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| Foto: Jim Watson/AFP

O leitor médio que se informasse no ano passado pela maioria dos jornais – que não fossem a Gazeta do Povo – sobre a situação nos Estados Unidos teria três certezas. A primeira: Donald Trump não seria candidato à presidência. A segunda: Hillary Clinton ganharia as eleições com ampla margem. E a terceira: se, por algum capricho do destino, as duas primeiras previsões estivessem incorretas, a eleição de Trump significaria uma catástrofe sem precedentes para a economia americana.

O Washington Post alardeou, em junho de 2016, que, “segundo analistas”, Donald Trump seria “a maior de todas as ameaças à economia americana”. Outro “analista” dizia, em edição do Wall Street Journal naquele mesmo mês, que a “economia americana seria reduzida” pelo plano econômico de Donald Trump. Em outubro, a revista Fortune faria a previsão de que “Trump poderia custar aos EUA 11 milhões de empregos”. Isso sem contar, é claro, New York Times e CNN, que tratavam diariamente as propostas do candidato republicano como mais um sinal de sua evidente e incontestável demência clínica e que, portanto, nem sequer deveriam ser objeto de uma discussão séria.

Para dar ares científicos à aspiração ideológica, entrou em cena a “respeitável agência Moodys” (sic), emitindo um “relatório” (sic), em meados de 2016, com alertas de que “a presidência de Donald Trump prejudicaria significativamente a economia americana”. Sim, essa é a mesma empresa que endossou a política fiscal do PT, tendo sido a última das grandes agências de rating a retirar o selo de bom pagador do Brasil (já às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff) e que concedia grau de investimento ao falido governo do Rio de Janeiro até 2015.

Onde estão aqueles profetas do apocalipse de Wall Street?

Mas, com pouco mais de meio ano no cargo, Donald Trump parece não se cansar de contrariar as previsões de seus críticos. Não só o cataclisma econômico não veio, como seus números até o momento são impressionantes. O índice de desemprego caiu ao menor número dos últimos 10 anos, a patamares anteriores aos da crise de 2007: impressionantes 4,4%. Estima-se que apenas neste ano já foram criadas mais de 1 milhão de novas vagas de trabalho, acompanhadas de um crescimento de 2,5% nos salários médios dos trabalhadores.

Parte desse desempenho vem dos bons resultados na indústria. A produção industrial cresceu 4,7% no segundo trimestre, o melhor resultado do setor desde 2014. No acumulado dos últimos 12 meses, o crescimento foi de 2%, comparados a uma queda de 0,8% no período anterior. Apenas nos setores de manufatura, mineração e na construção civil estima-se que mais de 160 mil novas vagas de trabalho tenham sido criadas de janeiro a junho.

O mercado financeiro – grande financiador da campanha de Hillary – também não tem nada a reclamar. Desde as eleições, os índices das principais bolsas atingiram seus recordes históricos. A Nasdaq teve alta de 21,5% desde então, enquanto o Dow Jones subiu 18% e o índice S&P 500 escalou 14,9%. Onde estão aqueles profetas do apocalipse de Wall Street, mesmo?

Os planos de Trump para o futuro não são modestos. Sua meta para o crescimento econômico neste ano é de 3%, algo que não ocorre nos EUA desde o governo de George W. Bush, em 2005. É um número ambicioso, sem dúvida, que em última instância dependerá da aprovação de uma gigantesca proposta de corte de impostos e reforma tributária enviados pelo presidente ao Congresso em abril. Segundo o projeto, as alíquotas máximas de impostos das pessoas físicas cairiam dos atuais 40% para 25% e, das pessoas jurídicas, de 35% para 15% – os níveis mais baixos desde o governo do republicano Ronald Reagan, durante o qual os EUA viveram expressivo crescimento.

Leia também:Mitos ingênuos sobre Trump (artigo de José Pio Martins, publicado em 3 de fevereiro de 2017)

Leia também:Para onde Trump quer levar o mundo? (artigo de Jorge Mortean, publicado em 16 de junho de 2017)

O crescimento agressivo, aliás, tem ainda um papel importante em outra difícil promessa de campanha: a de zerar o déficit fiscal do governo americano até 2027 e interromper a trajetória alucinante de endividamento herdada de Barack Obama, que conseguiu a proeza de duplicar a dívida pública do país em seus oito anos de mandato. A tarefa se torna ainda mais complexa diante da expansão dos gastos em defesa e de um ousado programa de obras de infraestrutura também prometidos por Trump, além da dificuldade, até o momento, da revogação do ultradeficitário programa de saúde, o “Obamacare”, emperrado no Congresso pelas dificuldades de entendimento dentro do próprio partido do presidente.

E, como se não bastassem todos estes trabalhos hercúleos, Donald Trump tem de realizá-los enquanto lida com a mídia mais hostil a um presidente em toda a história americana. Além de uma insistente cobertura de conexões imaginárias da Casa Branca com a Rússia que já beira o ridículo, qualquer passo, discurso ou medida do presidente é acompanhado das mesmíssimas saraivadas de críticas, terrorismos e prognósticos apocalípticos que dominaram a campanha eleitoral. Mas, se qualquer homem comum talvez externasse algum abatimento diante de tantos desafios, Trump mais uma vez dá demonstrações de que não é um homem comum.

Paulo Figueiredo Filho é economista e empresário.
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