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A secularização é o fenômeno em que os valores religiosos são substituídos por elementos desvinculados do transcendente, por exemplo: no Natal o Menino Jesus com seu presépio é substituído pelo Papai Noel com seus presentes. O Natal, que para os cristãos é profundamente a celebração da memória do mistério da Encarnação – Jesus Cristo nasce de Maria –, no contexto da secularização torna-se uma festa social com trocas de presentes materiais. Se o Natal para os cristãos é um Deus presente na vida das pessoas, para o mundo secularizado Natal é o consumo de bens simplesmente materiais.

Com a crescente secularização, o original e verdadeiro sentido do Natal está sendo substituído pelo consumo, com uma mudança radical de paradigmas de pensamento e de linguagem, negando os valores cristãos. Até se pode dizer que é uma busca em silenciar a voz religiosa sobre o nascimento do Menino Deus e supervalorizar a dimensão da realização humana através do consumo material. Nesse processo consumista, temos a dramática situação do humano afastando a pessoa de si própria e do divino, e tornando-a dependente do que a moda oferece.

A dependência, na atualidade, não se resume apenas ao consumo de drogas, mas toma diversas faces. Estudos psicológicos nos Estados Unidos afirmam que uma parcela da sociedade norte-americana sofre da shopping addiction, isto é, dependência de compras. Na busca desenfreada da felicidade, as compras tornam-se uma dependência. Passadas as compras, volta a falta de significado na vida da pessoa dependente, com um vazio existencial. Pois o real sentido da vida não é o consumo; o profundo sentido existencial está na convivência fraterna, nos relacionamentos saudáveis, na relação com o divino e no espírito de solidariedade.

Inconsciente da secularização do Natal, inclusive em algumas comunidades cristãs, a ornamentação natalina ajustada aos fins comerciais tende até a invadir os espaços celebrativos do nascimento de Jesus.

No entanto, com o carisma do papa Francisco, os cristãos tendem a recuperar o sentido original do Natal do Senhor Jesus, que é o resgate do Mistério da Encarnação, onde Deus, no seu mais profundo ato de amor à humanidade, envia o seu Filho para nascer do ventre de Maria num estábulo. Ali não estavam artigos de moda e de consumo, mas sim o esplendor da simplicidade. "E Maria deu à luz seu filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou num presépio, porque não havia lugar para eles na hospedaria" (Lc 2, 7). Assim, Natal é a presença de Deus na vida das pessoas no sentido mais profundo, isto é: Deus se faz humano por amor gratuito à humanidade inteira.

Cabe aos cristãos insistir na beleza do significado original do Natal, que é Deus presente na vida das pessoas, e que a troca de presentes seja o reflexo de um Deus que por amor se faz presente na vida da pessoa humana. Os presentes materiais, nesta perspectiva, tornam-se a expressão da presença de amor de Deus – "Deus é amor; quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele" (1Jo 4, 16). Os presentes materiais não têm um fim em si mesmos, mas podem expressar o afeto fraterno ao próximo.

Se a secularização é um processo que vai negando a voz do religioso na sociedade contemporânea, por outro lado os cristãos devem expressar seus valores através de símbolos religiosos tradicionais como o presépio e outros. O presépio é um elemento muito encantador, pois revela a grandeza de um Deus que se faz pequeno e frágil no estábulo por amor à humanidade.

Joaquim Parron, padre missionário redentorista, é doutor em Ética Social pela The Catholic University of America (Washington, EUA).

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