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| Daniel Castellano/Gazeta do Povo
PLACA BORRACHARIA – CURITIBA, 11/11/2010 – IMAGEM DO DIA – Lingua Portuguesa: Placa de uma borracharia na esquina das ruas São Joaquim com Dr. Dario L. dos Santos no bairro Jardim Botanico – Foto: Daniel Castellano / AGP / Agência de notícias Gazeta do Povo| Foto: GAZETA

Em todas as manchetes dos jornais sobre corrupção, há uma que não aparece nem na capa nem no miolo, nem a Polícia Federal abriu-lhe um inquérito, nem houve passeatas e mobilizações populares contra ela. Mas sua presença é tal que ninguém poderia dizer que ela não existe ou que não sofreu suas consequências; trata-se da corrupção da linguagem brasileira.

Hoje em dia, graças à popularidade acadêmica do pensamento de Marcos Bagno, exigir o domínio da língua culta é preconceito. Traduzindo para a realidade, ter uma língua formal e universal que pode ser compreendida por todos os membros de uma comunidade (gigantesca, no caso da brasileira) e exigir que esta mesma língua seja estudada e aprendida por estes mesmos membros é preconceito, discriminação. Se você tem dúvidas dos perigos desse pensamento, sugiro ler a crítica de José Maria e Silva feita no jornal Opção .

Não há nada mais próprio do ser humano que a capacidade de falar e de escrever articuladamente

A confusão gerada pelo livro Preconceito linguístico, de Bagno, parece ter paralisado a mente dos professores, seja pelo trabalho exaustivo em desmentir erro por erro, seja pelo medo de ser taxado como um maldito preconceituoso-capitalista-opressor-patriarcal-sei lá o quê mais. O fato é que é tese “pegou”.

Entretanto, não há nada mais próprio do ser humano que a capacidade de falar e de escrever articuladamente. Com a palavra podemos fazer juramentos num tribunal, procurar a verdade sobre as coisas, escrever uma bela história, ensinar, cantar, ou simplesmente convidar a namorada a ir ao cinema. Quanto mais dominarmos os instrumentos de expressão do nosso idioma, mais capacidade de ação ganhamos.

Mas não só isso: uma língua bem desenvolvida é capaz de captar sutilezas de pensamento e inserir o homem numa comunidade de valores que o transcende e, por isso mesmo, enraíza-o na cultura à qual pertence. Mas tudo isso é negado ao aluno de hoje em troca de um afago barato: que falar e escrever errado não é ruim, que ele pode bocejar na carteira, botar um fone de ouvido com seu rap preferido e cruzar os braços. No fim do ano, será empurrado para a série seguinte. Quem ousará discriminar o aluno?

Leia também:MEC não quer ensinar (artigo de Carlos Alberto Di Franco, publicado em 30 de maio de 2011)

Leia também:Cultura da mediocridade (editorial de 15 de agosto de 2013)

Depois, esse mesmo aluno terá dificuldades imensas no trabalho, não conseguirá produzir um e-mail de modo satisfatório, nem compreenderá algum quando o receber; tampouco terá a consciência de que um aviso na parede é algo para ser lido e cumprido. O jovem, ainda, sem literatura, sair-se-á frustrado com a vida, com a falta de perspectivas, de ideais.

O “preconceito linguístico” é só mais uma das ideias tortas que contribuem para nosso empobrecimento cultural e social. Quando, afinal, a academia vai parar de incensá-la e começar a se preocupar de verdade com o ensino?

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