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Cartelas de remédios
Cartelas de remédios| Foto: Pixabay

O coronavírus virou os Estados Unidos de cabeça para baixo. Em menos de três meses, o vírus matou mais de 80.000 americanos e destruiu mais de 30 milhões de empregos. Segundo o secretário de Estado Mike Pompeo, "enormes evidências" mostram que o vírus emergiu de um laboratório em Wuhan, na China – e não nos infames mercados que vendem animais vivos da cidade. Mas, embora poucos questionem que o vírus tenha origem em Wuhan, muitos não sabem que a cidade chinesa também é a fonte de outra epidemia mortal: as overdoses por fentanil nos Estados Unidos.

O fentanil, uma forma de opioide sintético, rapidamente se tornou a droga mais perigosa no país. Em 2018, a substância matou 31.897 pessoas nos Estados Unidos – mais que o dobro do número de qualquer outro narcótico. O composto químico é tão letal, de fato, que apenas dois miligramas – o suficiente para cobrir a barba de Lincoln em uma moeda de um centavo – podem ser fatais. Nos últimos cinco anos, o opioide devastou centenas de comunidades americanas, particularmente no nordeste e centro-oeste, onde as taxas de mortalidade por overdose dispararam.

"A maioria dos fentanil e novos opioides sintéticos nos mercados de rua dos EUA, assim como seus produtos químicos precursores, são originários da China, onde o sistema regulatório não policia efetivamente as expansivas indústrias farmacêuticas e químicas do país", conclui uma análise recente da Rand, uma organização de pesquisa sobre políticas públicas. Os fabricantes chineses exportam o medicamento de duas maneiras. Primeiro, eles enviam remessas diretamente para organizações criminosas americanas via Serviço Postal dos EUA, UPS e FedEx, usando a "dark web" para processar pedidos. Segundo, eles enviam produtos químicos de fentanil e precursores para cartéis de drogas no México, que depois contrabandeiam o produto final para os mercados americanos.

Na última década, Wuhan emergiu como sede global da produção de fentanil. Os fabricantes de produtos químicos e farmacêuticos da cidade chinesa ocultam a produção do medicamento em suas operações de fabricação maiores e lícitas, depois o enviam para o exterior usando embalagens deliberadamente enganosas, técnicas de ocultação e uma complexa rede de endereços de encaminhamento. De acordo com uma reportagem recente da ABC News, “grandes quantidades desses componentes de fentanil por correspondência podem ser atribuídos a uma única empresa subsidiada pelo estado em Wuhan”.

No início deste ano, quando Wuhan entrou em confinamento devido ao coronavírus, o mercado de drogas ilegais da América do Norte entrou em pânico. Os cartéis de drogas no México previam um grande aumento nos preços do fentanil e da metanfetamina; policiais nos EUA relataram uma escassez de drogas em Denver, Houston e Filadélfia. Ainda assim, a droga continua a matar. Mesmo em meio a pedidos de bloqueio do estado, traficantes de rua em lugares como o bairro de Tenderloin, em São Francisco, vestiram luvas e máscaras e continuaram a distribuir o fentanil fornecido pelos chineses aos viciados.

As evidências sugerem que a China é, na melhor das hipóteses, negligente e, na pior das hipóteses, age de propósito nessas duas situações. Pequim ignorou repetidas advertências sobre questões de segurança no Instituto de Virologia Wuhan e encobriu o que alguns observadores, incluindo Pompeo e o presidente Donald Trump, suspeitavam ter sido uma liberação acidental do vírus na população humana. Quanto às exportações de drogas, a liderança chinesa falhou consistentemente em regular o mercado ilícito de fentanil, recusou-se a reprimir os produtores e interferiu no trabalho dos inspetores do FDA (Food and Drug Administration, semelhante à Anvisa no Brasil) que esperavam investigar a produção farmacêutica.

Os próximos anos podem indicar um grande realinhamento no relacionamento sino-americano. As apostas não poderiam ser maiores: as duas nações têm trilhões em laços financeiros, além de vastas redes de aliados. O vírus e a epidemia de fentanil devem servir como lembretes sombrios para os formuladores de políticas americanos de que a postura correta dos EUA em relação à China - de maneira a atender nosso interesse nacional - deve ser uma prioridade.

*Christopher F. Rufo é editor colaborador do City Journal e diretor do Centro de Riqueza e Pobreza do Discovery Institute. Ele dirigiu quatro documentários para a PBS, incluindo seu novo filme, America Lost, que conta a história de três "cidades americanas esquecidas".

©2020 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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