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A baixa do PIB que beneficia desigualmente a população
| Foto: Pixabay

As análises sobre a economia brasileira têm se centrado no que é considerado o crescimento irrisório do PIB nos últimos dois anos. Há também os que lembram que os índices de aumento do PIB têm sido compatíveis com o crescimento da população. São constatações corretas quando levam em conta apenas os números, mas merecem uma reflexão mais profunda para que se dê a verdadeira dimensão da preocupante situação do país.

O mercado, por exemplo, diminuiu a expectativa do PIB pela 7.ª vez consecutiva para os anos de 2019 e 2020. O PIB deste ano, após mais uma queda, atinge o patamar de 1,45%, perdendo mais décimos em relação à última projeção. Para 2020, chegamos à marca de 2,2%. Claro, estamos falando de projeções e, dentro do possível, tudo pode mudar. Aprovações de reformas estruturais modificarão positivamente o cenário. A rejeição delas e uma nova crise política podem acabar por matar o nosso PIB de vez.

Aliás, temos de lembrar que o produto interno bruto, como o próprio nome revela, nos dá um quadro “bruto” da economia, ou seja, não leva em conta fatores de perda e depreciação que, quando incorporados, nos levam a um quadro bem mais preocupante para 2019, principalmente pelo desestímulo que representam para os investimentos.

Sem a reforma da Previdência não haverá recursos para os investimentos do Estado

Também é importante ressaltar a concentração de riqueza, que nos mostra de maneira clara quanto o “crescimento irrisório” tem beneficiado de maneira cada vez mais desigual a população. Quando falamos que o PIB cresceu 1,1% em 2018 é preciso sempre ter em vista que a ínfima parcela da população que detém a maior parte da renda convive com um crescimento bem maior, entre 3% e 5%, enquanto a imensa maioria vê sua renda cair (quando não desaparecer, com o aumento do desemprego). Quando a análise vai para esse lado, a constatação é que o país tem regredido, e não crescido (nem de maneira irrisória).

Ao ampliar a visão, portanto, temos um país que piora a cada ano, sem perspectivas de retomada de investimento privado nem público. E para que esse investimento volte é obrigatório que se faça a reforma da Previdência. É evidente que o governo gasta mais do que arrecada e não tem mais condições de aumentar os tributos. Portanto, reduzir gastos é a única saída para estancar a sangria das contas públicas e como a Previdência é a principal fonte de despesas governamentais, a reforma é mandatória e vai criar um cenário de confiança para os investidores.

Sem a reforma da Previdência não haverá recursos para os investimentos do Estado nem confiança para que os investidores privados voltem a colocar dinheiro no Brasil. Resultado: não se criam empregos, o PIB continuará a recuar para a maior parte da população e o governo não conseguirá pagar a dívida pública.

A reforma da previdência, no entanto, não mais fará todo o milagre da volta do crescimento do PIB. Pois o PIB é composto por pelo menos quatro grandes variáveis: (a) consumo, (b) gastos do governo, (c) investimentos e (d) balança comercial. Nenhum deles atualmente com expectativas positivas.

Leia também: O PIB em retração (editorial de 30 de maio de 2019)

Leia também: A queda do comércio exterior brasileiro no G20 (artigo de Robson Amorim, publicado em 31 de maio de 2019)

Os primeiros meses de governo mostram o quanto a equipe econômica perdeu capacidade de estimular o consumo, maior responsável pelo PIB. Isto porque, não há ações coordenadas para crescimento do emprego, que é o gerador de consumo. Em vez de ações, o governo prefere questionar metodologias.

Os gastos do governo permanecerão congelados até que a reforma traga dinheiro. Mas enquanto isso, o pouco recurso é gasto em salários de servidores, muito acima da média nacional. Salários que não geram tanto consumo como se fossem destinados a novos empregos. Obras paradas e contratações de serviços suspensas quase zeram o estímulo para o crescimento.

O investimento é outro fator de desalento. Não importa o debate rançoso e desgastado entre direita e esquerda: o investidor quer regras seguras e liberdade para investir. A esquerda não oferecia regras seguras. A direita não parece se importar com a voz das minorias. Mas o investidor da quarta geração, quer respeito e inclusão ativa das minorias. Discutir um mundo dicotômico, rosa/azul, esquerda/direita, Lula/Bolsonaro, não traz luz aos investidores. E não traz o dinheiro deles.

Para completar, a balança comercial também não irá contribuir consistentemente para o crescimento do PIB. Nossa pauta de exportações é de baixo valor agregado e a pouca manufatura que exportamos é destinada à Argentina. E ainda estamos em meio a batalhas tarifárias pelo mundo. Muito pouco para dar ânimo aos economistas.

Que o governo se apresse na aprovação da reforma previdenciária, mas que não se deixe enganar, ou que não nos engane, que isso será suficiente.

Fábio Astrauskas é economista e CEO da consultoria Siegen. Possui especialização na recuperação de empresas em crise. É membro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). É membro fundador e conselheiro fiscal da TMA Brasil.

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