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Curitiba acaba de ser eleita a cidade mais sustentável do mundo pelo Globe Forum, da Suécia. Batendo cinco outras finalistas: Sidnei, na Austrália; Malmö, na Suécia; Murcia, na Espanha; Songpa, na Coreia do Sul; e Stargard Szczecinski, na Polônia; a capital do Paraná levou o Globe Award Sustainable City, de 2010. Para muitos curitibanos e brasileiros que hoje fazem turismo em Curitiba, atraídos pela sua fama, a cidade é considerada agradável de se viver, se comparada com o caos urbano de outros grandes centros do país emergente. Não podemos negar algumas conquistas. No entanto, o mais dificíl é mantê-las. Creio que agora a pergunta a se fazer é se realmente a cidade faz jus a esse prêmio máximo, diante de tantos problemas que hoje seus moradores enfrentam. Também há de se indagar, de que forma os membros do júri comprovaram o alcance dos critérios estabelecidos pelo concurso?

Acredito que grande parte do problema está na definição do que realmente significa a palavra "sustentável", hoje usada e abusada por governantes, marqueteiros e a mídia superficial. Estamos entrando na era de que tudo é sustentável, alguns exageram no pleonasmo e se declaram "ecossustentáveis"! A autopropaganda tomou conta do mercado onde o slogan é o que importa! Nada se comprova, mas tudo se afirma. Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, foi professor nesta tática: "uma mentira cem vezes dita torna-se verda­­de"! Os prefeitos que passaram pelo Centro Cí­­vico sempre souberam usar bem a mídia: ci­­dade do primeiro mundo, cidade ecológica, ci­­da­­de modelo, cidade social, foram alguns hi­­peradjetivos propagados aos quatro ventos! O tempo passou, e a sustentabilidade hoje é exigida com comprovação, sem verniz, sem holofotes e pose para a foto!

Analisando alguns critérios julgados pelo Globe Forum, fica ainda mais difícil acreditar que este prêmio foi justo. No regulamento se pede que a cidade deveria demonstrar que nos últimos dois anos, houve várias iniciativas para se poder alcançar um "futuro sustentável". Algo que é pouco visível, diante das medidas pouco eficazes que as duas últimas gestões municipais implantaram! Um critério tratava da "preservação de recursos naturais", o que em grande parte não é o caso de Curitiba, visto que temos todos nossos rios e lagos podres e contaminados. Certamente, não vejo o jurado analisando um tubo de ensaio para constatar ou não a presença de coliformes fecais nas águas curitibanas! Sem mencionar o quadro caótico que se encontra o problema da destinação de resíduos, já que assistimos por meses a uma indefinição do problema, com medidas paliativas e certamente pouco sustentáveis. A novela do aterro da Ca­­ximba está longe do ter um fim e o Rio Iguaçu continua recebendo chorume.

No critério de "infraestrutura técnica" e "mobilidade", Curitiba certamente não teve inovação nos últimos dez anos, e vemos um crescimento desproporcional da frota de automóveis, sendo considerada hoje a cidade com maior número de veículos per capita do Brasil. A contrapatida ainda não apareceu, pois não temos ciclovias para servir o trabalhador, um transporte público que não consegue atender ao aumento de passageiros e uma promessa de metrô que acabou no buraco dos custos! Já na meta, "Inovação e Inteligência Social", é difícil saber como nossos representantes conseguiram comprovar isso! Afinal, nosso próprio vice-prefeito, Luciano Ducci, que agora assume a cadeira oficial, declara que a famosa Linha Verde não foi feita como deveria ser, pois não havia recursos suficientes, se tornando um engarrafamento só, que não funciona! Somente para complementar, essa linha recentemente recebeu também um prêmio de transporte sustentável, dado por um instituto dos Estados Unidos. Os membros do comitê certamente a visitaram num do­­mingo, fora do horário de pico!

O que se pode concluir é que Curitiba ainda colhe dividendos de um passado glorioso, tendo um presente bastante duvidoso do ponto de vista da sustentabilidade e um futuro ainda mais incerto. Troféus são bonitos nas prateleiras, mas pouco contribuem para mudar a realidade!

Eloy F. Casagrande Jr., Ph.D., é coordenador do Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

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