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| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Por incrível que pareça, a caderneta de poupança ainda é o investimento preferido dos brasileiros. Um estudo recente da Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) que identificou o perfil do investidor brasileiro e os lugares onde ele escolhe aplicar mostrou que 88% deles ainda guardam dinheiro nela. Esta é a maior taxa já identificada pela Anbima.

Ainda de acordo com o estudo, 27% das pessoas que investem na poupança dizem que o fazem por facilidade e comodidade. Na maioria dos casos, quem tem uma conta poupança usa uma conta corrente vinculada a ela; assim, é possível programar uma reserva mensal ou fazer a transferência entre contas.

Mas a poupança não é a única a oferecer isso, o que nos leva a constatar que grande parte dos brasileiros se mantém presa a ela por causa de uma educação financeira precária, que deveria começar logo nos primeiros anos escolares. Primeiro, porque a cultura da poupança vai muito além de não saber investir: ela tem a ver com falta de planejamento, dificuldades em matemática e desconhecimento sobre a história da nossa própria economia.

Explico: de modo geral, o brasileiro possui muita dificuldade de planejar suas finanças e, por isso, não consegue nem mesmo poupar. Dados de um levantamento feito pelo Datafolha mostram que 65% dos brasileiros não economizam de olho no futuro. Como a população não aprende na escola como é importante se programar financeiramente para o futuro, ela tende a ser imediatista no consumo e gastar sempre mais do que ganha.

Outro problema é a dificuldade em fazer contas. Cerca de 70% dos estudantes que concluíram o ensino médio no país apresentaram resultados considerados insuficientes em Matemática. Os dados são do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Ministério da Educação (MEC). Isso é um problema, já que é fundamental saber calcular para enxergar o quanto estamos perdendo com valores aplicados na poupança frente a uma taxa Selic atual de 5,25% ao ano.

Peço atenção, ainda, para a história da economia brasileira, que deveria ser de conhecimento de todos. Nas últimas duas décadas, o Brasil teve uma moeda relativamente estável e inflação controlada, até abaixo dos dois dígitos. Contudo, quando fazemos uma retrospectiva para anos mais distantes, especificamente na década de 80, essa não era a situação do país, com a mudança de moedas e um período de inflação descontrolada. Essa incerteza assombra os brasileiros mais velhos até hoje, que transmitem a seus filhos e netos a cultura de investir na poupança por ser uma modalidade mais segura e conservadora, sem perceber que há modalidades com mesma segurança, liquidez e conservadorismo que rendem mais.

Como a população não aprende na escola como é importante se programar financeiramente para o futuro, ela tende a ser imediatista no consumo e gastar sempre mais do que ganha.

Todas essas questões não são exclusividade do brasileiro. Segundo o Banco Mundial, apenas 3,64% da população global economiza pensando no futuro. Os índices mais baixos do mundo são formados pela média na América Latina, de 10,6%; enquanto outros países emergentes, como México (20,85%), África do Sul (15,93%) e Rússia (14,56%), apresentam números melhores.

Tudo isso poderia ser melhorado se nos anos iniciais de estudo as crianças já tivessem acesso à educação financeira de qualidade. Se pudessem receber informações e entender minimamente como o mercado financeiro funciona, e se fossem estimuladas a praticar a matemática com exemplos reais de como ela pode afetar a nossa vida – e inclusive nos levar a outros patamares. Ainda que com ensinamentos superficiais, porém importantes, elas poderiam entender melhor a correlação entre liquidez, rentabilidade e risco e teriam mais condições de avaliar o que vale a pena ter em conta na hora de escolher um ativo.

Ter conhecimento sobre finanças, ser educado financeiramente e tomar decisões responsáveis sobre o próprio dinheiro é fundamental até mesmo para uma melhor qualidade de vida. Isso é, sem dúvidas, algo que não se deveria negar a ninguém. Ou melhor, que deveria ser oferecido para todos, como disciplina nos primeiros anos do ensino fundamental.

Samyr Castro é CEO do BankRio.

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