocasião, o procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, afirmou: "parece que a violência é planejada, organizada e dirigida por grupos anarquistas e de extrema-esquerda, usando táticas da Antifa (um conglomerado de grupos de esquerda que se intitulam "antifascistas") para promover a violência".

É natural que crimes cometidos por alguns policiais favoreçam a bandeira da esquerda de enfraquecimento do poder policial. Mas poucas histórias mexeram tanto na estrutura de cidades como a morte de George Floyd, provavelmente por carregar, ao mesmo tempo, a bandeira antirracista.

Armamento cresceu entre jovens negros e imigrantes

Um estudo publicado pelo National Opinion Research Center, da Universidade de Chicago, indicou que um a cada cinco americanos compraram uma arma pela primeira vez durante a pandemia. Os dados apontam também que a maioria dos que agora têm posse de revólveres são jovens e negros. A parcela da população que é mais propensa a ser vítima de crimes violentos é justamente a que mais comete crimes.

Em um artigo publicado na Gazeta do Povo em 2020, repercutindo as manifestações contra a polícia americana após a morte de George Floyd, o pesquisador André Luzardo trouxe evidências de que a maior taxa de criminalidade entre os negros é o que melhor explica a maior taxa de prisão e vitimização policial desse grupo, e não o racismo. A partir das estatísticas do National Crime Victimization Survey (NCVS) e do Uniform Crime Report (UCR), ele mostrou que a representação de negros entre homicidas foi de 1,9 a 4,1 vezes maior do que na população em geral nos últimos anos.

Ao contrário do que pediam as manifestações antirracistas, então, enfraquecer a polícia pode ter sido um tiro no pé. Isso porque, conforme a análise de Luzardo, negros têm 1,13 mais chances de sofrerem crimes violentos do que brancos e 6 vezes mais chances de serem assassinados. Entre as vítimas negras, 93% foram mortas por outras pessoas negras.

Houve aumento de 56% no número de imigrantes presos 

A violência também aumentou entre imigrantes. Em outubro do ano passado, mais de 22 mil imigrantes estavam em centros de detenção da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês). Foi um aumento de 56% desde o início do governo de Biden, de acordo com estatísticas compiladas pela Câmara de Acesso a Registros Transacionais da Universidade de Syracuse.  Isso pode indicar que as propostas de políticas migratórias democratas também contribuíram para disparar a criminalidade no país.

Cidades democratas estão entre as mais violentas

De acordo com o ranking de crimes feito pelo FBI, a cidade que mais apresentou crimes violentos entre 2020 e 2021 foi Atlanta. Comandada pelo democrata Andre Dickens, a cidade teve 31 crimes violentos para cada 1.000 habitantes. Em segundo lugar, com uma taxa de 18 a cada mil pessoas, ficou Memphis, que tem como prefeito o também democrata Jim Strickland. Em terceiro lugar, com 16 crimes violentos a cada mil moradores ficou a Filadélfia, cidade que tem como líder o democrata Jim Kenney.

Já segundo a lista do Statista Research Department, especificamente sobre o ano de 2020, Memphis está na liderança, com 2.351 crimes a cada 100.000 habitantes. Em seguida vem Detroit, que é chefiada pelo democrata Mike Duggan, e tem uma proporção de 2.178 crimes violentos a cada 100.000 pessoas. St. Louis fica com o terceiro lugar, com pouco mais de 2 mil crimes violentos. No comando da cidade está a democrata Tishaura Jones.

Cidades seguem pautas nacionais

As pautas democratas nas cidades têm embasamento nas prioridades nacionais. A gestão Biden trouxe, em 2021, projetos de lei com profundo impacto em aspectos culturais e sociais do país. No que diz respeito à imigração, o presidente chegou ao cargo enviando ao Congresso um plano que previa a cidadania americana a 11 milhões de migrantes indocumentados. E, apesar do presidente americano ter dito, em 2020, que "a resposta é construir a confiança entre a polícia e as comunidades; a resposta não é cortar os fundos da polícia", desde que está no poder ele ressalta que prioriza combater o racismo estrutural, citando a reforma da polícia do país como um dos principais caminhos. O que os números mostram, no entanto, que o discurso dele não se reflete em bons números.

Desde meados de 2021, de acordo com uma pesquisa da Ipsos (mundial especialista em opinião pública), crimes se tornaram o principal motivo de preocupação dos americanos (32%), à frente do extremismo, da mudança climática ou da dívida, mais particularmente entre os democratas (39%). Além disso, os americanos afirmaram que esperam uma resposta do governo: 24% da população está insatisfeita hoje, contra apenas 5% um ano atrás.

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