• Carregando...
 | /Pixabay
| Foto: /Pixabay

A violência generalizada que desfaz a estrutura familiar provocando desemprego e pobreza também conduz à violência do tráfico, do assalto, das balas perdidas. Penetra na escola e o professor vira vítima da violência sobre a escola. Mas há outra violência que é da própria escola contra os alunos, pela precariedade de instalações e equipamentos, que incentiva a reação violenta dos jovens.

A desadaptabilidade da escola aos tempos atuais faz com que o aluno não veja o professor como o condutor a uma vida melhor. A consciência dos alunos de que a escola não está sendo um instrumento de sua promoção social faz com que o professor não seja visto como construtor do seu futuro.

No Brasil, o profissional está diretamente ligado ao seu prestígio material identificado com o salário. Com baixa remuneração, o professor se diminui no imaginário da população e dos alunos; desprestigiado, sofre bullying e é candidato à vítima de violência moral e física.

A desadaptabilidade da escola aos tempos atuais faz com que o aluno não veja o professor como o condutor a uma vida melhor

A desconexão geracional é um fenômeno de quase todo profissional nos tempos de hoje, mas a situação é mais grave na escola porque o professor lida com crianças e adolescentes que estão mais sintonizados com os novos tempos e instrumentos do que os clientes já adultos de outros profissionais. Essa desconexão geral com estranhamento pode se transformar em violência.

A principal causa da violência é o mundo político que despreza a educação e o professor. Quando, às vezes, despertam para o problema da violência contra o professor, os dirigentes políticos decidem tratar o assunto como caso de polícia, de repressão.

Todas essas causas têm a ver com características da “mente brasileira” que jamais colocou educação como um valor central da sociedade, como o indicador maior de riqueza, de progresso, desprezando o elemento chave da geração de saber: o professor.

Leia também: O desafio da educação no governo Bolsonaro (artigo de Rubens F. Passos, publicado em 22 de novembro de 2018)

Leia também: Esperança para a educação brasileira: práticas simples e efetivas (artigo de Márcia Teixeira Sebastiani, publicado em 18 de agosto de 2018)

A retomada da disciplina é um ponto de partida, embora não suficiente, para quebrar o círculo vicioso da violência. E no atual quadro de indisciplina dificilmente os professores são capazes de romper com isso. É preciso assessoria técnica para entender as medidas necessárias, sem deixar de ser escola.

O uso de uniformes, a pontualidade do aluno e do professor, o respeito coletivo aos símbolos nacionais, a exigência do bom comportamento, com penalidade aos que desrespeitam o funcionamento escolar, são medidas disciplinadoras que certamente ajudarão a coibir a violência.

Leia também: Educação é outra história (artigo de Fausto Zamboni, publicado em 2 de agosto de 2018)

Leia também: A reforma do ensino básico e o futuro dos grupos de educação (artigo de Cesar Silva, publicado em 30 de julho de 2018)

No entanto, transformar as escolas civis em escolas militares – tal como ocorre no Distrito Federal - não é o caminho. Manter diálogo com assessores do meio militar, subordinados aos professores, psicólogos e psicopedagogos, pode trazer vantagens.

Para isso, é preciso que os professores entendam que eles serão os grandes beneficiados imediatos com o novo clima de respeito que será criado. E que compreendam também que a indisciplina, além de violência, é um gesto antidemocrático, porque desrespeita as instituições e as pessoas.

Cristovam Buarque é professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]